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sexta-feira, 2 de maio de 2014


                                                           

A ERA DO ESPÍRITO (Jorge Leite)

                                                        Castro Alves
Os Espíritos têm dois objetivos principais com suas comunicações mediúnicas: demonstrar, com as provas possíveis, sua sobrevivência após a morte e contribuir com nossa evolução espiritual. O que vamos fazer da certeza obtida com isso cabe a cada um de nós. É por isso que os médiuns podem variar, mas o estilo do Espírito que se tornou famoso nas artes quando encarnado, continua o mesmo. E Castro Alves está presente no condoreirismo e na preocupação dos temas sociais que tanto o caracterizaram quando encarnado. Confira num dos seus poemas mediúnicos abaixo:


NA ERA DO ESPÍRITO


O caos invadira a França,
− Olimpo do pensamento.
O ódio − lobo famulento,
Range as presas com furor.
Nas ruas − Paris descansa;
Em casa − chora em segredo;
Gigante, arrosta, com medo,
As iras do Imperador.
 
A Nação encarcerada
Lança em nota clandestina
As safras da guilhotina
E explode: − “Revolução!”
Recorda a Bastilha irada,
Lê Rousseau, à luz da vela,
Esmurra as grades da cela,
Protesta rugindo em vão.

A crença herdada do Cristo
Caíra no sorvedouro
− Turbilhão de pompa e ouro −,
Dobrada ao tacão dos reis.
Em tormento jamais visto,
Nos frios templos, o povo
Exorava aos Céus, de novo,
Novos rumos, novas leis.

A Ciência − clava forte − ,
Contra as cadeias medievas,
Partia os grilhões das trevas
Em sarcástico festim,
A exprobrar de sul a norte,
Por tirana revoltada:
− “Dominemos! Deus é nada!”
A morte − o portal do fim !”

Ninguém na fé militante...
Mavorte, em fúria, galopa
Nos campos de toda a Europa!
Na África − a abjeção!
Na Austrália − o progresso infante!
Na Ásia − o suor dos párias
Rola em bagas milenárias!
Na América − a escravidão!

Mas o Espaço se descerra!
Jesus, no esplendor dos sóis,
Recruta gênios e heróis
A iluminar o porvir.
De polo a polo, na Terra,
Flamejam etéreas lampas,
Mensagens brotam das campas,
Ao toque de ressurgir!
 
Aos clarões da Imensidade,
Kardec chega e inaugura
A Doutrina viva e pura
Da razão à luz do bem.
O Espírito de Verdade
Semeia Divina Messe,
O Evangelho reaparece
Nas Vozes do Grande Além!

Falam tumbas, dançam mesas,
Nascem livros, surgem almas,
Luzem preces, chovem palmas,
Hosanas aqui e ali!
Consciências dantes presas
Rompem torva cidadela;
Pastor guiando a procela,
Jesus conclama: − “Servi!”
 
Ante a ribalta terrestre,
O Direito renovado
Deixa, ao tropel do passado,
Distinções de raça e cor!
Em triunfo, volve o Mestre,
E acende na mente humana,
Desde o palácio à choupana,
O facho do Eterno Amor!...
 
O mundo voga num misto
De infortúnio e de esperança,
Pranteia a sorrir e avança
Nas Bênçãos do Excelso Pai!
Kardec reflete o Cristo;
Desfralda, em bandeira à frente,
O convite permanente:
− “Espíritas, trabalhai!...”

(Médium : Waldo Vieira. In: XAVIER, Francisco  Cândido; VIEIRA, Waldo.  Antologia dos Imortais. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 117.)
 
Como desdobramento oportuno ao clamor de Castro Alves para que vençamos o mal com o bem, nada melhor do que a transcrição de trechos da mensagem do Espírito Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Franco a seguir:

“Ninguém tem coisa alguma no mundo: nem corpo, nem valores amoedados, nem pessoas sob domínio... A in­cessante transformação, vigente no Cosmo, tudo altera a cada instante, e o vivo de agora estará morto logo mais; o dominador torna-se vítima; o corpo se dilui; os objetos passam de mãos...
 
Todo aquele que busca a posse, o ter e reter, perma­nece vazio de sentimentos e, porque nada é, enche-se de artefatos e coisas brilhantes, porém mortas, prosseguindo cheio de espaços e abarrotado de preocupações afligentes. [...]
Ser consciente de si mesmo é a meta existencial, con­seguindo o autoamor que desdobra a bondade, a compai­xão, a ação benéfica em favor do próximo.
[...]
Senhor do discernimento, o homem descobre que co­lhe de acordo com o que semeia, e que tudo quanto lhe acontece, procede, não tendo caráter castrador ou punitivo. Sente-se emulado a gerar novos futuros efeitos, agindo com consciência e produzindo com equidade. Tal conduta pro­porciona-lhe a alegria que provém da tranquilidade da rea­lização, considerando que sempre é tempo de reparar, e pos­tergação é-lhe prejuízo para a economia da sua plenificação.
O homem que se conquista supera os mecanismos de fuga, de transferência de responsabilidade, de rejeição e ou­tros, para enfrentar-se sem acusação, sem justificação, sem perdão.

Descobre a vida e que se encontra vivo, que hoje é o seu dia, utilizando-o com propriedade e sabedoria. Não tem passado, nem futuro, neste tempo intemporal da relativi­dade terrestre, e a sua é uma consciência atual, fértil e rica de aspirações, que busca a integração na Cósmica, que já desfruta, vivendo-a nas expressões do amor a tudo e a todos intensamente.
 
A conquista de si mesmo é lograda mediante o querer.

Jesus afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez, se se quisesse, bastando empenhar-se e entregar-se à reali­zação. Para tanto, necessário seria a fé em si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam desenvolvidos a partir do momento da opção.

Francisco de Assis, o santo, assim quis e o conseguiu.

Apóstolos do Bem, da Ciência e da Fé, do pensamen­to e da ação quiseram, e o lograram.

Homens e mulheres anônimos entregaram-se aos ideais que lhes vitalizaram as existências e, superando-se, autoconquistaram-se.
 
A conquista de si mesmo está ao alcance do querer para ser, do esforçar-se para triunfar, do viver para jamais morrer” (FRANCO, Divaldo P. / Joanna de Ângelis. O ser consciente. Salvador: LEAL. Cap. 10.)

Atentemos para a beleza desses convites, emanados da espiritualidade superior e esforcemo-nos para que o trabalho incessante no bem nos proporcione a felicidade só encontrada por quem já entendeu, em plenitude, a Boa-Nova do Cristo.
 
Fomos criados para a luz, mas o esforço de superar as trevas das paixões e dos vícios que tanto nos atormentam na Terra cabe a cada um de nós. Isso se chama livre-arbítrio.
 
Deus não tem pressa, todavia, quanto mais nos acomodamos na miséria moral, menos avançamos na verdadeira riqueza, que é a espiritual. Conheçamo-nos e busquemos vigiar, trabalhar no bem, sendo úteis à sociedade, e orar o tempo todo, para que as tentações do mundo não nos impeçam alcançar a paz do Cristo, que está dentro de nós.
Nesse dia,  o reino de Deus estará definitivamente implantado no íntimo dos seus filhos; e todos compreenderão que o bem feito ao seu irmão é o que deseja para si. Consequentemente, o mal feito a qualquer criatura viva é a origem do mal ao seu causador.
Quando a maioria da população terrestre estiver na condição elevada superior de retribuir o mal com o bem, teremos chegado à era do Espírito.
 

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