9.2.5 Hahnemann
Paris, 1863
Segundo a ideia muito
falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga
dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente,
ou que para isso exigiriam muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem
inclinado à cólera se desculpa quase sempre com seu temperamento. Em vez de se confessar
culpado, ele culpa seu organismo, acusando, assim, a Deus pelos seus próprios
defeitos. É ainda uma consequência do orgulho, que se encontra misturado a
todas as suas imperfeições.
Sem dúvida, existem
temperamentos que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos
mais flexíveis que melhor se prestam a exercícios físicos. Não creiam, porém,
que seja essa a principal causa da cólera, e creiam que um Espírito pacífico, mesmo
num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num
corpo franzino, não seria dócil. Somente a violência tomará outro caráter. Não
dispondo de organismo apropriado a lhe favorecer a violência, a cólera será
concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
O corpo não dá mais
cólera a quem não a tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes
e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem
isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito,
porque o Espírito não tem ação sobre isso, mas pode modificar o que se
relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme.
A experiência não lhes
prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações
verdadeiramente miraculosas que se operam aos seus olhos? Diga-se, pois, que o
homem só permanece vicioso porque quer permanecer vicioso, mas que aquele
que deseja corrigir-se sempre o pode. De outro modo, a lei do progresso não
existiria para o homem.
Tradução livre, em
terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.
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