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domingo, 10 de julho de 2022



23.2 ABANDONAR PAI, MÃE E FILHOS

 
    Todo aquele que deixar, por meu nome, sua casa, ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras receberá o cêntuplo de tudo isso, e herdará a vida eterna (Mateus, 20:29).
Então, Pedro disse-lhe: Quanto a nós, você vê que deixamos tudo e o seguimos. Jesus lhe respondeu: Em verdade lhe digo que ninguém há que tenha deixado pelo Reino de Deus sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos, que não receba, já neste mundo, muito mais, e no século que virá, a vida eterna. (Lucas, 18:28-30).
    Outro lhe disse: Senhor, eu vou segui-lo, mas permita-me primeiro dispor do que tenho em minha casa. Respondeu-lhe Jesus: Quem seja que, pondo sua mão no arado, olhar para trás não está apto para o Reino de Deus (Lucas, 9: 61-62).
 
    Sem discutir as palavras, é preciso aqui procurar compreender o pensamento, que era evidentemente este: “Os interesses da vida futura estão acima de todos os interesses e todas as considerações humanas”, porque isto concorda com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a ideia de renúncia à família seria a negação de sua doutrina.
    Além disso, não temos diante de nossos olhos a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições da família para a defesa da pátria? Censura-se um filho por deixar seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, pra marchar em defesa de seu país? Não lhe reconhecemos, pelo contrário, o mérito de se desprender das doçuras do lar doméstico, dos convívios da amizade, para cumprir um dever? Há, pois, deveres que se sobrepõem a outros deveres. A lei não torna uma obrigação, para a filha, deixar seus pais e seguir o esposo? O mundo está cheio de casos em que as mais penosas separações são necessárias. Mas nem por isso as afeições se rompem. 
    O afastamento não diminui o respeito ou a solicitude que os filhos devem aos pais, nem a ternura destes para com os filhos. Vê-se, assim, que mesmo tomadas literalmente, salvo a palavra odiar, aquelas palavras não seriam a negação do mandamento que prescreve honrar seu pai e sua mãe, nem do sentimento de ternura paterna. Com mais forte razão, se entendidas segundo seu espírito.
    Elas objetivavam mostrar, por meio duma hipérbole, quanto é imperioso para a criatura o dever de cuidar da vida futura. Deviam por isso mesmo, ser menos chocantes para um povo e uma época em que, por força das circunstâncias, os laços de família eram menos fortes do que numa civilização moralmente mais adiantada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral.
    A própria separação é necessária ao progresso, tanto entre as famílias, quanto entre as raças. Elas  se degeneram, se não houver cruzamentos, se não se misturarem entre si. É uma lei da natureza, tanto no interesse do progresso moral quanto no do progresso físico.
     As coisas não são consideradas aqui apenas do ponto de vista terrestre. O Espiritismo nos faz vê-las de mais alto, ao nos mostrar que os verdadeiros laços de afeição são os do Espírito e não os do corpo; que esses laços não se rompem, nem pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que eles se fortificam na vida espiritual, pela depuração do Espírito; verdade consoladora, que nos dá uma grande força para suportar as vicissitudes da vida (cap. 4, n° 18, e cap. 14, nº 8).

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