Em
dia com o Machado 477
Os
poetas "mortos" estão vivos (Jó)
Estive pensando sobre o que escrever e encontrei em minha
modesta estante de livros espíritas a inspiração para escrever esta crônica.
Ela está na obra de Lamartine Palhano Júnior e Dalva Silva Souza: A
imortalidade dos poetas "mortos".
A obra é tese que foi aprovada para publicação pela Fundação
Espírito-Santense de Pesquisa Espírita. Sua "contribuição ao estudo da
sobrevivência da alma após a morte", assim como a possibilidade da
"comunicabilidade dos Espíritos com o mundo corpóreo", é "evidente", de acordo com o que é
informado por essa instituição na folha de rosto do livro.
Os sonetos atribuídos ao Espírito Cruz e Sousa, já publicados
por mim em análises passadas, estão contidos nas páginas 155 a 170 do livro.
Todos eles foram psicografados por oito médiuns: Chico Xavier, Waldo Vieira,
Dolores Bacelar, Ismael Gomes Braga, Porto Carreiro Neto, Hernani T. Sant'Ana,
Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Sucinta biografia desses médiuns,
que atesta sua idoneidade moral e altíssima formação intelectual, é colocada
antes de cada produção mediúnica.
Revendo a obra, percebo que o estudo feito pelo prof. dr. Palhano Júnior e pela professora
Dalva, ambos com destacada atuação no magistério e em instituições espíritas, é
digno de ser lido e discutido no ensino da literatura, quando se trata de estudar
a literatura espírita, nas instituições religiosas e científico-culturais.
Além de Cruz e Sousa, a obra contém produções poéticas de
alguns espíritos de nacionalidade brasileira e portuguesa. Alguns são pouco
conhecidos e outros têm renome internacional, tais como: Antero de Quental,
Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus e Olavo Bilac.
Como bem esclarecem os organizadores da obra, os estilos
individuais, com suas particularidades a identificarem a autoria dos poemas, estão neles manifestos. Como
não poderia deixar de ser, também podemos identificar nos poemas as
características próprias do estilo de época. Os autores fazem uma análise
lúcida e bem fundamentada da obra, tanto da teoria espírita quanto da não
espírita.
Pelo seu estilo inconfundível, concluo com a citação de um
poema atribuído ao Espírito Augusto dos Anjos, recebido pela médium Dolores Bacelar. Entretanto, ainda se encontram no
livro sonetos desse poeta psicografados por Chico Xavier, Waldo Vieira, Jorge
Rizzini, Hernani Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Vamos ao
soneto transmitido a Bacelar por Augusto dos Anjos:
Fui
Fui
o absconso ser de alma escravizada
Aos
distúrbios mentais da hipocondria,
Que
desde a espermatose, a embriogenia,
Sentia
a ânsia da carne já tarada.
Que
ao devolver o escasso corpo ao nada,
Resto
podre de nata idiopatia,
Viu
que a Flama da vida persistia
Independente
da carne estagnada.
Que
essa Flama aspirando à Luz sidérea,
Desce
à lama, à carne deletéria,
Sofre
o espasmo da morte transitória.
Para
do Eu extirpar todo o excremento,
E
após divinizado o Sentimento,
Atingir
a Perfeição, o Céu, a Glória.
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