A SUBLIME POESIA DE
MARIA DOLORES
ABRIGO
IDEAL
E
tudo vai passando, como sempre dizes,
Os
dias de infortúnio e os movimentos felizes.
Tempos
de infância, belos e risonhos
Esvaíram-se
todos, tais quais sonhos
Que
não consegues explicar;
O
lar de agora já não te parece
O
mesmo antigo lar
Em
que o colo de mãe, na luz da prece,
Inteiro
se te abria,
Sustentando-te
a paz no clarão da alegria...
Onde
ouvir novamente as vozes que, à noitinha,
Uniam-se-te
à voz inocente a cantar:
—
“Oh! ciranda, cirandinha.
Vamos
todos cirandar!...”
Fitavam-te,
na marcha dos instantes,
Estrelas
cintilantes,
Como
a notar-te o sentimento puro
E
a te indicarem, sem que percebesses,
As
estradas difíceis do futuro.
A
juventude plena de ansiedade
Passou,
qual luminosa floração
E
indagas onde estão
Os
planos da primeira mocidade...
Refletes
nas queridas afeições
No
ponto solitário em que te pões...
Quantos
amigos desertaram
Da
senda em que persistes?
Quantos
julgaram tristes
As
tarefas que abraças?
E
largaram-te, a sós, dizendo-se à procura
Do
prazer, do renome e da ventura?!...
Enquanto
passas,
No
serviço de sempre,
De
coração ao desalinho,
Perguntas,
muitas vezes, quantos lábios
Ouviste
transformados no caminho,
Lábios
que te falavam, ontem, de ternura,
Em
promessas de apoio e de carinho
E
hoje te comunicam amargura,
Acusação,
queixa e censura,
Impondo-te
incerteza e incompreensão?
E
os outros que, em magoada despedida,
Deixaram-te
no mundo, em busca de outra vida,
Dando-te
a inquietação constante que te invade
Pela
chama invisível da saudade?!...
E
tudo vai passando, tal qual dizes,
Os
instantes felizes e infelizes,
Entretanto,
alma irmã, de pés sangrando embora,
Segue
amando e servindo, tempo afora...
Nada
te impeça caminhar
Para
a sublimação que te pede lutar,
Esculpindo,
em ti mesmo, o amor cuja beleza
Palpita
em tua própria natureza.
Não
contes desengano, prova, idade...
Segue
e não temas,
Quem
serve encontra em todos os problemas
Motivação
para a felicidade.
E
quando tudo te pareça
Saudade
e solidão
Na
bruma que te envolva o coração,
Entra
no claro abrigo que reténs,
Que
se te faz no mundo o mais alto dos bens,
Riqueza
em luz e paz que ninguém desarruma
E
nunca sofre alteração alguma...
Esse
refúgio ideal que te descansa
Nos
tesouros de tudo quanto é teu,
É
a bênção de servir que te guarda a esperança
No
trabalho do bem que Deus te concedeu...
Maria
Dolores (Espírito). Caminhos do Amor.
Psicografado
por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: CEU, 1983.
CENTRO ESPÍRITA CAMINHEIROS DA FRATERNIDADE
Biografia:
Maria Dolores
Maria de Carvalho Leite, conhecida como Maria Dolores, nasceu em 10 de setembro de 1901 na cidade de Bonfim de Feira, Bahia, filha de Hermenegildo Leite e Balmina de Carvalho Leite. Também chamada de Madô e de Mariinha, formou-se professora em 1916, e lecionou em escolas de Salvador (BA), incluindo o Educandário dos Perdões e o Ginásio Carneiro Ribeiro. Além de comprometida com a educação, sempre demonstrou grande interesse pela produção literária.
Na década de 1940, conheceu o espiritismo em Itabuna, quando casada com o italiano Carlos Larocca em segundas núpcias. O casal não teve filhos biológicos, porém adotaram seis meninas como filhas do coração. Ainda em Itabuna adotaram, em 1936, Nilza Yara Larocca. Em Salvador, adotaram Maria Regina e Maria Rita em 1954, Leny e Eliene em 1956 e Lisbeth em 1958.
Durante 13 anos, foi colaboradora assídua de jornais baianos, já adotando o pseudônimo que utilizaria no mundo espiritual. Dedicando-se à arte poética, foi redatora-chefe da página feminina do Jornal “O Imparcial”, além de colaboradora neste e no “Diário de Notícias”. Sua produção poética foi reunida no livro “Ciranda da Vida”, cujos recursos financeiros foram destinados à instituição “Lar das Meninas sem Lar”. Segundo confessou no prefácio do livro, durante muito tempo guardou para si sua obra poética, por recear como ela poderia ser recebida pela crítica especializada.
Dedicou-se ao amparo das crianças assistidas nessa instituição, estendendo sua obra benemérita ao próprio lar, abrigando, orientando e assistindo crianças desvalidas e em situação de risco. A “Casa de Juvenal Galeno”, no estado do Ceará, também recebeu o carinho, a ternura e o auxílio de Maria Dolores.
Em 1947, mudou-se para Salvador com o esposo, ajudando-o na administração do Café Baiano e da tipografia A Época, ambos de propriedade de Carlos Larocca. Maria Dolores fez parte da Legião da Boa Vontade, a quem prestou serviços de beneficência, partilhando seus dons de pianista, pintora, costureira, além de seus ricos conhecimentos na arte da culinária.
Foi também colaboradora na obra de Divaldo Pereira Franco quando, por
ocasião da fundação da Mansão do Caminho, em 15 de agosto de 1952, algumas das
primeiras louças e talheres ali utilizadas foram por ela doadas. Trabalhou
também como voluntária na instituição - incluindo-se a confecção de cartões de
Natal, pintados por ela, para serem vendidos em benefício da Casa.
Maria Dolores desencarnou à 1h40 da manhã em 27 de julho de 1958, vitimada por grave pneumonia, em Salvador (BA).
Anos depois, a poetisa começou a transmitir lindos poemas do mundo espiritual, através dos médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco. Antologia da Espiritualidade foi a sua contribuição para a FEB Editora. De 1971 a 2002, foram trinta e um anos em que Maria Dolores esteve associada ao mandato mediúnico de Chico Xavier: suas obras mediúnicas e individuais ultrapassam o número expressivo de 180 mil exemplares vendidos.
Emmanuel, ao prefaciar as obras, qualifica Maria Dolores como
"denodada obreira do Bem Eterno", "intérprete de Jesus",
"alma abnegada de irmã", "irmã querida", "poetisa da
vida", "Mensageira da Espiritualidade", "devotada Seareira
do Bem", "irmã e companheira nas tarefas da Vida Maior",
"nossa irmã e benfeitora", "Poetisa da Espiritualidade
Superior".
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