Em dia com o Machado 332 TjóT
Tragédia em família judaica
Em seu romance histórico intitulado Paulo e Estêvão, numa das mais belas
obras literárias mediúnicas de todos os tempos e lugares, Emmanuel narra a
prisão cruel do judeu Jochedeb e seu casal de filhos, Jeziel e Abigail, pelo
questor do Império Romano Licínio Minúcio, que já havia roubado as propriedades
dessa família. Jochedeb, em represália à desapropriação ilegal de suas terras,
havia incendiado as terras vizinhas às suas, que pertenciam a Minúcio. Este,
sabedor da morte de um dos seus melhores escravos, no combate ao incêndio de
suas terras, mandara chicotear o idoso pai do casal e seu filho que, na
tentativa de poupar o pai, assumira a culpa pelo incêndio.
O cruel e tirano questor disse ter sido
informado de que Jochedeb fora visto incendiando suas terras, mas, ante a
confissão de culpa inexistente do filho deste, optou por mandar chicotear pai e
filho. Jeziel ainda seria preso e escravizado após o castigo.
Abigail, nos seus 18 anos de idade, a tudo
assistia estarrecida. Em dado momento, “[...] a ponta de bronze do açoite
lanhou fundo a garganta do pobre israelita, jorrando o sangue em borbotões”.
O pai iria morrer, mas Jeziel pede à
irmã que faça, por todos eles, a prece dos aflitos. Em voz trêmula, a jovem ajoelha-se,
olha fixamente para o genitor, já se imobilizando pela morte, e, ao mesmo tempo
que ela chora, canta a prece solicitada pelo irmão.
Todos os que ali estavam são tomados de
funda emoção enquanto ouvem o canto de Abigail:
Senhor Deus, Pai dos que choram,
Dos tristes, dos oprimidos,
Fortaleza dos vencidos,
Consolo de toda a dor,
Embora a miséria amarga
Dos prantos de nosso erro,
Deste mundo de desterro
Clamamos por vosso amor!
Nas aflições do caminho,
Na noite mais tormentosa,
Vossa fonte generosa
É o bem que não secará.
Sois, em tudo, a luz eterna
Da alegria e da bonança
Nossa porta de esperança
Que nunca se fechará.
(XAVIER, F. C. Paulo e Estêvão, Ed. FEB, cap. II)
O cruel verdugo, vendo a comoção
causada pelo canto da jovem, disfarça seu mal-estar e pede a um dos seus
servidores para levar Abigail para a rua e soltá-la, desde que ela cesse seu
triste canto de rouxinol ferido. A
música celestial acabara de poupar a honra e quiçá a vida de linda e inocente
jovem.
Como, então, algumas pessoas dizem que
“literatura não serve para nada”? A literatura, além de nos emocionar, pode
salvar uma ou mais vidas. Se você acha que sua existência está difícil, leia essa obra e reflita no que ocorreu aos seus
protagonistas.
Quem sabe se, ao perceber a força da fé, da
resignação, da paciência e do amor a Deus, exemplificados por eles, suas dores,
amigo leitor, não se tornem pequenas? Quem sabe se essas histórias reais,
narradas poeticamente, não modifiquem completamente seu ânimo?
Coragem! por mais difíceis sejam nossas
provas, elas passarão, e novo Sol brilhará no céu.
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