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segunda-feira, 19 de março de 2018



Em dia com o Machado 307 [jÓ}

— Boa noite, nobre Emmanuel. Estive refletindo nas palavras dos espíritos a Kardec e, após ter ficado com uma pulga atrás da orelha, resolvi submeter o amigo a um novo pinga-fogo.
— Boa noite, Machado, que a paz, a tolerância e o amor excelsos do Cristo permaneçam conosco. Não sou o Chico, para ser submetido a pinga-fogo, mas, em que posso servi-lo?
— É certo que os espíritos puros já passaram pela fieira das reencarnações, por isso mesmo é que se purificaram; porém tais espíritos não descem aos mundos inferiores em missão, conforme nos foi informado na questão 233 d’O Livro dos Espíritos?
— Com licença, iluminado Emmanuel, eu mesmo responderei ao Machado. “Descer em missão” não significa reencarnar ali... Relembre a questão 113 da obra citada por nós na última crônica. Dissemos ali que os espíritos puros, “Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus”.
— Mas, Jó, excepcionalmente, em missão, como é o caso de Jesus...
— Missão, sim, reencarnação, não. Onde já se viu isso?
— Na questão 178 d’O Livro dos Espíritos, meu caro Jó...
— Observe, Machado, que tais missões só são destinadas a espíritos que “[...] aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem”. Não é o caso do espírito puro de um Messias como o Cristo, que já superou o estágio encarnatório até mesmo em mundos felizes, como Júpiter, morada de espíritos purificados. Por que Jesus teria que sofrer “tribulações” de uma existência encarnatória em mundo de “provas e expiações” que Ele mesmo presidiu à formação? Releia a informação dada por Ele aos que o consideravam ser descendente de Davi: “Como dizem os escribas que o Cristo é Filho de Davi? [...] Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho?” (Marcos, 12: 35- 37). E esta outra afirmação: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (João, 8: 23). E ainda esta: “Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou” (João, 8: 58). Leia mais as Escrituras Sagradas, estimado Assis...
— Caro Jó, vejo que você possui boas leituras das Escrituras. Kardec, entretanto, alega que

Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, Ele não teria experimentado nem a dor, nem qualquer das necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele não passasse de aparência, todos os atos de sua vida, a reiterada predição e sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse o cálice dos lábios, sua paixão, sua agonia, tudo, até o último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria sido mais que um vão simulacro para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, e, com mais forte razão, indigna de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. (A gênese, cap. XV, item 66, trad. Evandro Noleto Bezerra. Federação Espírita Brasileira — FEB, 2013).

Logo abaixo, o Codificador conclui: “Como todo homem, Jesus teve, pois, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência” (idem). O que acha disso, Jó?
— Pois é, Machado, e ainda acusam a FEB de adulterar essa obra para defender a teoria do corpo espiritual de Jesus...
Apenas os espíritos ainda no estado de erraticidade estão sujeitos a reencarnar, como vemos exposto na questão 226 do LE. Espíritos como o Cristo já transcenderam as influências perispirituais mesmo de mundos celestes ou divinos, como é o caso de Júpiter, citado acima. Não é mesmo, Emmanuel?
— Sim, Jó. Em obra ditada por mim ao irmão Chico Xavier, em 1940, na questão 286 (O Consolador), esclareço o seguinte:

O Calvário representa o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remontar ao calvário de suas dores, no momento oportuno.

E, logo em seguida (q. 287), quando me foi perguntado sobre a questão da necessidade do “máximo de dor material para o Mestre Divino”, a fim de que este complementasse o sofrimento moral da cruz, respondi que “A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais”, porquanto

Homens do mundo que morreram por uma ideia muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal.
Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem.
Em sua exemplificação divina, faz-se mister considerar, antes de tudo, o seu amor, a sua humildade, a sua renúncia por toda a Humanidade.
Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?
Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto, quando se lhes fornece o conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos.

— Obrigado, nobre Emmanuel, mas paremos por aqui, com seus iluminados esclarecimentos, para não irmos além de duas páginas.
— Isso mesmo, irmão Machado, não cansemos demais a paciência de nosso leitor. Que o Cristo de Deus nos guarde em sua paz.
— Na próxima semana, comentaremos mensagem do espírito Georges, publicada na Revista Espírita, sobre a situação dos espíritos puros, como nosso amado Mestre Jesus (Jó).

Um comentário:

  1. grande encontro para lições gigantescas. considero mais uma machadada perfeita. texto afiado e preciso.

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