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domingo, 27 de novembro de 2022

 


27.2 Eficácia da prece

 

Qualquer coisa que vocês pedirem na prece, creiam que obterão (Marcos, 11:24).

 

        Há pessoas que contestam a eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus nossas necessidades, é desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no verso por leis eternas, nossos desejos não podem mudar os decretos de Deus.

        Sem dúvida, há leis naturais e imutáveis que Deus não pode revogar conforme os caprichos de cada um. Mas daí a crer que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem nada mais seria que um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a fronte ante os golpes do destino, sem procurar evitá-los; não deveria tentar desviar-se do raio. Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para que não os utilizasse, a vontade para não querer, a

atividade para ficar em inação. Como o homem é livre para agir, numa ou noutra direção, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, consequências subordinadas ao que ele faz ou deixa de fazer. Por sua iniciativa, há portanto acontecimentos que escapam forçosamente à fatalidade, e que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, da mesma maneira que o avanço ou o atraso dos ponteiros de um relógio não anula a lei do movimento sobre a qual se estabelece o mecanismo. Deus pode, pois, atender a certos pedidos, sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinado sempre o atendimento à sua vontade.

        Seria ilógico concluir-se, desta máxima: “Qualquer coisa que vocês pedirem na prece, creiam que obterão", que basta pedir para obter, como seria injusto acusar a Providência se ela não atender todos os pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que é para nosso bem. Assim procede o pai sábio, que recusa ao filho as coisas contrárias ao interesse deste. O homem, geralmente, só vê o presente; ora, se o sofrimento é útil à sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer as dores duma operação que deverá curá-lo.

        O que Deus lhe concederá, se lhe pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. O que ainda lhe concederá são os meios de por si mesmo se livrar das dificuldades, com a ajuda das ideias que lhe serão sugeridas pelos bons espíritos, de maneira que lhe restará o mérito da ação. Ele assiste aos que se ajudam a si mesmos, segundo esta máxima: "Ajuda-te e o céu te ajudará", e não os que tudo esperam dum socorro estranho, sem usar suas próprias faculdades. Porém, na maioria da vezes, preferimos ser socorridos por um milagre, sem nada fazermos (cap. 25, it. 1 e segs.).

        Tomemos um exemplo. Um homem está perdido num deserto; sofre horrivelmente de sede; sente-se fraco e deixa-se cair na terra. Ora, pedindo a ajuda a Deus e espera; mas nenhum anjo vem dar-lhe de beber. No entanto, um Bom Espírito lhe sugere o pensamento de levantar-se e seguir um dos caminhos que tem diante de si. Então, por um movimento maquinal, reúne as forças que lhe restam, levanta-se, caminha e descobre um regato ao longe. Com essa visão, ganha coragem. Se tiver fé, exclamará: "Obrigado, meu Deus, pelo pensamento que me inspirou e pela força que me deu". Se não tiver fé, dirá: "Que boa ideia eu tive! Que sorte a minha de tomar o caminho da direita e não o da esquerda; o acaso, algumas vezes, serve-nos admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me haver deixado abater!"

        Mas, dirão, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Siga este caminho, e no fim encontrará o que necessita?” Por que não se mostrou a ele, para guiá-lo e sustentá-lo no seu abatimento? Dessa maneira o bom Espírito o teria convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que é necessário ajudar-se a si mesmo e usar as próprias forças. Depois, porque, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e a submissão à sua vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao cair, vendo alguém, põe-se a gritar e espera que a levantem; mas, se não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinha.

        Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: "Sou enviado por Deus para  guiá-lo na viagem e preservá-lo de todo perigo". Tobias não teria nenhum mérito. Fiando-se no seu companheiro, nem mesmo precisaria pensar. Foi por isso que o anjo só se deu a conhecer ao retornarem.


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