Em
dia com o Machado 57 (jlo)
Olá, amigo,
boa-tarde!
Conforme dizia minha avó, “Caldo de galinha e prudência
nunca fizeram mal a ninguém”. Aliás, no meu tempo, os galináceos eram tão
apreciados que até briga de galos era permitido. Na época (séc. XIX), a
chamamos de Jockey Club dos pobres, pela
fama que o evento possuía entre as pessoas das classes c e d, os seja, os
humildes, não de coração, mas de condição econômica. Você duvida? Pesquise no
google.
Não gosto de mentir, caro leitor; o que faço é florear a
verdade, com pétalas perfumadas. E não é à toa que foi criado este brocardo: “Seja
como o sândalo, que perfuma o Machado que o fere”. Isso é coisa de despeitados
que implicam com meu jeito caramujo de ser. Proponho a seguinte troca: “Seja
como o Machado, que espalha o perfume do sândalo num só golpe”.
Mas falávamos de galinhas e galos; as primeiras, cosidas
na panela; os segundos, por seu adversário nas apreciadas rinhas. Aos seus
apreciadores, as lutas de galo produziam grandes ensinamentos. Havia apostas e
era possível levantar um dinheirinho na fezinha no galo vencedor, o que
permitia ao felizardo ganhador, com a grana obtida, comprar uns dois ou três galos...
É
corrente a piada em que um apostador pergunta a um expert qual dos dois galos era o bom: o branco ou o preto. A
resposta foi que o branco era o melhor. Diante disso, o apostador aplicou seu
salário semanal na vitória do galo alvo.
Qual não
foi sua surpresa, porém, quando observou que, iniciada a briga, o galo preto
partiu com tudo para cima do branco, o qual, à maneira dos poetas, era um felibata
e, em seus devaneios, imaginava um mundo em que não havia briga de galos, orbe em
que os galos se amavam, como irmãos, e as galinhas eram divididas,
fraternalmente, entre todos.
O galo
preto, porém, não queria saber de ideias utópicas e insistia em bicar,
impiedosamente, seu irmão penoso, que fugia sempre e nunca reagia. Até que,
exausto de tanto ser bicado, o galo branco abriu as asas e o corpo desceu à terra, a alma subiu ao céu, como ocorreu com
Ismália, a louca do poema de Alphonsus de Guimarães.
Ante o
insucesso de sua aposta, o apostador infeliz foi tomar satisfação com o expert que lhe dissera que o galo branco
era melhor que o preto:
— Você não
me disse que o galo branco era o bom? Perguntou ele, indignado.
— E eu
menti? – respondeu o outro – o preto não vale nada, é ruim como a cabra da
peste, o branco é que era o bom, não fazia mal a ninguém.
Pois bem,
as rinhas foram substituídas, nos últimos tempos, pelos ringues televisivos e,
embora não sejamos adeptos dessas lutas de artes marciais, tal é a fama de um
dos lutadores, nosso compatriota, que resolvemos dar uma olhadinha.
Sejamos
francos, assistimos a tudo, inclusive as lutas do nosso ex-campeão. Numa delas,
em revanche com outro ex-campeão a quem já havia derrotado, observamos que, se
não fosse uma chave de cabeça
devastadora sua no oponente, no quarto assalto, este o teria derrotado, senão
mesmo nocauteado com relativa facilidade, tal era seu massacre sobre o nosso
amigo. Observamos, também, a grande resistência deste aos golpes,
principalmente na cabeça, que o leitor não deve confundir com o da chave que
ele deu na cabeça do adversário.
Desse
modo, o A. S., também chamado aranha,
pelos apreciadores de lutas, era o franco favorito contra C. W., lutador
norte-americano que ainda não perdera nenhuma luta, cerca de dez anos mais
novo, e com nove vitórias em seu cartel.
O aranha já lutara 34 vezes e só perdera
quatro, nunca por nocaute. Há mais de sete anos defendia seu cinturão do UFC e
essa seria sua 11ª defesa.
Foram
quatro meses de treinamentos intensivos, só para essa luta. 120 dias de muita
disciplina e seriedade. Infelizmente, porém, o respeito e a cautela ficaram
para trás mais uma vez; nunca, porém, como ontem, em que A. S. a todo o momento
oferecia o rosto e abaixava os braços para C. W. lhe bater. Tantas fez o aranha que, a pouco mais de um minuto do
segundo round levou um direto de esquerda no queixo e, pela primeira vez, foi a
nocaute.
Não vou
comentar muito, pois estou de viagem, com meu secretário, para Campina Grande,
PB, onde estaremos falando sobre os espaços em D. Casmurro. Por isso mesmo, não desejamos ocupar mais espaços no
papel e na cabeça do leitor, a não ser com a reiteração da advertência capital
(Capitu que o diga): “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.
Adeus!
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