9.2.4 A cólera
Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863
O orgulho leva vocês a se julgarem mais do que são, a não aceitarem
uma comparação que os possa rebaixar, a se considerarem, ao contrário, de tal
maneira acima de seus irmãos, seja em espírito, seja em posição social, ou
ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo os irrita e fere. Que acontece, então? Vocês entregam-se
à cólera.
Procurem a origem desses acessos de demência passageira, que os
assemelham aos brutos, e os fazem perder o sangue-frio e a razão; procurem, e
encontrarão quase sempre por base o orgulho ferido. Não é o orgulho ferido por
uma contrariedade, que os faz repelir as observações justas e rejeitar,
encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo as impaciências causadas
pelas contrariedades, em geral pueris, decorrem da importância que cada um atribui
à sua personalidade, perante a qual
julga que todos se devem curvar.
Na sua impaciência,
o homem colérico atira-se contra tudo: à natureza bruta, aos objetos
inanimados, que despedaça, porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos ele
pudesse ver-se a sangue frio, teria medo de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que ele julgue,
por isso, a impressão que deve causar aos outros. Quando não fosse pelo respeito
a si mesmo, deveria esforçar-se para vencer essa tendência que o torna digno de
piedade.
Se pensasse que a cólera nada resolve, que ela lhe altera a saúde,
compromete a própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas
outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo:
o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não
sentirá remorsos por fazer sofrer os seres que ele mais ama? E que pesar mortal
se, num acesso de fúria, cometesse um ato de que se teria de recriminar por
toda a vida!
Em resumo: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas
impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser
suficiente para incitar-se esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é
incitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade
cristãs.
Tradução livre, em
terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.
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