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sexta-feira, 16 de agosto de 2019






5.4 Esquecimento do passado

É em vão que se opõe o esquecimento como obstáculo ao aproveitamento da experiência das existências anteriores. Se Deus julgou conveniente esquecer o passado, é que isso deve ser útil. Com efeito, essa lembrança traria inconvenientes muito graves. Poderia, em certos casos, humilhar-nos excessivamente, ou então exaltar nosso orgulho, e por isso mesmo entravar nosso livre-arbítrio. Em todo caso, provocaria perturbação inevitável nas relações sociais.
O Espírito renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, e se encontra em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Se reconhecesse nelas aquelas que havia odiado, talvez o ódio a elas despertasse novamente. Em todo caso, ficaria humilhado diante daqueles que houvesse ofendido.
Deus, para nos melhorarmos, deu-nos justamente o que nos é necessário e nos basta: a voz da consciência e nossas tendências instintivas; porém, tira-nos o que nos poderia prejudicar.
O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu. Nasce como se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal. Suas más tendências atuais indicam o que lhe resta corrigir em si mesmo, e é sobre isso que ele deve concentrar toda a sua atenção, pois daquilo que está completamente corrigido não lhe resta mais nenhum sinal. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, que o adverte do que é bem e do que é mal e lhe dá a força de resistir às más tentações.
De resto, esse esquecimento só existe durante a vida corpórea. De volta à vida espiritual, o Espírito relembra o passado. Trata-se, portanto, apenas de uma interrupção momentânea, como aquela que ocorre na vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no outro dia, o que fizemos na véspera e nos dias anteriores.
Do mesmo modo, não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do seu passado. Pode dizer-se que nunca a perde, pois a experiência prova que, mesmo encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de certa liberdade e tem consciência de seus atos anteriores. Sabe por que sofre, e que sofre justamente. A lembrança só se apaga durante a vida exterior de relação. Mas, na falta de uma lembrança exata, que lhe poderia ser penosa e prejudicial às suas relações sociais, ele adquire novas forças nesses instantes de emancipação da alma, se souber aproveitá-los.

Um comentário:

  1. Aí está, meus queridos leitores, mais um item desse maravilhoso livro em nossa livre tradução da terceira edição francesa: L'Evangile selon le Spiritisme (O Evangelho Segundo o Espiritismo).❤

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