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sexta-feira, 7 de junho de 2019


O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. livre: continuação do cap. 4 - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo (JLO)


Estas palavras: Se um homem não renascer da água e do Espírito, foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. Mas o texto primitivo dizia simplesmente: Não renascer da água e do Espírito, enquanto, em algumas traduções, a expressão do Espírito foi substituída por do Santo Espírito, o que não corresponde mais ao mesmo pensamento. Esse ponto capital ressalta dos primeiros comentários feitos sobre o Evangelho, assim como um dia será constatado sem equívoco possível.[1]
Para compreender o sentido verdadeiro dessas palavras, é necessário igualmente atentar na significação do termo água, que ali não foi empregada em seu significado próprio.
Os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas eram muito imperfeitos, eles acreditavam que a Terra havia saído das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto. É assim que na Gênese está dito: "O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre as águas. Que o firmamento seja feito no meio das águas. Que as águas que estão sob o céu se reúnam num só lugar e que apareça o elemento árido. Que as águas produzam animais viventes que nadem na água e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento".
De acordo com essa crença, a água se tornou símbolo da natureza material, como o Espírito era o símbolo da natureza inteligente. Estas palavras: “Se o homem não renasce da água e do Espírito” ou "em água e em Espírito", significam, pois: "Se o homem não renasce com seu corpo e sua alma”. É nesse sentido que foram compreendidas desde o princípio.
Essa interpretação se justifica, ademais, por estas outras palavras: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito". Jesus faz aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. "O que é nascido da carne é carne" indica claramente que o corpo procede apenas do corpo, e que o Espírito é independente do corpo.
O Espírito sopra onde quer, e você ouve a sua voz, mas não sabe nem de onde ele vem nem para aonde ele vai, pode entender-se pelo Espírito de Deus, que dá a vida a quem Ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção: "mas não sabe nem de onde ele vem nem para aonde ele vai", significa que não se sabe o que foi nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, saberíamos de onde ele vem, pois conheceríamos o seu começo. Em todo caso, essa passagem é a consagração do princípio da preexistência da alma, e por conseguinte da pluralidade das existências.


[1] Nota de Allan Kardec: A tradução de Osterwald está conforme o texto primitivo. Ela contém: “não renasce da água e do Espírito”. A de Sacy diz: “do Santo Espírito”. A de Lamennais: “do Espírito Santo”.

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