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sábado, 24 de agosto de 2019


Continuamos nossa livre tradução, em terceira pessoa, d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, em sua terceira edição francesa.


5.5 Motivos de resignação

Por estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, Jesus indica, ao mesmo tempo, a compensação que espera os que sofrem e a resignação que os faz bendizer o sofrimento, como o prelúdio da cura.
Essas palavras podem, também, ser traduzidas assim: Considerem-se felizes por sofrer, porque suas dores neste mundo são as dívidas de suas faltas passadas, e essas dores, quando suportadas pacientemente na Terra, poupam-lhes séculos de sofrimento na vida futura.  Sintam-se felizes, por Deus ter reduzido a sua dívida, permitindo-lhes quitá-las no presente, o que lhes assegura a tranquilidade no futuro.
O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande soma, a quem o credor diz: "Se me pagar hoje mesmo a centésima parte, darei quitação do resto e você ficará livre; se não, vou persegui-lo até que pague o último centavo". O devedor não se sentiria feliz por suportar todo tipo de privações, para se livrar da dívida pagando somente a centésima parte dela? Em vez de queixar-se do credor, não lhe agradeceria?
Tal é o sentido das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados". Eles são felizes porque pagam suas dívidas, e após o pagamento estarão livres. Mas se, ao procurar quitá-las de um lado, de outro se endividarem, jamais se libertarão. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, pois não existe uma única falta, qualquer que seja, que não traga consigo a própria punição, necessária e inevitável. Se não for hoje, será amanhã; se não for nesta vida, será em outra. Entre essas faltas, devemos colocar em primeiro lugar a falta de submissão à vontade de Deus. Desse modo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação, como alguma coisa que merecemos, se acusamos a Deus de ser injusto, contraímos nova dívida, que nos faz perder os benefícios do sofrimento. Eis porque precisamos recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma quantia e a tomássemos de novo por empréstimo.
Em sua entrada no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o trabalhador que comparece no dia de pagamento. A uns, o Senhor dirá: "Eis o salário do seu dia de trabalho". A outros, aos felizes da Terra, aos que viveram na ociosidade, que puseram sua felicidade na satisfação do amor-próprio e dos prazeres mundanos, dirá: "Vocês nada têm a receber, porque já receberam seu salário na Terra. Voltem e recomecem sua tarefa".
O homem pode abrandar ou aumentar o amargor das suas provas, pela maneira de encarar a vida terrena. Tanto mais sofre, quanto mais longa considere a duração do sofrimento. Ora, aquele que se coloca no ponto de vista da vida espiritual abarca a vida corporal num golpe de vista. Ele a vê como um ponto do infinito, compreende a sua brevidade e reconhece que esse momento penoso passará bem depressa. A certeza de um futuro próximo  mais feliz o sustenta e encoraja e, em vez de se lamentar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Para aquele, ao contrário, que somente vê a vida corpórea, esta lhe parece interminável, e a dor cai sobre ele com todo o seu peso. O resultado daquela maneira de encarar a vida é diminuir a importância das coisas deste mundo, levando o homem a moderar seus desejos e a contentar-se com sua posição, sem invejar a dos outros, atenuando a dor moral dos revezes e das decepções que experimenta. Ele se torna possuído, assim, duma calma e duma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma; enquanto com a inveja, o ciúme e a ambição, se entrega voluntariamente à tortura e aumenta as misérias e as angústias de sua curta existência.

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