Em dia com o machado 255 (jlo)
—
É... Joteli, foi ali que Victor Hugo realizou suas inúmeras experiências...
—
Ali onde e que experiências, amigo?
—
Na ilha de Jersey, para onde foi desterrado em 5 de agosto de 1852 por Napoléon le Petit, como ousara chamar o
Imperador francês, Napoleão III.
Quanto
às experiências, trata-se de sessões mediúnicas com base nas respostas de uma
“mesa falante”, que em sua época respondia por pancadas às perguntas feitas a
uma entidade invisível. Esse ser, que dizia ser o espírito de alguém falecido,
satisfazia à curiosidade de todas as pessoas com respostas inteligentes às
questões a ele propostas.
Victor Hugo estudou obras de
Pitágoras, de Swedenborg e da Cabala, que, antes mesmo de Allan Kardec publicar
as obras espíritas, demonstravam sua crença em seus pontos básicos, como a
sobrevivência do espírito à morte do corpo físico, sua manifestação a nós, a
elevação gradual do espírito e mesmo suas “migrações sucessivas”...
Uma de suas frases, publicada no Journal de l’Exil de agosto de 1852, que
parece ter sido parafraseada por Léon Denis, na obra O problema do ser, do destino e da dor, é a seguinte: “A vida
mineral passa à vida orgânica vegetal; a vida vegetal torna-se vida animal,
cujo espécime mais elevado é o macaco. Acima do macaco, começa a vida
intelectual, escala invisível e infinita pela qual cada espírito se eleva na
eternidade, tendo Deus por coroamento”.[i]
Anos depois, residindo em
Marine-Terrace, Hugo comunicou-se com o espírito chamado Dama Branca, que
desenhou seu retrato com um lápis adaptado a uma mesinha. Dias após, indo a um
enterro, o grande poeta francês, ao curvar-se sobre a cova do falecido, viu a forma
do desenho da Dama Branca, suavemente luminosa, deitada na cova ainda vazia.
—
E ele... não tinha medo?
—
Até que tinha, mas, com o tempo, foi acostumando-se... O fato é que Victor Hugo
foi secretário de várias manifestações mediúnicas, reunindo em três cadernos
suas anotações provenientes das perguntas e respostas dadas pelos espíritos...
Nessas reuniões, foram anunciadas as
visitas das mais variadas personalidades desencarnadas que, ora estavam
presentes, ora não... Ainda darei notícias delas aos nossos leitores ávidos das
novidades do Além.
—
E o que mais disse o genial poeta, Bruxo do Cosme Velho?
—
Dentre outras frases estupendas, separei esta:
Há meio século que escrevo meu
pensamento em prosa e em verso: história, filosofia, dramas, romances, lendas,
sátiras, odes, canções etc.; tudo tenho tentado, mas sinto que não disse a
milésima parte do que está em mim. Quando me curvar para o túmulo, não direi
como tantos outros: terminei minha jornada. Não, a sepultura não é um beco sem
saída, é uma avenida; ela se fecha no crepúsculo, ela se reabre na aurora
(Victor Hugo).[ii]
—
Carácoles, Machado! genial, poesia
pura. Só mesmo Victor Hugo e você para escreverem algo tão profundo e belo.
—
Sou mais irônico e frio prosador do que poeta; Hugo é mais poesia em prosa e em
verso do que ironia. Ambos, porém, refletimos sobre a ignorância e as
incoerências humanas...
A bientôt, mon ami!
— Au revoir, ami; merci.
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