Páginas

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Em dia com o Machado 170 (jlo)

Está aqui do meu lado nada mais nada menos do que Allan Kardec. Atendendo a meu convite para uma entrevista, o codificador do Espiritismo se propôs responder, sem pejo, a todos os questionamentos advindos de meu espírito sedento de esclarecimentos. Desse modo, inicio com a seguinte pergunta:
— Meu caro Allan, a previsão de seu retorno, no início do século XX, para a continuação de sua obra espírita se concretizou?
— Primeiramente, a obra não é minha, e, sim, dos Espíritos; mas, respondendo à sua pergunta, digo-lhe que sim, embora saiba você tão bem como eu desse fato contido em Obras póstumas, item Minha volta.
— É verdade, mas o leitor não sabia disso. E por que você não me permitiu comunicar por seu intermédio, uma vez que nenhum outro médium estava tão bem aparelhado como você para tal desiderato?
— Machado, E. foi contrário a essa ideia, tendo em vista a imensa responsabilidade de psicografar sua mensagem com a tinta da melancolia e com o humor irônico de sua pena.
— Para você, o que é o poder?
— É uma Hidra de Lerna voraz, que, em seu insaciável desejo de domínio, somente é vencida pelo hercúleo esforço do ser que se propõe a exercitar as qualidades do desinteresse pessoal, da abnegação e do devotamento ao próximo. Entretanto, como afirmei no primeiro capítulo d’A gênese, “infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumento de dominação”.
— Você é contra o aspecto religioso do Espiritismo?
— De modo algum. Só deixo claro que, mais do que por qualquer religião, o ser humano somente alcançará a perfeição pela prática da caridade.
— E o que é a caridade?
Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas, como está na questão 886 d’O livro dos espíritos.
— O Espiritismo é uma revelação divina?
— Sim, mas com o objetivo de promover um intercâmbio solidário entre os espíritos e os homens e, desse modo, contribuir para o seu aperfeiçoamento espiritual.
— Com que fim?
— Ser feliz.
 — Se é assim, presto-lhe minha homenagem com um Soneto da Felicidade:
Eu pesquisei a natureza humana
Em busca de um sentido para o ser
E, nesse intento, pus-me a descrever
Em minha obra a alma leviana.

Onde encontrar em tanta mente insana
Algum motivo que fizesse crer
Razão tamanha para se viver
Feliz na Terra triste e desumana?

Onde encontrar a paz? Na vã ciência?
Nenhuma voz ouvi que respondesse
E já perdia, um tanto, a paciência...

Foi quando ouvi a própria consciência,
Que já de mim não mais se me escondesse:
Só é feliz quem vive com decência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...