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quarta-feira, 7 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO IX (Jorge Leite)                        

Fora da educação não há segurança (Joteli).

 
Você já ouviu falar em anacoluto? É a figura de construção (ou de sintaxe) que consiste em se interromper uma frase com a continuação por outra. Foi o que ocorreu com a frase lida por nós outro dia: “O alemão ele começou a aprender em 1900”.

Outro exemplo, muito popular: “Pobre, quando come frango, um dos dois está doente”.

Outras figuras de construção:
 
1. Assíndeto: ocorre quando os palavras ou orações de um período se sucedem sem a ligação da conjunção coordenativa.
Exemplo: "A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos." (Machado de Assis. Obras completas, I, 1067. In: CUNHA, 2008, p. 643)

2. Elipse: é o termo ou oração que foi omitido na frase por estar facilmente entendido.

Exemplos: a) Tenho feito estudos sobre a vida e obra machadianas. Ou seja, e sobre a obra...
b) Fiquei satisfeito com o trabalho e meu professor também. Ou seja, e meu professor também ficou satisfeito com o trabalho.
 
3. Antonomásia: é a utilização de um nome comum em substituição a um nome próprio e vice-versa.

Exemplos: a) O Bruxo do Cosme Velho escreveu mais de seiscentas crônicas (Bruxo do Cosme Velho = Machado de Assis);
b) O Cisne Negro escreveu sonetos de rara beleza. (Cisne Negro = Cruz e Sousa).

4. Onomatopeia: é a repetição de palavras com vistas a imitar o som ou a voz natural dos seres.

Exemplos: a) Seu coração batia sem parar: tique-taque, tique-taque, tique-taque, quando o passarinho do relógio cantou: cuco-cuco-cuco;
b) Foi então que José ouviu cantar no rádio: “Isso me dá tique-tique nervoso, tique-tique nervoso, tique-tique nervoso”.

5. Pleonasmo: repetição redundante ou enfática de um termo ou a mesma ideia da oração.

Exemplos: a) Coragem verdadeira é a que encara frente a frente os obstáculos. (Encarar é “olhar para a cara de alguém, olhar de frente, ou nos olhos de alguém”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.);
b) “Toda a velha papelada saiu cá fora, e rimos juntos.” (Machado de Assis. Dom Casmurro, LIV);
c) “Vi, claramente vista, a meia dobra da véspera.” (Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas, LI).

 
6. Polissíndeto: repetição proposital da conjunção coordenativa.

Exemplos: a) “E zumbia, e voava, e voava, e zumbia.” (Machado de Assis. A mosca azul. Poesias completas. Ocidentais);
b) “E fraca e magra e transparente e esguia,” (Cruz e Sousa. Tuberculosa. In: SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 176).

 
7. Inversão: alteração da ordem sequencial dos termos ou orações.

Exemplos: a) “Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (Mário Quintana. In: Porta giratória, 1988).
b) “Um dia, há bastantes anos, lembrou-me produzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga rua de Matacavalos.” (Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. II).

 
8. Repetição: é o uso reiterado de palavras ou orações com vistas a enfatizar o que foi dito.

Exemplos: a) “Passai, passai, desfeitas em tormentos,” (Cruz e Sousa. Dilacerações. In: SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 179);
b) “Canções, leves canções de gondoleiros,
Canções do Amor, nostálgicas baladas,
Cantai com o Mar, com as ondas esverdeadas,
De lânguidos e trêmulos nevoeiros!” (Cruz e Sousa. Sonata. In: SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 194).

 
9. Silepse: concordância com a ideia aos termos associada em nossa mente e não com os termos expressos.

Pode ser: a) de gênero: “Vossa Excelência será informado sobre a segurança da copa, Sr. Presidente.”.
b) de número: A gente fomos à festa de formatura do Carlitos.
c) de pessoa: Todos os espíritas somos reencarnacionistas.

 

REFERÊNCIAS

 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.

CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.
 
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo com a nova ortografia.
 
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.
 

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
 

SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
 

QUESTÕES VERNÁCULAS

Edição 7

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Na língua portuguesa, o som das letras “e” e “o”, quando presentes em uma sílaba tônica, ora é aberto, ora é fechado.

Nos vocábulos seguintes, o som da vogal tônica é aberto:
1.    amorfo (ó)
2.    anelo (é)
3.    antolhos (ó)
4.    apostos (ó)
5.    às avessas (é)
6.    blefe (é)*
7.    canoro (ó)
8.    caroços (ó)
9.    cassetete (é)
10. cervo (é)*
11. cetro (é)
12. ciclope (ó)
13. coeso (é)*.

 *Obs.: segundo o VOLP atualizado pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: blefe (é ou ê); cervo (é ou ê); coeso (é ou ê).

Diferentemente dos casos acima, nestes vocábulos o som da vogal tônica é fechado:
1.    acervo (ê)*
2.    adrede (ê)
3.    alcova (ô)
4.    algoz (ô)*
5.    algozes (ô)*
6.    almeja (do verbo almejar) (ê)
7.    alvoroços (ô)
8.    ambidestro (ê)*
9.    aposto (ô)*
10. arrotos (ô)
11. avessa (ê)
12. bodas (ô)
13. bolo, bolos (ô).

*Obs.: segundo o VOLP, 5. ed. 2009: acervo (é ou ê); algoz(es) (ô, ó); ambidestro (é ou ê); aposto (ô) adj. S. m.; f. (ó); pl. (ó); cf. aposto, fl. do v. apostar.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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