CANTIGA DA VIDA
Escuta, alma querida,
Se a provação te
alcança
E te amarfanha a vida,
Não te dês à revolta
Nem percas a esperança.
Embora tolerando luta
permanente,
Seja ela qual for,
Segue o dever que se
desdobre à frente,
Sem maldizer a própria
dor.
Deus modifica o
sofrimento aceito,
Em grandeza, progresso,
alegria, proveito...
Na Terra, em tudo
aquilo que admiras,
Do chão que cria a erva
ao céu que infunde a paz,
A qualquer tempo, em
tudo encontrarás,
Semelhante lição na
estrada em que respiras...
No solo retalhado a
golpes de tratores,
O campo se converte em
toucado de flores.
A semente largada à
cova estranha e escura
Renasce do abandono, em
beleza e verdura.
A árvore na poda,
humilhada e desfeita,
Acrescenta a abastança
e a força da colheita.
Da rocha perfurada a
fonte se descerra,
Espalhando conforto e
enriquecendo a terra.
Posto ao calor gigante,
em supremo embaraço,
O minério dá forma às
estruturas de aço.
Madeira que o serrote
alinha, morde e apara
Faz-se na construção a
peça nobre e rara.
Pérola de alto preço em
brilho evanescente
É riqueza a surgir de
uma ostra doente.
O pão que, em todo o
mundo, é divino legado
É um presente do Céu no
trigo massacrado.
Água que se sujeita aos
preceitos da usina
Gera auxílio e poder,
revigora e ilumina.
Assim também, alma
querida e boa,
Ante a luz do trabalho,
dia-a-dia,
Na lei da evolução para
crentes e ateus,
A presença da dor que
nos fere e avalia
É socorro da vida e
proteção de Deus
MARIA DOLORES
(Espírito). Coração e Vida. Psicografado por F. C. Xavier. SP: IDEAL,
1978, cap. 34.
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