EM DIA COM O MACHADO 383
Coerência, virtude difícil... II (jó)
Em conversa espiritual com H. Campos sobre as incoerências relatadas
em meu blog, ele contou-me a seguinte parábola, extraída de uma das crônicas
arquivadas em biblioteca do Mundo Maior, que fora narrada por Jesus, mas
não citada pelos evangelistas:
— Residiam em Jericó um fariseu idoso, usurário, com sua
esposa também idosa. Ambos, diariamente, subiam dessa cidade para Jerusalém,
onde ele fazia suas pregações. A mulher era possuidora de grande bondade e o
auxiliava nos trabalhos do templo.
Em suas palestras, Joseph Jacobson, o fariseu, sempre
ressaltava aos seus ouvintes a importância de auxiliar os pobres, não somente
com denários, como também na aquisição de seus produtos, para lhes garantir a
sobrevivência digna. E concluía com lindas orações.
Algo, porém, inquietava Joseph: sua esposa, atenta às suas
palavras, não perdia oportunidade de ajudar as pessoas diariamente. Como a
carência material encontrada pelo caminho era grande, sempre que a rica
carruagem com o casal, puxada por três lindos corcéis, parava numa vila,
Mariah, a generosa mulher, dava esmolas e comprava algo dos vendedores
ambulantes do local. Nada além de um denário.
Joseph, embora mesquinho com o próximo, gostava de usar
roupas caras, para causar boa impressão aos seus ouvintes. Certa ocasião, na
noite anterior à subida para o Templo de Salomão, gastou, na compra de ricas
roupas para si, 100 denários (aproximadamente R$ 3.000,00).
No dia seguinte, seguia com a esposa para Jerusalém. Ao
passarem pela primeira vila, a mulher, com dó de vendedor de banquinhos de
madeira, embora não precisasse, comprou um dos pequenos móveis, pelo qual pagou
o equivalente a um denário (R$ 30,00). Joseph, como bom fariseu, não perdeu
tempo:
— Desse jeito, mulher, quando voltarmos a Jericó, você já terá
gastado todo o nosso dinheiro. É como dizem: as mulheres, quando envelhecem,
acham que precisam comprar o céu, antes de morrer. Assim não é possível. Como
você é pródiga! Estou pensando em contratar uma curadora para você, Mariah. Não tem um dia que não
dê esmola ou que não compre algo no valor desse banquinho, que não nos serve
para nada.
E a mulher calada estava, calada ficou. Apenas pensou: Que é um denário diário, para quem
ganha 900 denários todo mês?
Somos bem o retrato desse fariseu. Com os desafortunados,
somos muito mesquinhos e com nós mesmos,
bastante pródigos. Coerência é virtude de poucos, muito poucos...
Lembrete:
Nossas crônicas são fruto de nossos devaneios literários, ainda que, por vezes,
baseados na recriação de fatos reais.
Bela reflexão, Jorge!
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