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domingo, 7 de julho de 2013

Em dia com o Machado 57 (jlo)


Em dia com o Machado 57 (jlo)

 

            Olá, amigo, boa-tarde!

            Conforme dizia minha avó, “Caldo de galinha e prudência nunca fizeram mal a ninguém”. Aliás, no meu tempo, os galináceos eram tão apreciados que até briga de galos era permitido. Na época (séc. XIX), a chamamos de Jockey Club dos pobres, pela fama que o evento possuía entre as pessoas das classes c e d, os seja, os humildes, não de coração, mas de condição econômica. Você duvida? Pesquise no google.

            Não gosto de mentir, caro leitor; o que faço é florear a verdade, com pétalas perfumadas. E não é à toa que foi criado este brocardo: “Seja como o sândalo, que perfuma o Machado que o fere”. Isso é coisa de despeitados que implicam com meu jeito caramujo de ser. Proponho a seguinte troca: “Seja como o Machado, que espalha o perfume do sândalo num só golpe”.

            Mas falávamos de galinhas e galos; as primeiras, cosidas na panela; os segundos, por seu adversário nas apreciadas rinhas. Aos seus apreciadores, as lutas de galo produziam grandes ensinamentos. Havia apostas e era possível levantar um dinheirinho na fezinha no galo vencedor, o que permitia ao felizardo ganhador, com a grana obtida, comprar uns dois ou três galos...

É corrente a piada em que um apostador pergunta a um expert qual dos dois galos era o bom: o branco ou o preto. A resposta foi que o branco era o melhor. Diante disso, o apostador aplicou seu salário semanal na vitória do galo alvo.

Qual não foi sua surpresa, porém, quando observou que, iniciada a briga, o galo preto partiu com tudo para cima do branco, o qual, à maneira dos poetas, era um felibata e, em seus devaneios, imaginava um mundo em que não havia briga de galos, orbe em que os galos se amavam, como irmãos, e as galinhas eram divididas, fraternalmente, entre todos.

O galo preto, porém, não queria saber de ideias utópicas e insistia em bicar, impiedosamente, seu irmão penoso, que fugia sempre e nunca reagia. Até que, exausto de tanto ser bicado, o galo branco abriu as asas e o corpo desceu à terra, a alma subiu ao céu, como ocorreu com Ismália, a louca do poema de Alphonsus de Guimarães.

Ante o insucesso de sua aposta, o apostador infeliz foi tomar satisfação com o expert que lhe dissera que o galo branco era melhor que o preto:

— Você não me disse que o galo branco era o bom? Perguntou ele, indignado.

— E eu menti? – respondeu o outro – o preto não vale nada, é ruim como a cabra da peste, o branco é que era o bom, não fazia mal a ninguém.

Pois bem, as rinhas foram substituídas, nos últimos tempos, pelos ringues televisivos e, embora não sejamos adeptos dessas lutas de artes marciais, tal é a fama de um dos lutadores, nosso compatriota, que resolvemos dar uma olhadinha.

Sejamos francos, assistimos a tudo, inclusive as lutas do nosso ex-campeão. Numa delas, em revanche com outro ex-campeão a quem já havia derrotado, observamos que, se não fosse uma chave de cabeça devastadora sua no oponente, no quarto assalto, este o teria derrotado, senão mesmo nocauteado com relativa facilidade, tal era seu massacre sobre o nosso amigo. Observamos, também, a grande resistência deste aos golpes, principalmente na cabeça, que o leitor não deve confundir com o da chave que ele deu na cabeça do adversário.

Desse modo, o A. S., também chamado aranha, pelos apreciadores de lutas, era o franco favorito contra C. W., lutador norte-americano que ainda não perdera nenhuma luta, cerca de dez anos mais novo, e com nove vitórias em seu cartel.

O aranha já lutara 34 vezes e só perdera quatro, nunca por nocaute. Há mais de sete anos defendia seu cinturão do UFC e essa seria sua 11ª defesa.

Foram quatro meses de treinamentos intensivos, só para essa luta. 120 dias de muita disciplina e seriedade. Infelizmente, porém, o respeito e a cautela ficaram para trás mais uma vez; nunca, porém, como ontem, em que A. S. a todo o momento oferecia o rosto e abaixava os braços para C. W. lhe bater. Tantas fez o aranha que, a pouco mais de um minuto do segundo round levou um direto de esquerda no queixo e, pela primeira vez, foi a nocaute.

Não vou comentar muito, pois estou de viagem, com meu secretário, para Campina Grande, PB, onde estaremos falando sobre os espaços em D. Casmurro. Por isso mesmo, não desejamos ocupar mais espaços no papel e na cabeça do leitor, a não ser com a reiteração da advertência capital (Capitu que o diga): “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

Adeus!

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