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terça-feira, 6 de agosto de 2019




Em dia com o Machado 379:
Caridade, o mais longo poema de Parnaso de Além-Túmulo (jó)

Caía a noite em paz. Crepúsculo. Horas quedas.
Horas de solidão. Pelas planícies ledas,
A asa ruflando inquieta, os meigos passarinhos
Recolhiam-se à pressa, em busca dos seus ninhos.

Assim começa Caridade. O mais longo poema do Espírito Guerra Junqueiro, em Parnaso de Além-Túmulo, livro psicografado por Chico Xavier. Parnaso, em sua primeira edição, continha poemas ditados por quatorze poetas desencarnados ao jovem, que na época estava com 21 anos. Tempos depois, subiu para 56 o número de poetas do Além... Quatro vezes mais do que em 1932, quando a obra já chamara a atenção de críticos e dos renomados escritores Monteiro Lobato e Humberto de Campos.
A obra que possuo está em sua 19ª ed. e quarta reimpressão. Essa edição de 737 páginas, embora publicada em 2016, comemora os cem anos de renascimento de Chico. Mas o médium mineiro, caso ainda estivesse entre nós, teria completado um século em 2010. Tenho outra publicação da mesma obra que já estava em sua 16ª edição em 2002, data da desencarnação de Francisco Cândido aos 92 anos. Essas 35 edições e suas reimpressões foram publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
As poesias são analisadas e comentadas por Elias Barbosa, o que enriquece muito os textos líricos dessa antologia. Entre poetas pouco conhecidos, destacam-se brasileiros e portugueses do quilate literário de Castro Alves, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimarães, Alberto de Oliveira, Augusto dos Anjos, Auta de Sousa, Olavo Bilac, Antero de Quental etc.
O poema Caridade, ao qual me refiro, ocupa oito páginas do livro atual e contém 260 versos de doze sílabas métricas, também chamados alexandrinos. Curiosamente, Caridade possui o número de versos alexandrinos equivalente à quantidade de poemas contidos na obra.
 Somente sobre essa poesia, daria para se escrever um livro, se a fôssemos analisar em todos os seus aspectos rítmicos, em suas rimas, estrofes, vocabulário e conteúdo.
O Espírito Guerra Junqueiro foi poeta português nascido em 1850 e desencarnado em 1923. Pela psicografia de Chico Xavier, legou-nos seis poemas nessa obra: O padre João; Caridade; Romaria; Eterna vítima; A um padre; e Um quadro da quaresma.
Todos esses poemas são longos, mas nenhum se compara, em tamanho, com Caridade. Esse poema, de acordo com a edição de 2002, que comemorou 70 anos da primeira edição, possui 13 estrofes de versos alexandrinos: a primeira com 30 versos, a segunda com 4, a terceira com 8, a quarta, quinta e sexta com 26 versos em cada estrofe, a sétima estrofe com 12 versos, a oitava com 38, a nona com 60, a décima com 18 e, da 11ª à 13ª, cada estrofe contém quatro versos.
Na edição comemorativa atual, publicada em 2016, a segunda estrofe de quatro versos foi agrupada, por equívoco, à primeira que, desse modo, ficou com 34 versos. Na próxima edição, esperamos corrigir essa falha.
O conteúdo do poema, resumidamente falando, aborda o diálogo do poeta com a Caridade, entidade que se apresenta em visão ao vate português. O sublime Espírito Caridade diz agir como ensinava Jesus. Compadece-se dos maus e os socorre, tanto quanto aos bons. Sua mensagem contrasta com a indiferença e o egoísmo humanos citados pelo poeta. Por fim, o autor espiritual enaltece a grandiosidade do amor expresso pela Caridade, que termina dizendo-lhe: “Minha missão é amar os vermes e os países!...”
Extasiado, conclui o poeta:

Muito tempo passara e a noite inda era escura.
Noite de neve atroz, noite de desventura!
Foi-se a linda visão, dissipando as neblinas,
Repartindo o seu pão de carícias divinas.

Tudo voltou à paz silenciosa e calma...
O inverno e o pesar; e aos olhos da minh’alma,
O mundo famulento, a Terra, parecia
O planeta da sombra e a mansão da agonia.

Para entender por que o poema termina assim, convido o leitor e a leitora curiosos a lerem toda essa obra-prima da poesia mediúnica no livro citado.

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