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quinta-feira, 23 de julho de 2020


AKSAKOF E KARDEC: DOIS FILÓSOFOS A SERVIÇO DO ESPIRITISMO
Jorge Leite de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com

Blog Espirita Amigo: ALEXANDRE AKSAKOF - BIOGRAFIAAllan Kardec – Wikipédia, a enciclopédia livre


[O Espiritismo] foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe o meu repouso, a minha saúde, porque o futuro estava escrito diante de mim em letras irrecusáveis. Allan Kardec (2016, p. 329. Constituição do Espiritismo)

Segundo Godoy e Lucena (2019a), Alexandre Nicolaievitch Aksakof foi um famoso filósofo espírita que nasceu em Repievka (Rússia) em 27 de maio de 1832 e desencarnou em São Petersburgo, (atual cidade de Leningrado), em 4 de janeiro de 1903. Ele foi membro de tradicional família de nobres russos, doutor em Filosofia e conselheiro de Estado, no reinado de Alexandre III, Tzar da Rússia. Destacou-se na investigação e análise dos fenômenos espíritas de 1855 até o final do século XIX sendo, pois, contemporâneo de Allan Kardec nessas investigações e publicação da mais elevada seriedade.
Informa Machado (2019b) que Alexandre Aksakof foi filho de um filósofo religioso da nobreza russa chamado Nikolai T. Aksakov e cunhado do escritor Sergey Aksakov. Sua esposa chamava-se Sophie Aksakov. Estudou no Liceu Imperial de São Petersburgo e, após conclusão de seus estudos básicos, passou a estudar Filosofia e Religião, quando aprendeu o latim e o hebraico.
Impressionou-se muito com a obra do sueco místico Emmanuel Swedenborg, um dos precursores do Espiritismo, cujos conhecimentos abrangiam quase toda a cultura de sua época (ciência, filosofia, teologia etc.), que nasceu em 29 jan. 1688 e desencarnou em 29 mar. 1772. Com a expansão dos fenômenos mediúnicos em 1848, que se estendeu dos Estados Unidos para o mundo, Aksakof passou a estudar o Espiritismo com o mais vivo interesse, em especial, a partir de 1854.

Nesse período, recebeu uma obra de Beecher - Revista de Manifestações Espíritas - a primeira que sobre esse assunto chegou às suas mãos e, a partir daí, procurou colocar-se em dia com as publicações sobre tal assunto e seguir, passo a passo, o movimento espiritista na América e na Europa. Em 1854 chega às mãos de Aksakof a obra Revelações da Natureza Divina, de Andrew Jackson DAVIS, que o despertou para o mundo espiritual, de cuja realidade já tinha bastante conhecimento (MACHADO, 2019b).

Com o tempo, tornou-se doutor e lente da Academia de Leipzig, na Alemanha. Foi diretor do jornal alemão Psichische Studien e editou, em Moscou, em 1891, Rebus, a primeira revista russa de estudos psíquicos.
Seu nome de família era Aksakov. Quando esteve na Alemanha, alterou seu nome familiar para Aksakof a fim de acomodá-lo melhor à pronúncia alemã. Desde então, assim ficou conhecido.
Segundo, ainda, Machado (2019b) o início do trabalho espírita de Aksakof ocorreu em 1855. A partir desse ano, ele traduziu para a língua russa todas as obras espíritas de Allan Kardec, de Jackson Davis, do reverendo Robert Dale Owen, de Robert Hare, de John Wort Edmonds, do boletim da London Dialectical Society, dos trabalhos de William Crookes etc. Ainda na Alemanha, publicou, em Leipzig, O evangelho segundo Swedenborg, O racionalismo de Swedenborg e O livro de gênesis de acordo com Swedenborg.
Também em 1854, Allan Kardec tomou conhecimento das “mesas girantes e falantes”, mas somente iniciou suas observações sobre os fenômenos mediúnicos, em casa da Sra. Plainemaison, no ano seguinte. Aksakof estudaria, principalmente, os fenômenos físicos, como os de materializações e os de transporte, diferenciando, entretanto, o animismo do mediunismo, que, de modo mais abrangente, qualifica de Espiritismo (1978, v. I, p. 24). Kardec também observaria esses fatos, mas funda a Doutrina Espírita com base nas manifestações intelectuais deles decorrentes.
De início, os médiuns observados por Allan Kardec eram duas jovens da família Baudin (2016, p. 239); e os assuntos eram, em geral, frívolos: coisas relacionadas à vida material, ao futuro, enfim, nada sério. Mas Kardec, com base no método experimental, sem ideias preconcebidas, percebeu naqueles fenômenos e noutros, que viria a observar mais tarde, com a contribuição de muitos outros médiuns, “a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da humanidade, a solução” que procurara em toda a sua vida, pois, desde a época em que estudara no instituto de Pestalozzi, na Suíça, notara que as verdades espirituais estavam muito acima das querelas religiosas e das teorias materialistas de seu tempo.
Com décadas de estudos dos fenômenos magnéticos, o futuro Codificador do Espiritismo já estava sendo preparado pelo Cristo e seus emissários para o desempenho de uma obra que lhe exigiria todo um hercúleo esforço, todas as energias, extrema humildade e abnegação exemplar. Entretanto, os limites físicos desse gigante da Terceira Revelação Cristã, desencarnado em 1869, não impediriam que outros missionários encarnados, em sintonia perfeita com os Espíritos superiores, continuassem a obra que, como o próprio Kardec reconhecia, era antes dos Espíritos de elevada condição moral e intelectual, como Sócrates, Platão, João Evangelista, São Paulo, Santo Agostinho, São Luís,  Swedenborg, Fénelon, Cárita etc. sob a direção do Cristo.
Grandes nomes da Filosofia, da Ciência e das Artes continuariam a obra de Kardec em países como Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Itália, Rússia etc. Destacou-se nesse país Alexandre Aksakof, que em 1890 publicou a obra, em dois volumes: Animismo e Espiritismo, na qual refuta a teoria de animismo proposta pelo Filósofo Eduard Von Hartmann para explicar os fenômenos espíritas. Essa obra é considerada um clássico da literatura espírita científica, traduzido pelo Dr. C. S. e editada pela Federação Espírita Brasileira (FEB Editora).
Aksakof viajou para diversos países e realizou pesquisas científicas como observador e experimentador, com a participação dos mais renomados médiuns do século XIX. As inglesas Elisabeth d´Esperance e Florence Cook, a italiana Eusápia Paladino, o britânico (escocês) Daniel Dunglas Home etc. Com base em tais trabalhos é que publicou, em Leipzig, Alemanha, sua obra clássica espírita: Animismo e espiritismo.
O mesmo fez Kardec na divulgação da Doutrina Espírita decorrente do trabalho dos Espíritos, aos quais ele, humildemente, atribuía a autoria da obra, colocando-se apenas como sistematizador de seus ensinos.
Em 1892, Aksakof participou, em Milão, na Itália, da Comissão de Professores que deu seu parecer favorável à veracidade das manifestações mediúnicas, da qual participou o célebre professor criminalista italiano César Lombroso que, em carta enviada ao professor Ernesto Giolfi, se disse envergonhado por ter ridicularizado o fenômeno mediúnico antes de assistir a manifestação do Espírito de sua própria mãe. Fizeram parte dessa comissão de professores dez renomados doutores. Além de Aksakof e Lombroso, estiveram presentes e assinaram o documento Giovanni Schiaparélli, diretor do Observatório de Milão; Carl Du Prel, doutor em Filosofia de Munique; Charles Richet, professor da Faculdade de Medicina de Paris e diretor da Revista Científica, prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1913 etc.
No prefácio de Animismo e espiritismo, Aksakof cita dois erros dos pesquisadores dos fenômenos mediúnicos: o primeiro é o de atribuir todo o conjunto das manifestações aos Espíritos; o segundo é o dos adversários do Espiritismo que negam tudo, por não quererem saber de “espíritos”. A verdade está entre esses dois extremos.
Mais adiante, esclarece-nos que os “elementos múltiplos e dissociáveis que constituem a personalidade”, quando dissecados pela “experimentação psicológica” descobrirá a individualidade, núcleo transcendente das forças indissociáveis. Conclui Aksakof que apenas o Espiritismo é capaz de “provar a existência e a persistência metafísica do indivíduo”.
Para Aksakof, não pode existir mais alto objetivo em uma existência na Terra do que o de “provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existência fenomenal!” Podemos reforçar as palavras desse sábio com a convicção de grande número de pesquisadores do passado e do presente que dirão, após suas observações e experimentações, humilde e sem ideias preconcebidas, frases semelhantes a esta: “Não somente creio na imortalidade do Espírito, como sei que essa é a grande verdade que libertará o ser humano da ignorância e do mal”.
No prefácio do primeiro volume de sua obra, Animismo e Espiritismo, explica Aksakof que, no final de sua existência terrestre, ao se perguntar se teria valido a pena sacrificar “[...] uma existência inteira” em “tempo, trabalho e recursos ao estudo e propagação de todos esses fenômenos” (1978, p. 30), sempre é reconfortado com “a mesma resposta”:

[...] para o emprego de uma existência terrestre, não pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existência fenomenal! [...] E, se consegui, de minha parte, trazer ainda que uma só pedra à ereção do templo do Espírito — que a Humanidade, fiel à voz interior, edifica através dos séculos com tanto labor —, será para mim a única e mais alta recompensa a que posso aspirar (AKSAKOF, 1978, v. I, p. 31).

         E, no antepenúltimo parágrafo do segundo volume de sua importante obra para o estudioso espírita, esse grande filósofo, em 1890, diz o seguinte:
Quando os fatos espiríticos forem aceitos e estabelecidos em sua totalidade, a Filosofia deverá concluir deles, não pela existência de um mundo sobrenatural de indivíduos sobrenaturais, mas pela existência de um mundo de percepções transcendentes, pertencentes a uma forma de consciência transcendente, e as manifestações espíritas nada mais serão daí em diante que uma manifestação dessa forma de consciência nas condições de tempo e de espaço do mundo fenomenal (AKSAKOF, 1978, v. II, p. 403).

         Kardec assinaria embaixo, se já não estivesse no Mundo Espiritual desde 31 de março de 1869. Em Obras póstumas, 1ª parte, último parágrafo, foi citada a conclusão desse Filósofo estruturador da Doutrina Espírita que
A sobrevivência da alma após a morte do corpo está provada de maneira incontestável e até certo ponto palpável pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem as almas umas das outras, constituem a sua personalidade. Se as almas se confundissem num todo comum, suas qualidades seriam uniformes. (KARDEC, 2016, p. 40). [JLdO1] Obs.: corrigida a última frase após publicação.

Referências

AKSAKOF, Alexandre. Animismo e espiritismo. 3. ed. Trad. do Dr. C. S. Rio de Janeiro: FEB, 1978, v. I e II.

GODOY, Paulo Alves de; LUCENA, Antônio de S. Personagens do Espiritismo. Biografia de Alexandre Aksakof. Disponível em:  http://www. autoresespiritasclassicos.com. Acesso em 18.01.2019a.

MACHADO, Dirceu. Alexander Nicolaievitch Aksakov. Disponível em: http://www.correioespirita.org.br. Acesso em 18 jan. 2019b.

 

KARDEC, Allan. Obras póstumas. 2. ed. Trad. Evandro Noleto Bezerra da 1ª ed. francesa. Brasília: FEB, 2016.

 

(Publicado em Reformador, Fed. Espírita Brasileira – FEB, abr. 2019.)

 

 






 [JLdO1]Corrigido após publicado em abr. 2019.

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