Criança que Chora

(Irmão Jó)

 

Por que chora esta criança?

Faz frio intenso esta noite

Em que volto para casa,

Onde mantenho a esperança

De agasalhar-me do frio.

 

Entretanto, vejo tanta

Criança com calafrio

Que estremeço, também,

Pensando no sofrimento

Que avisto neste momento:

 

Menino, sem ter ninguém,

Com roupa bem pobrezinha,

Chora suado e com dor 

Em meio a montes de carros,

Expulso por flanelinha...

O desprovido da sorte

Vaga sozinho ao léu,

Em penares desumanos...

Tão pobre, tão triste réu,

E conta só com dez anos.

 

Passa alguém diz: “Vagabundo!”

Outro diz: “Brigou na rua”,

Mas o menino sem nome

Apenas chora de fome,

Geme de frio e cansaço.

Ninguém lhe vê a carência,

Ninguém lhe dá um abraço!

Sua vida é só sofrência,

Sua família, em demência,

Expulsou-o do seu espaço.

Agora, abandonado,

Quisera, o pobrezinho,

Ter um lar onde morar,

Ter a ventura e o carinho

Da mãe, ao vê-lo chorar.

 

Quisera, o desgraçado,

Encontrar, nalgum lugar,

Pelo menos um calçado,

Agasalho para usar,

Ter infância, estudar...

 

Quisera poder achar

Alguém a lhe dar comida,

Alguém que, ao vê-lo chorar,

Tivesse dó de sua vida

Sem precisar mendigar.

 

Quisera, o maltrapilho,

Poder deitar-se e ao dormir

Ouvir do espaço: “Meu filho!”

Jesus espera por ti...

Erguer-se e dali sair.

Brasília, DF, 24 de dezembro...

Dia do Órfão

Poema publicado em 24 de agosto de 2024, agora em reedição definitiva com acréscimos.