EM DIA COM O MACHADO 373:
teoria da
significância (Jó)
No direito, existe
uma norma baseada na “teoria da insignificância”. Pois falar-vos-ei hoje, caros
leitores, do novo princípio criado por mim: a “teoria da significância”.
Há pessoas que se
arrogam o direito de ser “palmatória do mundo”; suas palavras, e não sei se ações,
são pautadas pelo “politicamente correto”. São tão “corretas” quanto
pretensiosas. Não enxergam o próprio umbigo, mas, como os fariseus da época de
Jesus, colocam fardos pesados nos ombros alheios, aos quais nem ao menos com um
dedo ousam tocar, como Ele disse.
Tais pessoas,
autointituladas éticas, como demonstração de seu espírito humanitário, disparam
frases de efeito em relação ao que entendem por correto. Uma delas, que admiro muito,
após sua palestra, assistida ao vivo por
centenas de pessoas, filmada e disponibilizada ao público na internet,
afirmou isto: “Uma senhora perguntou-me se eu não levara meus livros para vendê-los
após minha palestra. Disse-lhe que não era comerciante. Ela respondeu-me que
não exigia nota fiscal. Então indaguei-lhe se ouvira meu discurso”.
Esse douto cidadão
falara antes sobre nossas pequenas faltas, que nos levam à prática dos grandes
crimes, quando somos movidos pela ambição e encontramos oportunidade de
praticá-los. Isso realmente é contagiante, quando ouvimos de alguém que, em
público, cativa pelos altos conhecimentos e elevados conceitos morais. No
entanto, restam algumas dúvidas. Sua palestra foi gratuita? Se foi cobrada, a
instituição que promoveu a cobrança pagou os tributos ao governo? Naturalmente,
ele terá assinado recibo sobre seus justos proventos, caso fora remunerado.
Guardou-os cuidadosamente para declaração anual de rendimentos à Receita
Federal?
Ah, sim, os livros.
É fato que não os levou consigo, porém ele os anunciou. Pode isso? Esses
anúncios estão isentos de taxas? E seu lançamento? Estava conforme as normas
legais? O evento cultural foi financiado pela Lei Rouanet, criada para
incentivar os pequenos agentes culturais? Se sim, a aplicação da lei ao caso
específico foi justa? E, assim por diante, chegaremos à conclusão de que
honestidade não é coisa tão fácil, na prática, como o é no discurso.
Quando fui
consultor do quadro efetivo da Câmara Legislativa do Distrito Federal, trabalhei
com profundo conhecedor de economia. Ele era o principal administrador da Casa.
Vez por outra, ouvia-o dizer que, na política, impera a demagogia. Em toda a
parte...
Quando ouço os
discursos peripatéticos de alguns políticos, em prol da melhoria da educação,
da saúde e da segurança pública, imagino que, se todos os políticos brasileiros
abrissem mão da metade de seus proventos (e, ainda assim, viveriam
nababescamente), já daria para resolver os problemas citados acima em nossa
nação continental. Seria o “sacrifício” de alguns milhares de privilegiados em
prol de milhões de vilipendiados em seus direitos.
Atualmente, no
Brasil, calcula-se em mais de treze milhões o número de pessoas desempregadas.
Então, pergunto: o que é feito dos tributos altíssimos cobrados do nosso povo?
E dos bilhões desviados pela corrupção endêmica iniciada nos pequenos
municípios, por falta de fiscalização eficiente?
Então, amigo leitor, por uma questão
de humanidade real, não se pode considerar crime a atividade de pessoas
simples, que nada mais possuem do que sua criatividade e esforço próprio para
adquirir seus meios de sobrevivência. É o caso desses vendedores ambulantes que
vendem nos bares, nos semáforos, nos parques e noutros locais públicos doces,
frutas e objetos de utilidade doméstica sem prejuízo considerável para o
comércio local.
Isso não é desonestidade, tampouco
roubo. É questão de sobrevivência.
É nisso que está
minha teoria: a da significância. Ela considera justo obter meios básicos de
subsistência, por milhares de cidadãos, ignorados por nossos governantes, na
defesa da própria vida, direito fundamental exarado na Lex Magna brasileira.
Quando os governos
combaterem a corrupção que se inicia nos pequenos municípios, exigindo
prestação de conta de cada centavo do erário destinado a um serviço ou bem
público; quando cada gestor for responsabilizado por obra inacabada em sua
administração, como, aliás, observamos na cidade goiana esburacada, que
visitamos semanalmente, certamente não haverá mais necessidade de tanta gente
humilde trabalhar nessas condições.
Nesse dia, nossas crianças e jovens
terão excelentes escolas públicas e particulares. Nossos professores terão
formação e salários condizentes com sua profissão. Os hospitais públicos
estarão à altura dos particulares. Os cidadãos poderão sair de seus lares com a
certeza de voltarem vivos. Nossas pequenas cidades serão asfaltadas, saneadas
e não “sacaneadas”. Nossos eletricistas, pedreiros, marceneiros, pintores de
paredes, auxiliares dos lares serão tratados e remunerados dignamente; e não
mais estaremos reféns de ninguém, pois não mais haverá miséria em nosso país.
Isso, por enquanto, ainda é uma
utopia. Mas se cada cidadão e cidadã
influenciador das massas optar por deixar de lado sua ambição pelo
poder, sua demagogia e se unir em prol de um Brasil ético, com certeza, em
breve a famosa “Lei de Gérson” deixará de existir em nosso país.
Com o grande avanço
dos meios de comunicação, chegou a hora do povo cobrar de seus prefeitos e
vereadores, deputados e senadores o cumprimento das suas promessas de campanha.
Significante é,
pois, exigir-se de nossos políticos ações efetivas para o atendimento aos
direitos e garantias fundamentais do cidadão, previstos no artigo 5º da Constituição
brasileira, tais como “a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Significante é o
direito popular de lutar dignamente pelo cumprimento do que, até então, tem
sido letra morta em nossa Carta Magna: direito à habitação, ao trabalho,
à saúde, ao estudo, à cultura, ao lazer...
Significante é
preservar os costumes da família brasileira, pautados pelas normas cristãs e
éticas.
Significante é
aplicar e prestar conta, honestamente, de cada centavo do erário na realização
de políticas públicas, saneamento básico, segurança, educação de qualidade etc.
Significante é
combater diuturnamente a corrupção endêmica e epidêmica em nosso país, tanto
quanto as doenças mortais.
E... fora com os
demagogos!
Isso também é significante.
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