Em dia com o
Machado 170 (jlo)
Está
aqui do meu lado nada mais nada menos do que Allan Kardec. Atendendo a meu
convite para uma entrevista, o codificador do Espiritismo se propôs responder,
sem pejo, a todos os questionamentos advindos de meu espírito sedento de
esclarecimentos. Desse modo, inicio com a seguinte pergunta:
—
Meu caro Allan, a previsão de seu retorno, no início do século XX, para a
continuação de sua obra espírita se concretizou?
—
Primeiramente, a obra não é minha, e, sim, dos Espíritos; mas, respondendo à
sua pergunta, digo-lhe que sim, embora saiba você tão bem como eu desse fato
contido em Obras póstumas, item Minha volta.
—
É verdade, mas o leitor não sabia disso. E por que você não me permitiu
comunicar por seu intermédio, uma vez que nenhum outro médium estava tão bem
aparelhado como você para tal desiderato?
—
Machado, E. foi contrário a essa ideia, tendo em vista a imensa
responsabilidade de psicografar sua mensagem com a tinta da melancolia e com o
humor irônico de sua pena.
—
Para você, o que é o poder?
—
É uma Hidra de Lerna voraz, que, em seu insaciável desejo de domínio, somente é
vencida pelo hercúleo esforço do ser que se propõe a exercitar as qualidades do
desinteresse pessoal, da abnegação e do devotamento ao próximo. Entretanto,
como afirmei no primeiro capítulo d’A
gênese, “infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumento de
dominação”.
—
Você é contra o aspecto religioso do Espiritismo?
—
De modo algum. Só deixo claro que, mais do que por qualquer religião, o ser humano
somente alcançará a perfeição pela prática da caridade.
—
E o que é a caridade?
—
Benevolência para com todos, indulgência
para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas, como está na questão 886
d’O livro dos espíritos.
—
O Espiritismo é uma revelação divina?
—
Sim, mas com o objetivo de promover um intercâmbio solidário entre os espíritos
e os homens e, desse modo, contribuir para o seu aperfeiçoamento espiritual.
—
Com que fim?
—
Ser feliz.
— Se é assim, presto-lhe minha homenagem com
um Soneto da Felicidade:
Eu
pesquisei a natureza humana
Em
busca de um sentido para o ser
E,
nesse intento, pus-me a descrever
Em
minha obra a alma leviana.
Onde
encontrar em tanta mente insana
Algum
motivo que fizesse crer
Razão
tamanha para se viver
Feliz
na Terra triste e desumana?
Onde
encontrar a paz? Na vã ciência?
Nenhuma
voz ouvi que respondesse
E
já perdia, um tanto, a paciência...
Foi
quando ouvi a própria consciência,
Que
já de mim não mais se me escondesse:
Só é feliz quem vive
com decência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário