5.6 O
suicídio e a loucura
A calma e a resignação adquiridas na maneira de considerar a
vida terrestre e a fé no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor
preservativo contra a loucura e o
suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura são provocados pelas
vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, pelo modo com que o Espiritismo o faz encarar as coisas deste
mundo, ele recebe com indiferença, até mesmo com alegria, os revezes e as decepções
que em outras circunstâncias o teriam desesperado, é evidente que essa força, que
o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que, sem
isso, o perturbariam.
O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam
por força da embriaguez e da loucura, e que se podem chamar de inconscientes, é
certo que, sejam quais forem os motivos particulares apontados, a causa é
sempre um descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um
dia, e de que serão melhores os dias seguintes, facilmente adquire paciência.
Ele só se desespera quando não vê um fim aos seus sofrimentos.
Que é a vida
humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas aquele que não
crê na eternidade e acredita que tudo
acabará com a vida deixa abater-se pelo desgosto e o infortúnio, então só vê na
morte o fim das suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito
lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.
A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias
materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio: elas
produzem a covardia moral. Quando, pois, se vêm homens de ciência, apoiando-se
na autoridade do seu saber, esforçando-se para provar aos seus ouvintes ou aos
seus leitores que eles nada têm a esperar depois da morte, não estão tentando convencê-los de que, se são
infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que lhes poderiam dizer para desviá-los?
Que compensação poderão oferecer-lhes? Que esperanças lhes podem dar? Nenhuma
outra coisa além do nada! De onde se pode concluir que, se o nada é o único
remédio heroico, a única perspectiva possível, mais vale cair logo nele, e não
mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das ideias materialistas é, portanto, o veneno que
inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus defensores
assumem terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais
permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga
indefinidamente para além do túmulo, mas em muito diferentes condições. Daí a
paciência e a resignação, que o afastam muito naturalmente da ideia do suicídio.
Daí, numa palavra, a coragem moral.
O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado
igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele mostra-nos os próprios
suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém
pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida.
Entre os suicidas, estão aqueles cujo sofrimento, mesmo sendo temporário, em vez
de eterno, nem por isso é menos terrível, e de natureza a fazer refletir quem
quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus.
O espírita tem, portanto, vários motivos para contrapor à ideia do suicídio: a certeza de uma vida
futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais
resignado tiver sido na Terra; a convicção de que, abreviando sua vida,
chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que se livra de um
mal para cair noutro ainda pior, mais longo e mais terrível; que se engana ao
pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um
obstáculo à reunião, no outro mundo, com aqueles que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava
encontrar. A consequência de tudo isso é que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é
contrário aos seus próprios interesses.
Desse modo, o número de suicídios que o Espiritismo impede é
considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá
mais suicídios conscientes. Comparando-se os resultados da doutrina
materialista e a espírita, sob o ponto de vista do suicídio, verificamos que a
lógica materialista conduz a ele, enquanto a lógica espírita o evita, o que é
confirmado pela experiência.
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