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quinta-feira, 15 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO X (Jorge Leite)                          

 

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.” (Sir Arthur Lewis)

 
 
A linguagem e seu estilo espacial

 
Entendemos por estilo espacial da linguagem a forma criativa utilizada pelos bons escritores para se expressarem textualmente na narrativa de suas produções literárias. Passaremos, a seguir, a utilizar a expressão figuras de linguagem, que se classificam por figuras de palavras, figuras de construção ou de sintaxe, figuras de pensamento e figuras fônicas.

 
I- Figuras de palavras (ou tropos): são aquelas que se caracterizam pelo desvio da significação, considerada normal das palavras. Na comunicação anterior, vimos algumas dessas figuras. A seguir enumeramos outras delas, tais como:

 
1. Antonomásia: ver “Comunicar é preciso IX”.

 
2. Catacrese: é a metáfora que já foi incorporada à nossa língua, de tal modo que consta dos dicionários, em geral. Segundo Azeredo (2008, p. 487), a catacrese é semelhante às “expressões idiomáticas”.

Exemplos:

a) “Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no chão.” (ASSIS, 1971, p. 823);

b) “Contaria os meus botes e os dela, a graça de um e a prontidão de outro, e o sangue correndo, e o furor na alma [...].” (ASSIS, 1971, p. 857);

c) “— Diga-me uma cousa, mas fale verdade, não quero disfarce; há de responder com o coração na mão.” (ASSIS, 1971, p. 856).

 
3. Diáfora ou antanáclase: esses nomes que assustam, na realidade representam o chamado trocadilho no qual se emprega a mesma palavra com o sentido ambíguo, o chamado duplo sentido. Exemplos:

a) “Um deles, ouvindo apregoar sete ações do Banco Pontual, disse que tal banco foi realmene pontual até o dia em que passou do ponto à reticência.” (ASSIS, 1990, p. 156);
b) Tenho muita pena de quem pena num hospital.

 
4. Metáfora: é a substituição de um termo por outro, devido a uma relação de semelhança entre ambos (associação semântica). Costuma ser uma comparação sem o uso da palavra como. Exemplos:

a) “[...] a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze anos.” (ASSIS, 1971, p. 852).
Obs.: nesses exemplos da letra a), que contém uma “sucessão de metáforas”, temos a chamada alegoria;

 b) “Tinha a mesma sensação que ora lhe dava aquela cesta de luzes no meio da escuridão tranquila do mar.” (ASSIS, 1971, cap. XLVIII, p. 1008).

A linda metáfora, com o emprego do gradiente visual, expressa a ilha fiscal, situada no meio da baía da Guanabara, plenamente iluminada, quando se realizara o baile, em 9 de novembro de 1889. Conclui Carvalho que “Machado transmite, de forma impressionista, a imagem que D. Cláudia tem da ilha nessa noite que ficaria famosa, por simbolizar o canto de cisne da Monarquia agonizante, às vésperas do golpe militar que implantou a República, no dia 15 de novembro de 1889” (CARVALHO, 2010, p. 195).

  
5. Metonímia: ocorre quando se transfere o significado de um termo para o outro, que não lhe equivale, mas que, na contiguidade das ideias, se lhe associa semanticamente. A relação de contiguidade pode ocorrer de diversos modos, como, por exemplo:

a) do nome do autor pela sua obra: gosto de ler Machado de Assis (a obra de Machado); "Conversamos de coisas várias, até que Tristão tocou um pouco de Mozart." (ASSIS, 1971, MA, 31 de agosto, p. 1.143). Machado era grande apreciador do músico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756- 1791), que aqui é substituído por sua música.
 
b) do continente pelo conteúdo: “José Dias dividia-se agora entre mim e minha mãe, alternando os jantares da Glória com os almoços de Matacavalos.(ASSIS, 1971, DC, cap. CIV, p. 909.). O bairro foi citado no lugar da pessoa que ali reside, ou seja, D. Glória, mãe de Bentinho;

c) do efeito pela causa: "Ganharás o pão de cada dia com o suor do teu rosto." (Gênese)

d) do abstrato pelo concreto: O bicho viveu os seus dez ou onze anos da raça; a doença achou enfermeira, e a morte teve lágrimas;" (ASSIS, 1971, MA, 4 de agosto, p. 1.137). A doença e a morte = o cachorro.

e) do instrumento pela pessoa que o utiliza: "Nisto, aparece-me à porta um chapéu, e logo um homem, o Cotrim, nada menos que o Cotrim." (ASSIS, 1971, BC, cap. LXXXI, p. 591). Chapéu representa, na frase, seu dono, o Cotrim;

f) do indivíduo pela espécie ou classe: Ele foi o judas dos colegas de classe. Judas = traidor; Os mecenas das artes patrocinaram a Copa do Mundo no Brasil. Mecenas = protetores; Os vândalos queimaram quinhentos veículos em São Paulo. Vândalos = marginais;

g) do singular para o plural: O homem é um ser mortal. (homem = seres humanos).

h) do traje pela classe social: "Rezei ainda, persignei-me, fechei o livro de missa e caminhei para a porta. [...] Havia homens e mulheres, velhos e moços, sedas e chitas, e provavelmente olhos feios e belos, mas eu não vi uns nem outros." (ASSIS, 1971, DC, cap. LXX, p. 881). Na expressão "sedas e chitas", temos também uma metonímia que distingue ricos e pobres.

Obs.: Não se esgotam aqui as possibilidades da metonímia. Toda vez que um termo transferir seu significado para outro, numa relação de contiguidade, temos aí a metonímia.


Referências

 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971. Obra completa, vol. I. (Brás Cubas - BC; Dom Casmurro – DC, Esaú e Jacó — EJ, Memorial de Aires — MA)

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.

ASSIS, Machado de. Páginas Recolhidas. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1990.

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. Redigida de acordo com a nova ortografia.

CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo com a nova ortografia.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 

QUESTÕES VERNÁCULAS
Edição 8

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
A pronúncia das sílabas formadas com a letra “x” apresenta, não raro, dificuldades porque o “x” às vezes tem o som de ch, como em xerife, de z, como na palavra exame, ou de ks, como no vocábulo sexo.
Nas palavras que se seguem, o “x” tem som de z:
1.    exame
2.    exagero
3.    exato
4.    exegese
5.    êxodo
6.    exonerar
7.    exorar
8.    exotérico
9.    êxul
10. exultar
11. inexaurível
12. inexorável.
 
Nestes outros vocábulos, o “x” tem som de ks:
1.    sexo
2.    afluxo
3.    anexo
4.    clímax
5.    ex-libris
6.    fluxo
7.    hexacampeão
8.    índex
9.    intoxicar
10. léxico
11. máxime
12. ônix.
 

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