Páginas

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Em dia com o Machado (jlo - 4)

Bom-dia!
Não cantaram só as vozes cheias de charme de Chayene e das empreguetes nesta semana, o boi também mugiu que foi uma beleza.
Sim, o boi, esse ruminante que sustenta a humanidade terrestre há milênios e foi apascentado por Abraão, por Jacó e por Moisés. O boi, pai da picanha e do rosbife, criatura de Deus que sente, chora  e muge de dor, como qualquer de nós, é injusto que seja sacrificado em matadouro, sem direito à defesa de sua vida. Nós o comemos. É justo que o comentemos.
Um dia, o boi apareceu em cena e se pôs a ouvir atentamente, ao lado de Chayene, o canto das empreguetes. Estacou as patas, abanou a cauda e fixou, com um olhar percuciente, a opinião pública novelística.
A opinião pública adora o boi, desde que seja cozido com tempero e acompanhado de batata palha (ah, a palha, quanta saudade dá ao boi). Olhando o boi a fixá-las, as empreguetes indagaram a Chayene por que ele ali estava.
Chayene olhou para as empreguetes, as empreguetes olharam para o boi, o boi pensou na vaca, que ali não estava, a vaca olhou para o bezerro, o bezerro deu um pulo, quando viu que sua mãe seria transformada em bife, e resolveu falar, pois a verdade é santa na boca dos pequeninos.
A fala do bezerro foi transmitida pelo ipod dependurado no pescoço do boi e foi veiculada via Embratel aos quatro cantos do Brasil.
— Muuu! Espécimen humanóide! Li há dias, num site da internet, um discurso ecologista que fala sobre os danos ambientais resultantes da matança do boi para satisfazer a ânsia canibalística dos animais carnívoros que são vocês.
— Muuu! Agora não falta mais falar do interesse do boi, que igualmente deve pesar na balança comercial.
— Muuu! O interesse do matadouro é transformar o boi comercialmente em postas de carne, horror dos horrores, para serem vendidas e devoradas por vocês, sem o mínimo respeito aos nossos sentimentos. Vejam! agora somos defendidos, ainda que timidamente, por uma minoria de vegetarianos.
— Muuu! Mas ainda há os que defendem que o homem é carne e, como tal, deve ser alimentado pela carne. Credo quia absurdum!
E o bezerro desesperado culminou sua peroração aos mugidos:
- Muuu! Muuu!  Ao produtor interessa vendê-lo; ao consumidor, comprá-lo; ao intermediário, ganhar por fora; somente o boi não é consultado nessa negociata absurda e desumana. Afinal, não é só cachorro que é gente, boi também é gente!
— Muuu! E digo mais, como defensor dos bois, se eu visse uma criancinha com frio, fome e sede, abandonada na estrada erma, ao lado de um bezerro, e tivesse que escolher quem salvaria, não tenham dúvida, escolheria o bezerro.
— Muuu! Quer saber por quê? O Bezerro não tem livre-arbítrio para estar ali sofrendo, a criança tem, se não o dela, o de seus responsáveis. Falei, digo, mugi!
Ao que Chayene, cheia de charme, balançou a cabeça aprovativamente e pediu uma salva de palmas para o bezerro.  
Ouviu-se um estrondo... Mil gritos de viva o boi e palmas, palmas e mais palmas. Alguém teve a ideia de cantar a música “Admirável gado novo”, interpretada por Zé Ramalho, que foi acompanhada pelo mugir do boi emocionado e feliz, em seu belo estribilho:

Eh, ôô, vida de gado.
Povo marcado, ê
Povo feliz!

Por fim, após enxugar uma lágrima que teimava em cair de seu olho esquerdo, Chay convocou as empreguetes a participar de uma festa musical, em sua casa, para homenagear o boi, regada a vinho português e... churrasco de gato!

Um comentário:

  A mulher e o amor (Irmão Jó)   Dizem que quando Deus fez a mulher Ele estava namorando o ser Mais belo que criara nesta Terra, Que faz no ...