Em dia com o Machado 307 [jÓ}
— Boa noite, nobre Emmanuel. Estive refletindo nas palavras dos
espíritos a Kardec e, após ter ficado com uma
pulga atrás da orelha, resolvi
submeter o amigo a um novo pinga-fogo.
— Boa noite, Machado, que a paz, a tolerância e o amor excelsos do
Cristo permaneçam conosco. Não sou o Chico, para ser submetido a pinga-fogo, mas, em que posso servi-lo?
— É certo que os espíritos puros já passaram pela fieira das
reencarnações, por isso mesmo é que se purificaram; porém tais espíritos não
descem aos mundos inferiores em missão, conforme nos foi informado na questão
233 d’O Livro dos Espíritos?
— Com licença, iluminado Emmanuel, eu mesmo responderei ao
Machado. “Descer em missão” não significa reencarnar ali... Relembre a questão
113 da obra citada por nós na última crônica. Dissemos ali que os espíritos
puros, “Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam
a vida eterna no seio de Deus”.
— Mas, Jó, excepcionalmente, em missão, como é o caso de
Jesus...
— Missão, sim, reencarnação, não. Onde já se viu isso?
— Na questão 178 d’O Livro
dos Espíritos, meu caro Jó...
— Observe, Machado, que tais missões só são destinadas a
espíritos que “[...] aceitam alegres as tribulações
de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem”. Não é o caso do espírito puro de um Messias
como o Cristo, que já superou o estágio encarnatório até mesmo em mundos
felizes, como Júpiter, morada de espíritos purificados. Por que Jesus teria que
sofrer “tribulações” de uma existência encarnatória em mundo de “provas e
expiações” que Ele mesmo presidiu à formação? Releia a informação dada por Ele
aos que o consideravam ser descendente de Davi: “Como dizem os escribas que o
Cristo é Filho de Davi? [...] Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo
seu filho?” (Marcos, 12: 35- 37). E esta outra afirmação: “Vós sois de baixo,
eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (João, 8: 23). E
ainda esta: “Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse,
eu sou” (João, 8: 58). Leia mais as Escrituras Sagradas, estimado Assis...
— Caro Jó, vejo que você possui boas leituras das Escrituras. Kardec, entretanto, alega
que
Se as condições de
Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, Ele não teria
experimentado nem a dor, nem qualquer das necessidades do corpo. Supor que
assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que
escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele não passasse de aparência,
todos os atos de sua vida, a reiterada predição e sua morte, a cena dolorosa do
Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse o cálice dos
lábios, sua paixão, sua agonia, tudo, até o último brado, no momento de
entregar o Espírito, não teria sido mais que um vão simulacro para enganar com
relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa
comédia indigna de um homem simplesmente honesto, e, com mais forte razão,
indigna de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa-fé dos
seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse
sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez
de o elevarem. (A gênese, cap. XV,
item 66, trad. Evandro Noleto Bezerra. Federação Espírita Brasileira — FEB,
2013).
Logo abaixo, o Codificador conclui: “Como todo homem, Jesus
teve, pois, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos
fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a
existência” (idem). O que acha disso, Jó?
— Pois é, Machado, e ainda acusam a FEB de adulterar essa obra
para defender a teoria do corpo espiritual de Jesus...
Apenas os espíritos ainda no estado de erraticidade estão sujeitos a reencarnar, como vemos exposto na questão 226
do LE. Espíritos como o Cristo já
transcenderam as influências perispirituais mesmo de mundos celestes ou
divinos, como é o caso de Júpiter, citado acima. Não é mesmo, Emmanuel?
— Sim, Jó. Em obra ditada por mim ao irmão Chico Xavier, em
1940, na questão 286 (O Consolador), esclareço o seguinte:
O Calvário representa
o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se
verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar,
antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com
amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que
todos os discípulos edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão
remontar ao calvário de suas dores, no momento oportuno.
E, logo em seguida (q. 287), quando me foi perguntado sobre a
questão da necessidade do “máximo de dor material para o Mestre Divino”, a fim
de que este complementasse o sofrimento moral da cruz, respondi que “A dor material
é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores
espirituais”, porquanto
Homens do mundo que
morreram por uma ideia muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física,
sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal.
Imaginai, pois, o
Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-lo
na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa
apreciação restrita e singela.
De modo algum
poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados
comparativos entre o Senhor e o homem.
Em sua exemplificação
divina, faz-se mister considerar, antes de tudo, o seu amor, a sua humildade, a
sua renúncia por toda a Humanidade.
Examinados esses
fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã
ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não
constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?
Nesse particular, contudo,
as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente
admitem as realidades da vida de um adulto, quando se lhes fornece o
conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos.
— Obrigado, nobre Emmanuel, mas paremos por aqui, com seus
iluminados esclarecimentos, para não irmos além de duas páginas.
— Isso mesmo, irmão Machado, não cansemos demais a paciência de
nosso leitor. Que o Cristo de Deus nos guarde em sua paz.
— Na próxima semana, comentaremos mensagem do espírito Georges,
publicada na Revista Espírita, sobre
a situação dos espíritos puros, como nosso amado Mestre Jesus (Jó).
grande encontro para lições gigantescas. considero mais uma machadada perfeita. texto afiado e preciso.
ResponderExcluir