Amor
à Primeira Vista (Wislawa Szymborska. Poemas. Tradução: Regina Przybycien)
Ambos estão certos
De que uma paixão súbita os uniu.
É bela esta certeza,
mas ainda é mais bela a
incerteza.
Acham que por não terem se
encontrado antes
Nunca havia se passado nada entre
eles.
Mas e as ruas, escadas,
corredores
nos quais há muito talvez se
tenham cruzado?
Queria lhes perguntar,
se não se lembram —
numa porta giratória talvez
algum dia face a face?
um “desculpe” em meio à multidão?
uma voz que diz “é engano” ao
telefone?
— mas conheço a resposta.
Não, não lembram.
Muito os espanta saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.
Ainda não de todo preparado
para se transformar no seu
destino
juntava-os e os separava
barrava-lhes o caminho
e abafava o riso
sumia de cena.
Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Quem sabe três anos atrás
ou terça-feira passada
uma certa folhinha voou
de um ombro a outro?
Algo foi perdido e recolhido.
Quem sabe se não foi uma bola
nos arbustos da infância?
Houve maçanetas e campainhas
onde a seu tempo
um toque se sobrepunha a outro.
As malas lado a lado no
bagageiro.
Quem sabe numa noite o mesmo
sonho
Que logo ao despertar esvaneceu.
Porque afinal cada começo
é só continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto ao meio.
Disponível em: www.blogdacompanhia.com.br. Acesso em 30 jun. 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário