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quinta-feira, 20 de junho de 2019

Cont. trad. livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (por Jorge Leite de Oliveira)  

Cap. 4 Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo



Aqueles do seu povo que foram mortos viverão novamente. Aqueles que estavam mortos em meio a mim ressuscitarão. Despertem do seu sono e louvem a Deus, vocês que habitam no pó, porque o orvalho que cai sobre vocês é um orvalho de luz, e porque vocês arruinarão a Terra e o reino dos gigantes (Isaías, 26: 19).  

Esta passagem de Isaías é também bastante explícita: “Aqueles do seu povo que foram mortos viverão novamente”. Se o profeta tivesse querido falar da vida espiritual, se houvesse pretendido dizer que aqueles que tinham sido executados não estavam mortos em espírito, teria dito: "ainda vivem", e não: "viverão novamente". No sentido espiritual, essas palavras seriam um absurdo, porque implicariam uma interrupção na vida da alma. No sentido de regeneração moral, seriam a negação das penas eternas, porque estabelecem o princípio de que todos os mortos reviverão.

Quando o homem morre uma vez, e seu corpo, separado do espírito, é consumido, em que se torna ele? Tendo o homem morrido uma vez, poderia ele reviver? Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de minha vida, estou esperando que chegue minha mutação (Jó, 14: 10-14, tradução de Sacy).

"Quando o homem morre, perde toda a sua força e expira; depois, onde está ele? Se o homem morre, tornará a viver? Esperarei todos os dias de meu combate, até que chegue minha transformação." (Id. tradução protestante de Osterwald).
"Quando o homem está morto, vive sempre; findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente." (Id. versão da Igreja grega).
O princípio da pluralidade das existências está claramente expresso nessas três versões. Não se pode supor que Jó quisesse falar da regeneração pela água do batismo, que ele certamente não conhecia. "Tendo o homem morrido uma vez, poderia ele reviver?"
A ideia de morrer uma vez e reviver implica a de morrer e reviver muitas vezes. A versão da Igreja grega é ainda mais explícita, se possível: "Findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente". Quer dizer: eu voltarei à existência terrena. Isto é tão claro como se alguém dissesse: "Saio de casa, mas a ela retornarei".
"Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de minha vida, estou esperando que chegue a minha mutação". Jó quer falar evidentemente, da luta que sustenta contra as misérias da vida. Ele espera a sua mutação, ou seja, ele se resigna. Na versão grega, expressão "esperarei", parece antes aplicar-se à nova existência: "Findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente". Jó parece colocar-se, após a morte, num intervalo que separa uma existência de outra e dizer que ali aguardará o seu retorno.
Não é, pois, duvidoso que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação fosse uma das crenças fundamentais do judeus que é confirmado por Jesus e pelos profetas, de maneira formal. Donde se segue que negar a reencarnação é renegar as palavras de Cristo. Suas palavras, um dia, constituirão autoridade sobre este ponto, como sobre muitos outros, quando forem meditadas sem partidarismo.
Mas a essa autoridade, do ponto de vista religioso, virá juntar-se, do ponto de vista filosófico, a das provas que resultam da observação dos fatos. Quando dos efeitos remontamos às causas, a reencarnação aparece como uma necessidade absoluta, uma condição inerente à humanidade, em uma palavra, como uma lei da natureza. Ela se revela, pelos seus resultados, de maneira por assim dizer material, como o motor oculto se revela pelo movimento. Somente ela pode dizer ao homem de onde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as injustiças que a vida apresenta.[1]
Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, a maior parte das máximas do Evangelho são ininteligíveis. Por isso deram origem a tantas interpretações contraditórias. Esse princípio é a chave que lhes deve restituir o verdadeiro sentido.



[1] Nota de Kardec: Veja-se, para os desenvolvimentos do dogma da reencarnação, O livro dos espíritos, cap. 4 e 5, O que é o espiritismo, cap. 2, por Allan Kardec. A pluralidade das existências, por Pezzani.

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