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segunda-feira, 19 de abril de 2021

 


14.3 Parentesco corporal e espiritual

 

         Os laços de sangue não estabelecem necessariamente vínculos entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito do seu filho. Ele nada mais lhe fornece que o envoltório corporal; mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.

            Os Espíritos que  encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são o mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode  acontecer também que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova.

         Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após sua encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue. Eles podem atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como se vê todos os dias. Problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela reencarnação (cap. 4, it. 13).

         Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras são duráveis, fortalecem-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas são frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e frequentemente se dissolvem moralmente já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: "Eis minha mãe e meus irmãos", isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois quem fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe."

            A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de Marcos, desde que eles se propunham a apoderar-se dele, sob o pretexto de que perdera o juízo. Avisado de que haviam chegado, e conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se aos discípulos, em sentido espiritual: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos". Sua mãe os acompanhava, e Jesus generalizou o ensino, o que absolutamente não implica que ele pretendesse que sua mãe, segundo o corpo, nada lhe significasse, segundo o Espírito, nem que só lhe merecia indiferença. Sua conduta, noutras circunstâncias, provou suficientemente o contrário.

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