Em dia com o Machado 214 (jlo)
Josias
foi criado no interior de Goiás. Membro de prole com dez irmãos, era o do meio
dentre os filhos de Cirila e Joaquim, que possuíam um sítio de 30 mil metros
quadrados em Luziânia, GO. Na época, a única escola primária da região distava 20
km do sítio de seus pais e não havia facilidade de transporte pela estrada de
terra até o colégio. Então, era comum que os parentes mais velhos ensinassem aos
mais novos a cartilha e o alfabeto, para que estes possuíssem rudimentos do
conhecimento, até que pudessem frequentar a escola...
Desse
modo, uma prima mais velha de Josias foi encarregada de “educá-lo”, mas cumpriu
sua missão com tal zelo que já na terceira aula o menino de seis anos foi
dispensado para ajudar o pai na roça. A prima, que se chamava Charlott, usava
uma régua de madeira, com 50cm de comprimento e, toda vez que o menino se
confundia e esquecia o nome de uma letra ou a tabuada de multiplicar por seis,
metia-lhe uma reguada na cabeça.
A
criança, então, foi tida como caso perdido para os estudos, mas era excelente
auxiliar do pai nos serviços de roça e ordenha de vacas. Quando cresceu,
assumiu o posto de vaqueiro, no que era insuperável. Não lhe faltava boa
alimentação e roupas que já não cabiam mais nos cinco irmãos mais velhos. Às
vezes, mamãe Cirila precisava remendá-las com fazendas de outras cores de
roupas, mas todos achavam muita graça nisso.
E
a vida na roça continuava... continuava... continuava...
Josias
cresceu e com isto também aumentou sua fama de defensor do meio ambiente, além
de ter aprendido com seus pais a não falar palavrões e zelar para que seus
irmãos também não os dissessem, em especial, os mais novos, pois a hierarquia
de idade era bastante rígida na família. Ele também era admirado pela força,
inclusive do caráter, e beleza física.
Certo
dia, o vizinho emprestou-lhe duas juntas de bois, que eram utilizados para transportar
frutos dos sítios e fazendas locais, na condição de realizar um desses serviços
para o Sr. Joaquim, o pai de Josias, e depois emprestá-las a outro vizinho,
para o mesmo serviço. Josias cumpriu o prometido e realizou o serviço para sua
família, numa segunda-feira; no dia seguinte, levou as juntas para o outro vizinho
servir-se delas, com a recomendação de este devolvê-las ao seu dono até a
sexta-feira daquela semana.
Aconteceu,
porém, que, uma semana depois, o dono das juntas reclamou com Josias sobre o
não cumprimento do trato. Este não pensou duas vezes, foi ao sítio do outro
vizinho, desatrelou as duas juntas de bois do carro deste e devolveu-as ao seu proprietário...
Ao
perceber isso, o vizinho que retinha os bois, além do tempo razoável, como fora
combinado, aborreceu-se com Josias e não mais lhe dirigiu palavra.
Duas
semanas depois, um dos filhos desse vizinho, de apenas oito anos, afogou-se no
rio local. Josias foi uma das primeiras pessoas a saber da notícia. Então, não
pensou duas vezes, atirou-se na água com as roupas do corpo e salvou a criança.
Nem
é preciso dizer que o pai do garoto se tornou seu melhor amigo e compadre.
Outro
caso envolvendo Josias deu-se com um sobrinho, que lhe era vizinho. Entre suas casas,
havia um pequeno pomar. Certo dia, seu sobrinho Lair atirava pedras em um
passarinho, imóvel sobre um galho de uma mangueira. Tentou uma, duas, três
vezes sem sucesso; até que, na quarta tentativa, derrubou a avezinha, que caiu
morta no solo. Da janela de sua casa, Josias observava a arte do sobrinho de
doze anos e lhe disse o seguinte: — Lair, você é mesmo ruim de pontaria... Só
acertou a pobre avezinha porque ela já estava morrendo... Mas, Lair, por que
matar passarinhos? Os animais também, como nós, são criaturas de Deus.
Lair
ficou tão envergonhado do que fez que nunca mais maltratou qualquer animal.
Tempos
após, Lair tropeçou numa pedra e disse um monte de palavrões e pragas. A menor
delas foi: “maldita pedra”. Vendo a cena, o tio socorreu-o e recomendou-lhe:
—
Lair, não diga palavras tão feias por ter tropeçado numa pedra. Ela nada tem
com isso e nem sua dor vai diminuir, pelo contrário, ainda vai ser maior. Aprenda
com a lição da pedra; da próxima vez, preste atenção por onde anda e você não
mais se machucará.
Assim
era Josias, protetor intransigente da Natureza. Essas e outras ações dele, que
não media esforços em socorrer qualquer pessoa necessitada de seu auxílio, o
fizeram ser conhecido como defensor da Natureza.
Josias
casou-se, teve oito filhos, mas adoeceu e desencarnou aos cinquenta anos. Do Plano Espiritual, sempre buscava auxiliar a família que deixara órfã. Por ser
espírita, sentia-se sobretudo atraído pela família de uma das filhas, também
espírita, que realizava o culto do evangelho no lar em dia certo da semana.
Durante anos, o Espírito Josias se fazia presente e era visto pelo marido da
filha, o qual, sendo vidente e audiente, “conversava” com ele.
Até
que, certo dia, Josias avisou ao casal de que estaria se desligando dessas
visitas por ter sido convocado a frequentar um curso preparatório, haja vista sua necessidade de regressar à Terra, em novo corpo, para novos aprendizados após passar cinquenta anos no Plano Espiritual.
Dez
anos após, um dos filhos casados dessa família tinha dois filhos, que estavam
matriculados nos cursos primário e maternal de uma escola católica. Um deles,
Marcos, tinha seis anos, e o outro, Jair, três. O mais velho era um pouco,
digamos assim, relaxado em questões de limpeza e arrumação da casa. Ao se
alimentar, deixava brinquedos, roupas e resíduos de comida espalhados pela casa
inteira, que a empregada doméstica, pacientemente, limpava. O mais novo, por
iniciativa própria, embora com metade da idade, chamava a atenção do irmão por
sua falta de cuidados e demonstrava insatisfação com a desarrumação da casa,
que, dentro do possível a uma criança de sua idade, tentava arrumar... Certo
dia, a doméstica faltou ao serviço e a mãe o surpreendeu lavando as louças sujas
que estavam sobre a pia da cozinha.
Em
outra ocasião, após brincar com o irmão e o primo de dois anos, na casa dos
avós, ao se despedirem, ante a indiferença das mães em guardarem os brinquedos
espalhados pelo quarto onde se divertiram, Jair tomou a iniciativa de guardar
todos os brinquedos espalhados pelo quarto, o que deixou as mães sem graça e
logo estas se puseram a ajudá-lo.
Dias depois, ao ir pegá-lo e ao seu irmão no colégio católico onde estavam matriculados, seu
pai observou, na saída da escola, um pedaço de cartolina recortado e dependurado no
pescoço do Jair onde se lia: DEFENSOR DA NATUREZA.
Na
ida dos três para o carro, o irmão mais velho pediu ao pai para este lhes comprar
pipoca. O pai atendeu-o, colocou ambos os filhos no carro e recomendou-lhes:
—
Não quero ver um só grão de pipoca no banco ou no chão do carro...
Ao
também entrar no automóvel, o pai ouviu o filho menor, com a voz grave, dizer
para o maior: — Marcos, você não ouviu o que disse o papai? Pegue a pipoca que
você deixou cair!
Há
tantos outros casos coincidentes nas histórias de Josias e Jair que, se
fôssemos relatá-los todos, creio que nem ainda os livros do mundo inteiro os
comportariam (ver: Evangelho de João, 21:25).
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