EM DIA COM O MACHADO
612:
Do materialismo ao
Espiritismo
(carta de um leitor,
publicada na Revista Espírita) Irmão Jó
Alma irmã, segundo o Espírito André Luiz (Opinião
Espírita, capítulo 1), “Espírita que não progride durante três anos
sucessivos permanece estacionário”. Essa frase veio-me à lembrança quando li a carta
do leitor Michel remetida, ao fim de seis meses de seu estudo da então recente
Doutrina Espírita, a Allan Kardec.
O documento foi publicado por Kardec na Revista
Espírita de abril de 1863. A missiva é longa, mas em vista da profundidade do conteúdo, reproduzirei
seus pontos principais.
Primeiro ponto: “O advento do Espiritismo no
século dezenove, numa época em que o egoísmo e o materialismo parecem dividir o
império do mundo, é um fato muito importante e muito extraordinário para não
provocar a admiração ou o espanto das pessoas sérias e dos espíritos
observadores”.
Segundo ponto: “Mas um fato não menos
surpreendente é que se tenha encontrado nesta mesma época de incredulidade um
homem bastante crente, bastante corajoso, para sair da multidão, abandonar a
corrente e anunciar uma doutrina que devia pô-lo em desacordo com o maior
número, pois seu objetivo é combater e destruir os preconceitos, os abusos e os
erros do povo, e, enfim, pregar a fé aos materialistas, a caridade aos
egoístas, a moderação aos fanáticos, a verdade a todos”.
Terceiro ponto: “Sem vos preocupar com o
número e a força dos vossos adversários, descestes sozinho à arena e, aos
gracejos injuriosos, opusestes uma inalterável serenidade; aos ataques e
calúnias respondestes com a moderação”.
Quarto ponto: “Para o adepto fervoroso o fato
não pode ser posto em dúvida, e o Espiritismo não pode ser obra de alguns
cérebros dementes, como seus detratores tentaram demonstrar. É impossível
que o Espiritismo seja uma obra humana; deve ser e é, com efeito, uma revelação
divina” (destaquei).
Quinto ponto: “Depois de dezoito séculos de
existência, a doutrina do Cristo nos parece tão luminosa quanto na época de seu
nascimento [...]. Sendo o Espiritismo a confirmação, o complemento dessa
doutrina é justo dizer-se que se transformará num monumento indestrutível,
visto ter Deus por princípio e a verdade por base”.
Sexto ponto: “[...] cheguei à conclusão de
que o homem deve evitar cuidadosamente tudo quanto possa perturbar a sua
consciência”.
Sétimo ponto: “Durante dois anos ouvi falar
do Espiritismo sem lhe prestar uma atenção séria. Como diziam seus adversários,
eu julgava que um novo charlatanismo se havia infiltrado entre os outros. Mas,
enfim, cansado de ouvir falar de uma coisa, da qual não conhecia senão o nome,
resolvi instruir-me. Então adquiri O Livro dos Espíritos e O Livro
dos Médiuns. Li, ou melhor, devorei essas duas obras com tal avidez e
satisfação que é impossível definir. Qual não foi minha surpresa, lançando os
olhos sobre as primeiras páginas, ao ver que se tratava de filosofia moral e
religiosa, quando eu esperava ler um tratado de magia, acompanhado de histórias
maravilhosas! Logo a surpresa deu lugar à convicção e ao reconhecimento”.
Michel explica, por fim, que sendo médium
intuitivo, assistiu a algumas sessões espíritas nas quais comparou sua
mediunidade com a doutros médiuns. Então compreendeu a recomendação de Kardec
sobre a importância de “ler, antes de ver, se se quiser ficar convencido”,
tendo em vista que o que vira até então não seria suficiente para o
convencimento de um incrédulo.
Desejava provas mais palpáveis, como as que
Kardec obtivera na Sociedade Espírita de Paris. Então, convidou “médiuns
escreventes, videntes e desenhistas” para um trabalho em conjunto. Só aí, diz
com grande alegria, testemunhou os mais surpreendentes fatos e obteve as provas
que o convenceram definitivamente sobre a “excelência e a sinceridade” do
Espiritismo.
Durante mais de onze anos (janeiro de 1858 a
março de 1869), Allan Kardec recebeu centenas de cartas, das quais selecionou e
publicou muitas, como essa, na Revista Espírita. São testemunhos de
pessoas antes descrentes, simples ou cultas que, superando preconceitos e
intolerância cega, estudaram, observaram e creram nas manifestações dos
espíritos conforme proposto pelo Codificador do Espiritismo.
Cabe a nós, que temos um pouco mais de seis meses de estudo do Espiritismo, aliado à prática, divulgá-lo intensamente, nesta época em que o materialismo volta com sua saga destruidora da fé, da esperança e da caridade. Então, o Espírito Cruz e Souza incentiva- nos com seu soneto intitulado:
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