Em
dia com o Machado 188 (jlo)
Eu
pedi aos deuses para que não permitissem ao Brasil se tornar uma República “porque esse dia
seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou”
(crônica de 5 de março de 1867).
Há quem diga que
o rei não existe, mas a maioria dos súditos confirma a existência do soberano.
Outros dizem que ele não governa, mas ninguém melhor do que ele para nomear os
governantes, que são substituídos por ele mesmo, de tempos em tempos, para o
bem do país e de sua honra, fortuna e dignidade. De mais a mais, sendo
vitalício seu cargo e sendo transmitido por herança a seus descendentes, apenas
estes ficarão ricos com os estipêndios generosos que lhes forem assegurados por
direito de nobreza e não por assalto aos cofres públicos de milhares de
sanguessugas da nação, qual acontece nas repúblicas, em especial nas
presidencialistas.
Então, quando se
diz que o rei não existe, respondo que também se costuma dizer, nos meios
profanos, que Deus não existe, embora a maioria dos brasileiros discorde disso.
E a maioria tem sempre razão. Acreditam em Deus, Inteligência Suprema,
Arquiteto do Universo, nosso Pai até mesmo os escritores, como eu, que leio as
Escrituras Sagradas todos os fins de semana; ou Augusto dos Anjos, que
praticava sessões mediúnicas em sua residência[1]; ou Mikhail Bakhtin, que era católico
ortodoxo[2]; ou Nietzsche, que aderira ao budismo,
antes de enlouquecer[3], e muitos outros escritores e filósofos
considerados niilistas, agnósticos, ateus, só porque se deixaram rotular assim
enquanto “a indesejada das gentes” não os procurou, ou simplesmente por
conveniências econômicas. Era e é chique dizer-se ateu num mundo em que, em
nome da religião, foram mortos mais seres humanos do que em todas as guerras
político-econômicas de toda a história mundial.
Então,
despeço-me da estimada leitora e leitor amigo com um comentário da oração
dominical, também chamada Pai Nosso, a Quem rogo a proteção para o nosso país
arruinado pela República:
Pai Nosso, tu
estás em nossas consciências, nas dos homens e mulheres bons, dos marginais,
criminosos e dos políticos, portanto não podemos negar tua existência, estando,
como estás, dentro de nós. Exceção apenas para os psicopatas, que necessitam de
cuidados especiais de todos os teus filhos lúcidos, a quem deste
livre-arbítrio, mas submetes à lei de ação e reação.
Santo, Santo é o
teu nome, Pai de pobres e de ricos, poderoso e boníssimo, que faz nascer o sol
sobre os bons e sobre os maus.
Que o teu Reino
de Amor venha a nós, para que possamos entender que somente vivendo para o bem
seremos felizes, sem a ninguém lesar, pois quem lesa será lesado, quem rouba
será roubado, quem mata será morto e quem mente tem ideias curtas.
Que seja feita a
Tua Vontade, pois ela é sábia e sabe das nossas necessidades, antes mesmo que a
sintamos, quer estejamos na Terra, por breves anos, quer voltemos ao Mundo Espiritual...
Dá-nos o pão
diário, mas que não tenhamos o “olho maior do que a barriga” e avancemos no pão
do vizinho ao lado, pois isso é um grande e inaceitável pecado. Que aprendamos
a repartir com todos o que sobeja em nossa mesa.
Perdoa-nos as
dívidas na exata medida que aprendermos a perdoar as dívidas do nosso próximo
para conosco.
E não nos deixes
cair nas tentações da cupidez, do desvairamento sexual, da ignorância
voluntária, da preguiça, da ambição desregrada, da sede inconsequente pelo
poder, de todo o mal que nos faça mal e ao nosso próximo, enfim... Amém. (Continua
no próximo número.)
[1]
MACHADO, Ubiratan. Os intelectuais e o
Espiritismo. 2. ed. Niterói: Lachâtre, 1996, p.214- 215.
[2]
TODOROV, Tzvetan. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética
da criação verbal: introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à
ed. Inglesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. XXIX.
[3] LEFRANC,
Jean. Compreender Nietzsche. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, p. 192- 194. Apenas um reparo: Nietzsche foi simpático ao Budismo, que não aceita Deus como os cristãos...
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