Em
dia com o Machado 235 (jlo)
Amigo
leitor, Manoel Bandeira afirmou sobre mim que “Machado poeta foi vítima do Machado
prosador”[1] e, com o rigor dos poetas
consagrados, somente elencou uma dúzia de poemas, nas Ocidentais, “que têm a mesma excelente qualidade que têm os seus melhores
contos e romances”. Senti-me por demais honrado com a opinião desse grande
poeta pernambucano, pois não esperava mais que cinco leitores para Memórias Póstumas de Brás Cubas e eis
que doze, nem mais, nem menos... doze poemas meus foram exaltados por ele, o
que me faz deduzir que ao menos uma dúzia de leitores consagraram minha
poesia. Aceito.
Um
poeta de meu tempo pouco reconhecido à época, mas que Roger Bastide, crítico
francês do século XX, considerou que era uma das três maiores penas do soneto
simbolista mundial, junto com Mallarmé e Stefan George, é o Cisne Negro Cruz e
Sousa.
Sinta
a sinfonia de seus versos, embriague-se com o ritmo de suas rimas e emocione-se
com a mensagem sublime de suas estrofes, amiga leitora, em mais de uma grosa de
sonetos, como este, intitulado Piedade:
O
coração de todo ser humano
Foi
concebido para ter piedade.
Para
olhar e sentir com caridade,
Ficar
mais doce o eterno desengano.
Para
da vida, em cada rude oceano
Arrojar,
através da imensidade,
Tábuas
de salvação, de suavidade,
De
consolo e de afeto soberano.
Sim,
que não ter um coração profundo
É
os olhos fechar à dor do mundo,
Ficar
inútil nos amargos trilhos.
É
como se meu ser compadecido
Não
tivesse um soluço comovido
Para
sentir e para amar meus filhos[2].
Segundo
Um Espírito Protetor, em mensagem d’O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap.
17, it. 10),
Um sentimento de piedade deve sempre animar o
coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos
bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles
demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles
por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições,
possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê
frutos de caridade e justiça [...].
Por fim, esclarece-nos esse Espírito Protetor que
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na
prática da caridade absoluta; os deveres da caridade alcançam todas as posições
sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem
que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas
mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola
priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de
pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta [...].
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em
comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja
preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos.
Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas que jamais na vossa
felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele
o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam
santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor (Bordeaux, 1863).
Pois bem, amigos
leitores de meus doze poemas, o brilhante Cruz e Sousa[3], agora deste Plano
invisível para vós, salvo se sois médium vidente, conclui com a receita final,
à sua miríade de leitores com este poema psicografado por Chico Xavier,
intitulado Alma do Amor:
Alma do
Amor, cansada, erma e fremente,
Arrastando
o grilhão das próprias dores,
Sustenta
a luz da fé por onde fores,
Torturada,
ferida, descontente...
Nebulosas,
estrelas, mundos, flores
Rasgam,
vibrando, excelso trilho à frente...
Tudo
sonha, buscando o lume ardente
Do
eterno amor de todos os amores!
Alma, de
pés sangrando senda afora,
Humilha-te,
padece, chora, chora,
Mas bendize
o teu santo cativeiro...
Não
esperes ninguém para ajudar-te,
Ama
apenas, que Deus, em toda a parte,
É o sol
do amor para o Universo inteiro.
Por fim, amigos, neste dia em que se comemora
Finados, volto para assegurar-vos, como o fez meu personagem Brás Cubas, que não
existe morte para quem ama. Amai e sede feliz. Mas amai como o Cristo amou,
sonhai como Jesus sonhou, pensai como o Cristo pensou e vivei como Jesus viveu.
Somente assim vencereis a morte e sereis felizes onde quer que estejais.
Feliz dia dos vivos!
[1] BANDEIRA, M. O poeta. In: ASSIS, M.
Machado de Assis: obra completa, v.
I, Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
[2]
SOUSA, C. Poesias completas de Cruz e
Sousa. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda. Edições de Ouro, s. d.
[3]
SOUSA, C. Espírito. In: XAVIER, F. C.; VIEIRA, W. Antologia dos Imortais. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, parte III.
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