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sexta-feira, 2 de agosto de 2019


Continuação da tradução livre da terceira edição de L'Evangile selon Le Spiritisme. Por Jorge Leite de Oliveira. Cap. 5 BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

5.2 Causas atuais das aflições

As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se o preferirem, vêm de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.
Remontando-se à origem dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a consequência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem.
Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mal proceder, ou por não terem limitado os seus desejos!
Quantas uniões infelizes, porque resultaram dos cálculos do interesse ou da vaidade, e nas quais o coração não tomou parte!
Quantas dissensões e disputas funestas poderiam ser evitadas com mais moderação e menos suscetibilidade!
Quantos vícios e enfermidades são o efeito da intemperança e dos excessos de todos os gêneros!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, por não lhes terem combatido as más tendências desde o princípio. Por fraqueza ou indiferença, deixaram que se desenvolvessem neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração. Mais tarde, colhendo o que semearam, admiram-se e afligem-se da falta de respeito e da ingratidão com que são tratados por eles.
Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes e pelas decepções da vida, interroguem friamente a própria consciência. Que remontem passo a passo à origem dos males que os afligem, e verão se, na maioria das vezes, não poderão dizer: "Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria nesta situação".
A quem, então, se devem todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande número de casos, o causador de seus próprios infortúnios. Mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, e menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a falta de oportunidade, sua má sorte, enquanto, na verdade, sua má estrela é a sua própria incúria.
Os males dessa natureza fornecem, certamente, um notável contingente das vicissitudes da vida. O homem as evitará, quando trabalhar para o seu adiantamento moral e intelectual.
A lei humana alcança certas faltas e as pune. O condenado pode então reconhecer que sofreu a consequência do que fez. Mas a lei não alcança nem pode alcançar a todas as faltas. Incide, especialmente, sobre as que causam prejuízos à sociedade, e não sobre as que prejudicam apenas os que as cometem. Deus, porém, quer que toda as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune nenhum desvio do caminho reto. Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não acarrete consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos consequentes do pecado são então uma advertência de que agiu mal. Dão-lhe experiência e o fazem sentir a diferença entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar, para evitar no futuro o que já foi para ele uma causa de mágoas. Sem isso, ele não teria motivo para se emendar. Confiante na impunidade, retardaria o seu adiantamento, e, em consequência, sua felicidade futura.
Mas a experiência chega, algumas vezes, um pouco tarde. E quando a vida já foi desperdiçada e turbada, quando as forças já estão gastas e o mal é irremediável, então o homem se põe a dizer: "Se no começo dos meus dias eu soubesse o que hoje sei, quantos passos em falso teria evitado; se tivesse de recomeçar, eu me portaria de outra maneira; mas não há mais tempo!" Como o trabalhador preguiçoso que diz: "Perdi o meu dia", ele também diz: "Perdi a minha \/ida". Porém, assim como para o trabalhador o sol se levanta no dia seguinte, e uma nova jornada começa, que lhe permite reparar o tempo perdido, para o homem também, após a noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.


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