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terça-feira, 25 de setembro de 2018




EM DIA COM O MACHADO 334 #JÓ#
(Convite à caridade)
Jorge Leite de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com

Outro dia, tão logo fui dormir, vi-me transportado por uma nave.
Sentados à minha frente, dialogavam Machado de Assis e Olavo Bilac, príncipe da poesia parnasiana. Do assento em que eu estava, ouvi deles o seguinte:
— Amigo Bilac, reflita na beleza destes versos do espírito Maria Dolores, psicografados por Chico Xavier. O título do poema é Convite.
Em seguida, com belíssima voz, o Bruxo do Cosme Velho recitou, de modo inesquecível, e por longo tempo, estas lindas estrofes:

Se te vês nesta noite,
De alma desencantada e dolorida,
Concentrando a atenção na angústia
que te invade,
Medita, coração,
Nos outros companheiros que se vão
Nos caminhos da vida,
Sob as pressões da prova e da necessidade.
Regresso agora de estirado giro,
Para buscar-te aqui, em teu doce retiro.
A calma da oração,
Entretanto, alma irmã se me permites.
Comentarei as dores sem limites,
Da multidão agoniada
Que encontrei na jornada.
Com certeza, já viste
As trevas e aflições de tanto quadro triste,
Mas peço ainda o teu consentimento
A fim de relembrar-te
O vasto espinheiral do sofrimento
Que nos roga socorro em toda parte.
Deixa, enfim, que eu te diga,
Alma fraterna e amiga,
Quanta amargura vi por onde andei…
Vi mães em catres de doença e luta,
Lançando petições que a Terra não escuta,
Pedindo em vão, a xícara de leite
Para o filhinho semimorto
Agonizando à míngua de conforto…

Vi outras nas calçadas,
Carregando no colo os anjos de ninguém
Pobres irmãs abandonadas
Aspirando a escalar as alturas do bem.
Acompanhei velhinhos,
Outrora moços de bonito porte,
Tão fatigados, tão sozinhos
Que pediam a Deus a compaixão da morte.
Achei muitos irmãos enfermos e cansados
Em desespero imanifesto,
Sem pensar nas terríveis consequências
Que nascem desse gesto.
Vi crianças, ao léu, com febre e sono,
Relegadas à noite em penoso abandono…
Visitei tanto lar vazio de esperança,
Tantas mansões em lágrimas ocultas
E tanta dor nas choças das favelas,
Que, de fato, não sei explicar, a contento,
Onde há mais solidão e onde há mais sofrimento
Se nas casas mais ricas e mais altas,
Ou nas outras mais tristes, mais singelas…

Por isso venho aqui, alma querida e boa,
Para pedir qualquer migalha,
Em favor de quem chora…
Ama, ensina, trabalha,
Sofre, ajuda, perdoa…
Lá fora, um mundo novo nos espera
Por nossa fé sincera
Traduzida em serviço…
Olvida a própria dor… Lembra – te disso:
Temos nós com Jesus a obrigação
De esquecer-nos e agir
Para que a paz do bem seja a paz do porvir.
Não te percas em lágrimas vazias
Pensa na força que irradias
Pela fé que Jesus já te consente
Deixa as tribulações e os pesadelos
Que te fazem chorar,
Reflitamos no amor sinceramente,
Anota as provações de tanta gente,
Sai de ti mesmo e vamos trabalhar!…

Após breve silêncio, Bilac respondeu-lhe:
— Isso mesmo, Machado! Como eu disse, na última estrofe do meu poema intitulado O tempo:

Trabalhai, porque a vida é pequena
E não há para o tempo demoras,
Não gasteis os minutos sem pena,
Não façais pouco caso das horas. (Olavo Bilac)

         — Trabalhar com Jesus, concluiu o Bruxo, é sentir a alegria de amar o próximo, aprendendo sempre para melhor servi-lo.
Em seguida, acordei com lágrimas nos olhos. Já era manhã e o trabalho me convidava ao serviço do bem em novo e alegre dia.

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