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sábado, 31 de agosto de 2019





5.6 O suicídio e a loucura

A calma e a resignação adquiridas na maneira de considerar a vida terrestre e a fé no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo  contra a loucura e o suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura são provocados pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, pelo modo com  que o Espiritismo o faz encarar as coisas deste mundo, ele recebe com indiferença, até mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o teriam desesperado, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que, sem isso, o perturbariam.

O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que se podem chamar de inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares apontados, a causa é sempre um descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de que serão melhores os dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera quando não vê um fim aos seus sofrimentos. 
Que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas aquele que não crê na eternidade e acredita que  tudo acabará com a vida deixa abater-se pelo desgosto e o infortúnio, então só vê na morte o fim das suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.
A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio: elas produzem a covardia moral. Quando, pois, se vêm homens de ciência, apoiando-se na autoridade do seu saber, esforçando-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores que eles nada têm a esperar depois da morte, não  estão tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que lhes poderiam dizer para desviá-los? Que compensação poderão oferecer-lhes? Que esperanças lhes podem dar? Nenhuma outra coisa além do nada! De onde se pode concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva possível, mais vale cair logo nele, e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das ideias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus defensores assumem terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em muito diferentes condições. Daí a paciência e a resignação, que o afastam muito naturalmente da ideia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.
O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele mostra-nos os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas, estão aqueles cujo sofrimento, mesmo sendo temporário, em vez de eterno, nem por isso é menos terrível, e de natureza a fazer refletir quem quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus.
O espírita tem, portanto, vários motivos para contrapor  à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a convicção de que, abreviando sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que se livra de um mal para cair noutro ainda pior, mais longo e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com aqueles que foram objeto  de suas afeições e aos quais esperava encontrar. A consequência de tudo isso é  que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses.
Desse modo, o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando-se os resultados da doutrina materialista e a espírita, sob o ponto de vista do suicídio, verificamos que a lógica materialista conduz a ele, enquanto a lógica espírita o evita, o que é confirmado pela experiência.

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