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domingo, 13 de novembro de 2022

 


26.1.3 Mediunidade gratuita

 

     Os médiuns modernos — pois os apóstolos também tinham mediunidade — igualmente receberam de Deus um dom gratuito, o de serem os intérpretes dos Espíritos para a instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, e não para vender palavras que não lhes pertencem, porque não são produto de sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu trabalho pessoal. Deus deseja que a luz atinja a todo o mundo, ele não quer que o mais pobre seja deserdado e possa dizer: Não tenho fé, porque não tinha como pagá-la; não tive a consolação de receber o estímulo e o testemunho de afeição daqueles por quem choro, pois sou pobre. É por isso que a mediunidade não é um privilégio, e se encontra por toda parte. Pagar por ela seria, portanto, desviá-la de seu objetivo providencial.

         Quem conhece as condições em que os bons espíritos se comunicam, sua repulsa a tudo que é de interesse egoísta, e sabe quão pouco é preciso para afastá-los, não poderá jamais  admitir que espíritos superiores estejam à disposição do primeiro que os convocar a tanto por sessão. O simples bom senso repele tal pensamento. Não seria também uma profanação, evocar por dinheiro os seres que respeitamos ou que nos são caros? Sem dúvida que se pode obter assim as manifestações, mas quem poderia garantir-lhes a sinceridade? Os espíritos levianos, mentirosos, travessos e toda a turba de espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a responder ao que lhes perguntarem, sem qualquer preocupação com a verdade. Aquele, pois, que deseja comunicações sérias deve primeiro procurá-las com seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se conseguir a benevolência dos bons espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material.

         Ao lado da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva, não menos importante, que se refere à própria natureza da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não será jamais uma profissão, não somente porque ela seria desacreditada moralmente, e logo assimilada aos adivinhos, mas porque um obstáculo material a isso se opõe: é que se trata de uma faculdade essencialmente instável, fugidia e variável, com cuja permanência ninguém pode contar. Seria, portanto, para seu explorador, uma receita inteiramente incerta, que poderia faltar-lhe no momento mais necessário.

         Outra coisa é uma capacidade adquirida pelo estudo e pelo trabalho, e que, por isso mesmo, torna-se uma verdadeira propriedade, da qual é naturalmente lícito tirar proveito. Porém, a mediunidade não é nem uma arte nem uma habilidade, eis porque não pode ser uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos espíritos; se estes faltarem, não há mediunidade, pois embora a aptidão a possa substituir, o exercício se torna impossível. Não existe, portanto, um único médium, no mundo, que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em momento determinado. Explorar a mediunidade, como se vê, é querer dispor de uma coisa que realmente não se possui. Afirmar o contrário é enganar quem paga. Há mais: não é de si mesmo que se dispõe, e sim dos espíritos, das alma dos mortos, cujo concurso é posto à venda. Essa ideia repugna instintivamente. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição, que provocou a proibição de Moisés. O Espiritismo moderno, compreendendo o lado sério do assunto, lançou o descrédito sobre essa exploração e elevou a mediunidade à categoria de missão. (O Livro dos Médiuns, cap. 28, e O Céu e o Inferno, cap. 12).

      A mediunidade é uma coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há uma espécie de mediunidade que requer esta condição de maneira ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. O médico oferece o resultado dos seus estudos feitos ao longo de sacrifícios geralmente penosos; o magnetizador dá seu próprio fluido, por vezes, mesmo sua própria saúde; eles podem estipular um preço para isso. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons espíritos, e não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, embora pobres, não cobravam pelas curas que operavam.

         Que aquele, pois, que não tem do que viver, procure outros recursos que não os da mediunidade; e que não lhe consagre, se necessário, senão o tempo de que possa dispor materialmente. Os espíritos reconhecerão seu devotamento e seus sacrifícios, enquanto se afastam dos que os utilizam como trampolim.

        (3.ª ed. francesa. Tradução livre do irmão Jó.)


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