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domingo, 19 de abril de 2020




9.2.4 A cólera

Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863

O orgulho leva vocês a se julgarem mais do que são, a não aceitarem uma comparação que os possa rebaixar, a se considerarem, ao contrário, de tal maneira acima de seus irmãos, seja em espírito, seja em posição social, ou ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo  os irrita e fere. Que acontece, então? Vocês entregam-se à cólera.
Procurem a origem desses acessos de demência passageira, que os assemelham aos brutos, e os fazem perder o sangue-frio e a razão; procurem, e encontrarão quase sempre por base o orgulho ferido. Não é o orgulho ferido por uma contrariedade, que os faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo as impaciências causadas pelas contrariedades, em geral pueris, decorrem da importância que cada um atribui  à sua personalidade, perante a qual julga que todos se devem curvar.
Na sua impaciência, o homem colérico atira-se contra tudo: à natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue frio, teria medo de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que ele julgue, por isso, a impressão que deve causar aos outros. Quando não fosse pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
Se pensasse que a cólera nada resolve, que ela lhe altera a saúde, compromete a própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas outra consideração, sobretudo,  deveria contê-lo: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer os seres que ele mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, cometesse um ato de que se teria de recriminar por toda a vida!
Em resumo: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar-se esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

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