Em
dia com o Machado 249 (jlo)
—
Joteli, qual é o animal mais perigoso para o ser humano?
—
Com certeza, são dois: em terra, é o cão raivoso; na água, é o tubarão. Nas
praias de Recife, por exemplo, quase todo o ano há dois ou três casos de morte por
esse peixe...
—
Pois eu lhe digo, meu caro Joteli, que mesmo se somássemos as mortes mundiais
provocadas pelos animais de grande porte, seja da água ou da terra, constataríamos
que a soma de todas as suas vítimas, num ano, é menor do que a causada, num só
dia, por um simples mosquito, milhares de vezes menor que nós. Veja, por
exemplo, o caso do Aedes aegypti, cuja fêmea nos transmite três doenças que
podem deformar o cérebro do recém-nascido ou nos matar: Zika vírus, Dengue
hemorrágica e Chikungunya.
—
Pois agora a ameaça é a volta da Febre amarela, que tem matado, neste ano, quase
cem pessoas, além de milhares de macacos, nossos irmãos primatas... Atualmente,
a contagem de humanos mortos por mosquitos, apenas citando os óbitos na terra
mineira, está parecendo com o cômputo do aumento de arrecadação do imposto de
renda no Brasil.
—
Como assim?...
—
Há um painel, no Setor Comercial Sul de Brasília, que muda sem parar, sempre
para maior, o montante da arrecadação de
impostos que pagamos ao governo. Então, imaginei um painel parecido, com o
aumento de óbitos por Febre amarela. Seria assim: 60, 61, 62, 63, 64...
Isso
somente na Terra do Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos, segundo
pesquisas feitas por canais de TV.
—
Sim, é verdade, Jo; e ainda lhe digo mais, se o pernilongo fêmea transmissor
dessa doença infectar o Aedes, adeus população brasileira. Vai morrer mais
gente do que na Segunda Guerra Mundial.
—
Isso demonstra que, na Natureza, o verdadeiro sexo forte, entre nós, é a fêmea.
Insetos femininos sempre foram o terror dos primatas...
—Para
você ver como são as coisas; quando o homem pensava ter erradicado a Febre amarela
do Brasil, há quase cem anos, eis que ela ressurge com seu causador, tão voraz
quanto antes...
—
É por isso, Machado, que tenho minhas dúvidas em relação à teoria da geração
espontânea. Já pensou se, “de repente, não mais que de repente”, como dizia Vinícius
de Moraes, os dinossauros voltassem?
—
Pois eu lhe garanto, Joteli, que mil deles causariam menos estragos do que os
que estão para ocorrer, se houver uma proliferação do mosquito Haemagogus, o
transmissor da Febre amarela, do meio rural para as cidades de todo o Brasil,
quando a transmissão também passa a ser feita pela fêmea do Aedes aegypti.
—
É por isso que eu acredito na geração espontânea, Bruxo. Esse inseto é um
demagogo...
—
Demagogo ou não, se você não se cuidar, logo estaremos nos cumprimentando do
lado de cá, meu caro secretário.
—
Pois então vou parodiá-lo, meu caro Bruxo, com meu poema intitulado Inseto
Um
inseto, um miserável mosquito
Tem
trazido pânico a tanta gente
Setenta
anos após ter sido extinto,
E
quem esteve são, agora jaz doente...
Mísera,
quisera não ser eu homem,
Que
dorme aqui na praça sem ter lume,
Enquanto
os pernilongos me consomem.
Por
que não nasci eu um vaga-lume?
—
Vá treinando, Joteli, também fui mau poeta... adeus!
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