AKSAKOF E
KARDEC: DOIS FILÓSOFOS A SERVIÇO DO ESPIRITISMO
Jorge Leite de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com


[O
Espiritismo] foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo,
sacrifiquei-lhe o meu repouso, a minha saúde, porque o futuro estava escrito
diante de mim em letras irrecusáveis.
Allan Kardec (2016, p. 329. Constituição do Espiritismo)
Segundo Godoy e Lucena
(2019a), Alexandre Nicolaievitch Aksakof foi um famoso filósofo espírita que nasceu
em Repievka (Rússia) em 27 de maio de 1832 e desencarnou em São Petersburgo,
(atual cidade de Leningrado), em 4 de janeiro de 1903. Ele foi membro de
tradicional família de nobres russos, doutor em Filosofia e conselheiro de
Estado, no reinado de Alexandre III, Tzar da Rússia. Destacou-se na
investigação e análise dos fenômenos espíritas de 1855 até o final do século
XIX sendo, pois, contemporâneo de Allan Kardec nessas investigações e
publicação da mais elevada seriedade.
Informa
Machado (2019b) que Alexandre Aksakof foi filho de um filósofo religioso da
nobreza russa chamado Nikolai
T. Aksakov e
cunhado do escritor Sergey Aksakov. Sua esposa chamava-se Sophie
Aksakov. Estudou no Liceu Imperial de São Petersburgo e, após conclusão de seus
estudos básicos, passou a estudar Filosofia e Religião, quando aprendeu o latim
e o hebraico.
Impressionou-se
muito com a obra do sueco místico Emmanuel Swedenborg, um dos precursores do
Espiritismo, cujos conhecimentos abrangiam quase toda a cultura de sua época
(ciência, filosofia, teologia etc.), que nasceu em 29 jan. 1688 e desencarnou
em 29 mar. 1772. Com a expansão dos fenômenos mediúnicos em 1848, que se
estendeu dos Estados Unidos para o mundo, Aksakof passou a estudar o
Espiritismo com o mais vivo interesse, em especial, a partir de 1854.
Nesse período, recebeu uma obra de
Beecher - Revista
de Manifestações Espíritas - a primeira que sobre esse assunto
chegou às suas mãos e, a partir daí, procurou colocar-se em dia com as
publicações sobre tal assunto e seguir, passo a passo, o movimento espiritista
na América e na Europa. Em 1854 chega às mãos de Aksakof a obra Revelações da Natureza Divina,
de Andrew Jackson DAVIS, que o despertou para o mundo espiritual, de cuja
realidade já tinha bastante conhecimento (MACHADO, 2019b).
Com o
tempo, tornou-se doutor e lente da Academia de Leipzig, na Alemanha. Foi
diretor do jornal alemão Psichische
Studien e editou, em Moscou, em 1891, Rebus,
a primeira revista russa de estudos psíquicos.
Seu nome
de família era Aksakov. Quando esteve na Alemanha, alterou seu nome familiar
para Aksakof a fim de acomodá-lo melhor à pronúncia alemã. Desde então, assim ficou
conhecido.
Segundo,
ainda, Machado (2019b) o início do trabalho espírita de Aksakof ocorreu em
1855. A partir desse ano, ele traduziu para a língua russa todas as obras espíritas
de Allan Kardec, de Jackson Davis, do reverendo Robert Dale Owen, de Robert
Hare, de John Wort Edmonds, do boletim da London Dialectical Society, dos
trabalhos de William Crookes etc. Ainda na Alemanha, publicou, em Leipzig, O evangelho segundo Swedenborg, O racionalismo de Swedenborg e O livro de gênesis de acordo com Swedenborg.
Também em
1854, Allan Kardec tomou conhecimento das “mesas girantes e falantes”, mas
somente iniciou suas observações sobre os fenômenos mediúnicos, em casa da Sra.
Plainemaison, no ano seguinte. Aksakof estudaria, principalmente, os fenômenos físicos,
como os de materializações e os de transporte, diferenciando, entretanto, o
animismo do mediunismo, que, de modo mais abrangente, qualifica de Espiritismo
(1978, v. I, p. 24). Kardec também observaria esses fatos, mas funda a Doutrina
Espírita com base nas manifestações intelectuais deles decorrentes.
De
início, os médiuns observados por Allan Kardec eram duas jovens da família
Baudin (2016, p. 239); e os assuntos eram, em geral, frívolos: coisas relacionadas
à vida material, ao futuro, enfim, nada sério. Mas Kardec, com base no método
experimental, sem ideias preconcebidas, percebeu naqueles fenômenos e noutros,
que viria a observar mais tarde, com a contribuição de muitos outros médiuns,
“a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da
humanidade, a solução” que procurara em toda a sua vida, pois, desde a época em
que estudara no instituto de Pestalozzi, na Suíça, notara que as verdades
espirituais estavam muito acima das querelas religiosas e das teorias
materialistas de seu tempo.
Com
décadas de estudos dos fenômenos magnéticos, o futuro Codificador do
Espiritismo já estava sendo preparado pelo Cristo e seus emissários para o
desempenho de uma obra que lhe exigiria todo um hercúleo esforço, todas as
energias, extrema humildade e abnegação exemplar. Entretanto, os limites
físicos desse gigante da Terceira Revelação Cristã, desencarnado em 1869, não
impediriam que outros missionários encarnados, em sintonia perfeita com os
Espíritos superiores, continuassem a obra que, como o próprio Kardec
reconhecia, era antes dos Espíritos de elevada condição moral e intelectual,
como Sócrates, Platão, João Evangelista, São Paulo, Santo Agostinho, São Luís, Swedenborg, Fénelon, Cárita etc. sob a direção
do Cristo.
Grandes
nomes da Filosofia, da Ciência e das Artes continuariam a obra de Kardec em
países como Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Itália, Rússia
etc. Destacou-se nesse país Alexandre Aksakof, que em 1890 publicou a obra, em
dois volumes: Animismo
e Espiritismo, na qual refuta a teoria de animismo proposta pelo Filósofo
Eduard Von Hartmann para explicar os fenômenos espíritas. Essa obra é
considerada um clássico da literatura espírita científica, traduzido
pelo Dr. C. S. e editada pela Federação Espírita Brasileira (FEB Editora).
Aksakof
viajou para diversos países e realizou pesquisas científicas como observador e
experimentador, com a participação dos mais renomados médiuns do século XIX. As
inglesas Elisabeth d´Esperance e Florence Cook, a italiana Eusápia Paladino, o
britânico (escocês) Daniel Dunglas Home etc. Com base em tais trabalhos é que
publicou, em Leipzig, Alemanha, sua obra clássica espírita: Animismo e espiritismo.
O mesmo
fez Kardec na divulgação da Doutrina Espírita decorrente do trabalho dos
Espíritos, aos quais ele, humildemente, atribuía a autoria da obra,
colocando-se apenas como sistematizador de seus ensinos.
Em 1892, Aksakof
participou, em Milão, na Itália, da Comissão
de Professores que deu seu parecer favorável à veracidade das manifestações
mediúnicas, da qual participou o célebre professor criminalista italiano César
Lombroso que, em carta enviada ao professor Ernesto Giolfi, se disse
envergonhado por ter ridicularizado o fenômeno mediúnico antes de assistir a
manifestação do Espírito de sua própria mãe. Fizeram parte dessa comissão de
professores dez renomados doutores. Além de Aksakof e Lombroso, estiveram
presentes e assinaram o documento Giovanni Schiaparélli, diretor do
Observatório de Milão; Carl Du Prel, doutor em Filosofia de Munique; Charles
Richet, professor da Faculdade de Medicina de Paris e diretor da Revista Científica, prêmio Nobel de Fisiologia
ou Medicina em 1913 etc.
No
prefácio de Animismo e espiritismo,
Aksakof cita dois erros dos pesquisadores dos fenômenos mediúnicos: o primeiro
é o de atribuir todo o conjunto das manifestações aos Espíritos; o segundo é o
dos adversários do Espiritismo que negam tudo, por não quererem saber de
“espíritos”. A verdade está entre esses dois extremos.
Mais
adiante, esclarece-nos que os “elementos múltiplos e dissociáveis que
constituem a personalidade”, quando dissecados pela “experimentação
psicológica” descobrirá a individualidade,
núcleo transcendente das forças indissociáveis. Conclui Aksakof que apenas o
Espiritismo é capaz de “provar a existência e a persistência metafísica do
indivíduo”.
Para
Aksakof, não pode existir mais alto objetivo em uma existência na Terra do que
o de “provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito
mais sublime do que a existência fenomenal!” Podemos reforçar as palavras desse
sábio com a convicção de grande número de pesquisadores do passado e do
presente que dirão, após suas observações e experimentações, humilde e sem
ideias preconcebidas, frases semelhantes a esta: “Não somente creio na
imortalidade do Espírito, como sei que essa é a grande verdade que libertará o
ser humano da ignorância e do mal”.
No
prefácio do primeiro volume de sua obra, Animismo
e Espiritismo, explica Aksakof que, no final de sua existência terrestre,
ao se perguntar se teria valido a pena sacrificar “[...] uma existência
inteira” em “tempo, trabalho e recursos ao estudo e propagação de todos esses
fenômenos” (1978, p. 30), sempre é reconfortado com “a mesma resposta”:
[...] para o emprego de uma existência
terrestre, não pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a
natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime
do que a existência fenomenal! [...] E, se consegui, de minha parte, trazer
ainda que uma só pedra à ereção do templo do Espírito — que a Humanidade, fiel
à voz interior, edifica através dos séculos com tanto labor —, será para mim a
única e mais alta recompensa a que posso aspirar (AKSAKOF, 1978, v. I, p. 31).
E,
no antepenúltimo parágrafo do segundo volume de sua importante obra para o
estudioso espírita, esse grande filósofo, em 1890, diz o seguinte:
Quando os fatos espiríticos forem
aceitos e estabelecidos em sua totalidade, a Filosofia deverá concluir deles,
não pela existência de um mundo sobrenatural de indivíduos sobrenaturais, mas
pela existência de um mundo de percepções transcendentes, pertencentes a uma
forma de consciência transcendente, e as manifestações espíritas nada mais serão daí em diante que uma manifestação dessa
forma de consciência nas condições de tempo e de espaço do mundo fenomenal
(AKSAKOF, 1978, v. II, p. 403).
Kardec
assinaria embaixo, se já não estivesse no Mundo Espiritual desde 31 de março de
1869. Em Obras póstumas, 1ª parte,
último parágrafo, foi citada a conclusão desse Filósofo estruturador da
Doutrina Espírita que
A sobrevivência da alma após a
morte do corpo está provada de maneira incontestável e até certo ponto palpável
pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e
pelas qualidades peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem as
almas umas das outras, constituem a sua personalidade. Se as almas se
confundissem num todo comum, suas qualidades seriam uniformes. (KARDEC,
2016, p. 40). [JLdO1] Obs.:
corrigida a última frase após publicação.
Referências
AKSAKOF,
Alexandre. Animismo e espiritismo. 3.
ed. Trad. do Dr. C. S. Rio de Janeiro: FEB, 1978, v. I e II.
GODOY, Paulo Alves
de; LUCENA, Antônio de S. Personagens do
Espiritismo. Biografia de Alexandre Aksakof. Disponível em: http://www.
autoresespiritasclassicos.com. Acesso em
18.01.2019a.
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