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terça-feira, 14 de outubro de 2025


ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 


214. Que se deve pensar dessas histórias de crianças que lutam no seio materno?

“Lendas! Para significarem quão inveterado era o ódio que reciprocamente se votavam, figuram-no a se fazer sentir antes do nascimento delas. Em geral, não levais muito em conta as imagens poéticas.”

 

Comentário

O grande romancista Machado de Assis, em diversas obras suas, e em especial nos romances, ainda que usando sua conhecida ironia e sátira, demonstra ter conhecido bem o Espiritismo, que utilizava em seus textos. No romance Esaú e Jacó, por exemplo, ele cita o caso dos gêmeos que lutavam entre si já no ventre materno. Crescidos, um se formou em medicina, o outro em direito. Mas isso é ficção; na vida real, o que há é o reencontro de Espíritos em corpos gêmeos como almas simpáticas ou não. No último caso, nascem como gêmeos na tentativa de se reconciliarem.

 

215. O que dá origem ao caráter distintivo que se nota em cada povo?

“Também os Espíritos se grupam em famílias, formando-as pela analogia de seus pendores mais ou menos puros, conforme a elevação que tenham alcançado. Pois bem! um povo é uma grande família formada pela reunião de Espíritos simpáticos. Na tendência que apresentam os membros dessas famílias, para se unirem, é que está a origem da semelhança que, existindo entre os indivíduos, constitui o caráter distintivo de cada povo. Julgas que Espíritos bons e humanitários procurem, para nele encarnar, um povo rude e grosseiro? Não. Os Espíritos simpatizam com as coletividades, como simpatizam com os indivíduos. Naquelas em cujo seio se encontrem, eles se acham no meio que lhes é próprio.”

 

Comentário

Assim como as individualidades, as coletividades tendem a formar grandes famílias simpáticas. Com relação aos povos, é essa tendência de união por simpatia que faz nascer o caráter distintivo de cada povo.

 

216. Em suas novas existências conservará o Espírito traços do caráter moral de suas existências anteriores?

“Isso pode dar-se. Mas, melhorando-se, ele muda. Pode também acontecer que sua posição social venha a ser outra. Se de senhor passa a escravo, inteiramente diversos serão os seus gostos e dificilmente o reconheceríeis. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos da posição que ocupe, até que um aperfeiçoamento notável lhe haja mudado completamente o caráter, porquanto, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e bondoso, se se arrependeu.”

 

Comentário

Em cada encarnação, damos um passo à frente na direção do aperfeiçoamento. Entretanto, se fomos mal senhor numa existência, na outra podemos ser um humilde servidor. Com as experiências reencarnatórias, o mau Espírito pode tornar-se melhor, se se arrependeu. O bom, que se esforçou em ser melhor, jamais deixará de ser bondoso.

 

217. E do caráter físico de suas existências pretéritas conserva o Espírito traços nas suas existências posteriores?

“O novo corpo que ele toma nenhuma relação tem com o que foi anteriormente destruído. Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Sem dúvida que este é unicamente matéria, porém, nada obstante, se modela pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime certo cunho, sobretudo ao rosto, pelo que é verdadeiro dizer-se que os olhos são o espelho da alma, isto é, que o semblante do indivíduo lhe reflete de modo particular a alma. Assim é que uma pessoa excessivamente feia, quando nela habita um Espírito bom, criterioso, humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo que há rostos belíssimos que nenhuma impressão te causam, que até chegam a inspirar-te repulsão. Poderias supor que somente corpos bem moldados servem de envoltório aos mais perfeitos Espíritos, quando o certo é que todos os dias deparas com homens de bem, sob um exterior disforme. Sem que haja pronunciada parecença, a semelhança dos gostos e das inclinações pode, portanto, dar lugar ao que se chama ‘um ar de família’.”

 

Comentários

“Os olhos são o espelho da alma”. É importante observar isso como recomendação dos Espíritos. É por isso que pessoas de aparência bela, mas de mau caráter não nos passa boa impressão pelo olhar, mas alguém desprovido da beleza física que seja bom sempre nos transmite sensação agradável em sua presença.

Nenhuma relação essencial guardando o corpo que a alma toma numa encarnação com o de que se revestiu em encarnação anterior, visto que aquele lhe pode vir de procedência muito diversa da deste, fora absurdo pretender-se que, numa série de existências, haja uma semelhança que é inteiramente fortuita. Todavia, as qualidades do Espírito frequentemente modificam os órgãos que lhe servem para as manifestações e lhe imprimem ao semblante físico e até ao conjunto de suas maneiras um cunho especial. É assim que, sob um envoltório corporal da mais humilde aparência, se pode deparar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob um envoltório de aspecto senhoril se percebe frequentemente a da baixeza e da ignomínia. Não é pouco frequente observar-se que certas pessoas, elevando-se da mais ínfima posição, tomam sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas aí vêm a achar-se de novo no seu elemento. Outras, contrariamente, apesar do nascimento e da educação, se mostram sempre deslocadas em tal meio. De que modo se há de explicar esse fato, senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?

 

218. Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?

“Guarda vaga lembrança, que lhe dá o que se chama ideias inatas.”

 a) Não é, então, quimérica a teoria das ideias inatas?

“Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente. Em cada nova existência, o ponto de partida, para o Espírito, é o em que, na existência precedente, ele ficou.”

b) Grande conexão deve então haver entre duas existências consecutivas?

“Nem sempre, tão grande quanto talvez o suponhas, dado que bem diferentes são, muitas vezes, as posições do Espírito nas duas e que, no intervalo de uma a outra, pode ele ter progredido.”

 

Comentário

Todos temos características psicológicas provocadas por conhecimentos inatos que trazemos de existências anteriores. São as chamadas “ideias inatas” que, muitas vezes, permitem a uma pessoa aprender rapidamente o que a outra não é possível. É isso que diferencia as capacidades intelectuais e morais dumas pessoas em relação a outras. É no mundo espiritual que o Espírito entra de posse de todos os seus conhecimentos, pois o que ele aprende jamais se perde.

 

219. Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo etc.?

“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? O corpo muda, o Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem.”


Comentário

Os conhecimentos de cada Espírito o diferenciam dos demais. Encarnado, se o Espírito já adquiriu conhecimentos das artes, da filosofia, da religião e da ciência ele se pode destacar-se em relação a tais aquisições intelectuais e morais.

 

220. Pode o Espírito, mudando de corpo, perder algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo, o gosto das artes?

“Sim, desde que conspurcou a sua inteligência ou a utilizou mal. Ademais, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra, que nenhuma relação tem com aquela. Esta, então, fica em estado latente, para reaparecer mais tarde.”

 

Comentário

Se o Espírito reencarnar com o objetivo de adquirir novos conhecimentos que nada tenham a ver com os seus conhecimentos anteriores, ele pode ter uma ou outra faculdade adormecida, embora, como Espírito, nada se perde. Caso tenha usado mal as faculdade, o Espírito pode também ficar privado de utilizá-la em seu novo corpo.


221. Dever-se-ão atribuir a uma lembrança retrospectiva o sentimento instintivo que o homem, mesmo selvagem, possui da existência de Deus e o pressentimento da vida futura?

“É uma lembrança que ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar, mas o orgulho amiudadamente abafa esse sentimento.”

 

a) Serão devidas a essa mesma lembrança certas crenças relativas à Doutrina Espírita, que se observam em todos os povos?

“Esta doutrina é tão antiga quanto o mundo; tal o motivo por que em toda parte a encontramos, o que constitui prova de que é verdadeira. Conservando a intuição do seu estado de Espírito, o Espírito encarnado tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas os preconceitos bastas vezes falseiam essa ideia e a ignorância lhe mistura a superstição.”

Comentário

O conhecimento de Deus está latente nas consciências de todos nós, seus filhos. Sempre existiu, somente a acomodação com teorias humanas desprovidas da realidade e o orgulho, além do falso saber podem negar o que já trazemos como intuição sobre a existência de Deus. No mundo espiritual, nenhuma teoria, por mais elaborada que seja, supera a certeza.


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