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quarta-feira, 21 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO XI (Jorge Leite)                      
                                                                             Eduquemos a criança
                                                                             moral e intelectual
                                                                             e estaremos investindo
                                                                             no mundo celestial. (JLO)

 
A linguagem e seu estilo espacial II

 
Antes de abordarmos as figuras de linguagem intituladas figuras de pensamentos e figuras fônicas, trataremos ainda de outras sete figuras de sintaxe ou de construção, além das dez publicadas em Comunicar é preciso IX.

 II- Figuras de construção ou de sintaxe

É na estrutura sintática que ocorrem as figuras de sintaxe ou construção.

1. Anáfora: essa figura decorre da repetição de palavra no início de cada verso, frase ou expressão frasal. Exemplo: “E lá foi, e lá andou, e lá descobriu o padre, dentro de uma casinha — baixa.” (ASSIS, 1971, MA, 31/7/1888).

 2. Anadiplose: ocorre quando há a repetição de palavras ou sequências de palavras no fim e no início de dois versos ou duas frases. Exemplos:

a) “Relendo o capítulo passado, acode-me uma ideia e um escrúpulo. O escrúpulo é justamente escrever a ideia.” (ASSIS, 1971. DC, LXIV);

b) “Entre outras coisas, estive a rasgar cartas velhas. As cartas velhas são boas.” (ASSIS, 1971. MA, 25/2/1888).
 
3. Anástrofe: é o deslocamento pouco normal de algum termo da frase ou do verso. Exemplo:

"SE A ALMA que sente e faz conhece
porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instincto teu." (PESSOA, 1983, p. 6).
 
Ordem normal do último verso: Memória do teu instinto em nós.

 4. Epizeuxe: nessa figura, ocorre a repetição da sequência imediata de palavras. Exemplo: “Examinando bem, não quisera ter ouvido um desengano que eu reputava certo, ainda que demorado. Capitu refletia, refletia, refletia...” (ASSIS, 1971. DC, XLII). A repetição da palavra “refletia” passa ao leitor a ideia de uma reflexão profunda, sem fim, de Capitu em sua preocupação de livrar Bentinho da ida para o seminário.

5. Hipálage: ocorre quando o termo determinado não se associa ao seu determinante. Exemplos:

a) “José Dias [...] contava-me tudo isso cheio de uma admiração lacrimosa.” (ASSIS, 1971. DC, LXI). Quem estava lacrimoso era José Dias e não a admiração;

b) “E Batista conversaria com o Imperador, a um canto, diante dos olhos invejosos que tentariam ouvir o diálogo.” (ASSIS, 1971. EJ, XLVIII). Nessa passagem, D. Cláudia fantasiava a volta de seu marido Batista ao poder. Quem tinha inveja eram os donos dos olhos e não estes. Nesse caso, há também uma metonímia em que a parte, os olhos, representa o todo, as pessoas que olhavam.

6. Hipérbato: é a inversão da ordem normal de um termo de um verso, vocábulo da  oração ou de uma oração do período. Exemplo:

“Mudaria o Natal ou mudei eu?” (ASSIS, 1973, vol. 3, Soneto de Natal, p. 167).

7. Quiasmo: é a inversão da simetria dos termos, conforme o esquema AB X BA. Exemplo:

“Não era tanta a política que os fizesse esquecer Flora, nem tanta Flora que os fizesse esquecer a política.” (ASSIS, 1971. EJ, XXXV).

REFERÊNCIAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971. Obra completa, vol. I. (Brás Cubas - BC; Dom CasmurroDC, Esaú e JacóEJ, Memorial de Aires — MA)

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.

ASSIS, Machado de. Páginas Recolhidas. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1990.

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. Redigida de acordo com a nova ortografia.

CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo com a nova ortografia.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

PESSOA, Fernando. Obra poética. II. Os Castelos: Segundo / Viriato. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

QUESTÕES VERNÁCULAS
Edição 9

13/6/2007 -
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

[...] Descriminalização ou discriminalização? O que, afinal, pretendem os que defendem o aborto no Brasil?


É claro que descriminalização é o vocábulo correto, conforme registram Francisco Fernandes em seu Dicionário de Verbos e Regimes e também os dicionários Houaiss, Aurélio e Caldas Aulete.

Eis o que a respeito informa o dicionário Houaiss:


Descriminalização
substantivo feminino
Rubrica: direito penal.
Ato legal de excluir da criminalização fato abstrato antes considerado crime.
O mesmo ensinamento lê-se no dicionário Aurélio:

Descriminalização. S. m. Ato ou efeito de descriminalizar
Descriminalizar ou descriminar. V. t. d.

1. Absolver de crime; tirar a culpa de; inocentar.
2. Jur. Excluir a criminalidade ou antijuridicidade de (um fato).

O exemplo citado no Aurélio não nos deixa margem a qualquer dúvida:
“O candidato a governador Fernando Gabeira (PT-PV) explicou que defende a descriminalização, e não a liberação da maconha” (Jornal do Brasil, 18.9.1986).


 

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