Em dia com o Machado 379:
Caridade, o mais longo
poema de Parnaso de Além-Túmulo (jó)
Caía
a noite em paz. Crepúsculo. Horas quedas.
Horas
de solidão. Pelas planícies ledas,
A
asa ruflando inquieta, os meigos passarinhos
Recolhiam-se
à pressa, em busca dos seus ninhos.
Assim começa Caridade. O mais
longo poema do Espírito Guerra Junqueiro, em Parnaso de Além-Túmulo, livro
psicografado por Chico Xavier. Parnaso, em sua primeira edição, continha
poemas ditados por quatorze poetas desencarnados ao jovem, que na época estava
com 21 anos. Tempos depois, subiu para 56 o número de poetas do Além... Quatro
vezes mais do que em 1932, quando
a obra já chamara a atenção de críticos e dos renomados escritores Monteiro
Lobato e Humberto de Campos.
A obra que possuo está em sua 19ª ed. e
quarta reimpressão. Essa edição de 737 páginas, embora publicada em 2016,
comemora os cem anos de renascimento de Chico. Mas o médium mineiro, caso ainda
estivesse entre nós, teria completado um século em 2010. Tenho outra publicação
da mesma obra que já estava em sua 16ª edição em 2002, data da desencarnação de
Francisco Cândido aos 92 anos. Essas 35 edições e suas reimpressões foram
publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
As poesias são analisadas e comentadas por Elias Barbosa, o que enriquece muito
os textos líricos dessa antologia. Entre poetas pouco conhecidos, destacam-se
brasileiros e portugueses do quilate literário de Castro Alves, Cruz e Sousa,
Alphonsus de Guimarães, Alberto de Oliveira, Augusto dos Anjos, Auta de Sousa,
Olavo Bilac, Antero de Quental etc.
O poema Caridade, ao qual me
refiro, ocupa oito páginas do livro atual e contém 260 versos de doze sílabas
métricas, também chamados alexandrinos. Curiosamente, Caridade possui o número
de versos alexandrinos equivalente à quantidade de poemas contidos na
obra.
Somente
sobre essa poesia, daria para se escrever um livro, se a fôssemos analisar em
todos os seus aspectos rítmicos, em suas rimas, estrofes, vocabulário e
conteúdo.
O Espírito Guerra Junqueiro foi poeta
português nascido em 1850 e desencarnado em 1923. Pela psicografia de Chico
Xavier, legou-nos seis poemas nessa obra: O padre João; Caridade;
Romaria; Eterna vítima; A um padre; e Um quadro da
quaresma.
Todos esses poemas são longos, mas
nenhum se compara, em tamanho, com Caridade. Esse poema, de acordo com a
edição de 2002, que comemorou 70 anos da primeira edição, possui 13 estrofes de
versos alexandrinos: a primeira com 30 versos, a segunda com 4, a terceira
com 8, a quarta, quinta e sexta com 26 versos em cada estrofe, a sétima estrofe
com 12 versos, a oitava com 38, a nona com 60, a décima com 18 e, da 11ª à 13ª,
cada estrofe contém quatro versos.
Na edição comemorativa atual, publicada
em 2016, a segunda estrofe de quatro versos foi agrupada, por equívoco, à
primeira que, desse modo, ficou com 34 versos. Na próxima edição, esperamos
corrigir essa falha.
O conteúdo do poema, resumidamente
falando, aborda o diálogo do poeta com a Caridade, entidade que se
apresenta em visão ao vate português. O sublime Espírito Caridade diz agir como ensinava Jesus. Compadece-se
dos maus e os socorre, tanto quanto aos bons. Sua mensagem contrasta com a
indiferença e o egoísmo humanos citados pelo poeta. Por fim, o autor espiritual
enaltece a grandiosidade do amor expresso pela Caridade, que termina
dizendo-lhe: “Minha missão é amar os vermes e os países!...”
Extasiado, conclui o poeta:
Muito tempo passara e a noite
inda era escura.
Noite de neve atroz, noite de desventura!
Foi-se a linda visão, dissipando
as neblinas,
Repartindo o seu pão de carícias
divinas.
Tudo voltou à paz silenciosa e
calma...
O inverno e o pesar; e aos olhos
da minh’alma,
O mundo famulento, a Terra,
parecia
O planeta da sombra e a mansão da
agonia.
Para entender por que o poema termina
assim, convido o leitor e a leitora curiosos a lerem toda essa obra-prima da
poesia mediúnica no livro citado.
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