EM
DIA COM O MACHADO 334 #JÓ#
(Convite à caridade)
Jorge Leite
de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com
Outro
dia, tão logo fui dormir, vi-me transportado por uma nave.
Sentados à minha frente, dialogavam Machado de Assis e Olavo Bilac, príncipe da poesia parnasiana. Do assento em que eu estava, ouvi deles o seguinte:
Sentados à minha frente, dialogavam Machado de Assis e Olavo Bilac, príncipe da poesia parnasiana. Do assento em que eu estava, ouvi deles o seguinte:
—
Amigo Bilac, reflita na beleza destes versos do espírito Maria Dolores,
psicografados por Chico Xavier. O título do poema é Convite.
Em
seguida, com belíssima voz, o Bruxo do Cosme Velho recitou, de modo
inesquecível, e por longo tempo, estas lindas estrofes:
Se te vês nesta noite,
De alma desencantada e dolorida,
Concentrando a atenção na angústia
que te invade,
Medita, coração,
Nos outros companheiros que se vão
Nos caminhos da vida,
Sob as pressões da prova e da necessidade.
De alma desencantada e dolorida,
Concentrando a atenção na angústia
que te invade,
Medita, coração,
Nos outros companheiros que se vão
Nos caminhos da vida,
Sob as pressões da prova e da necessidade.
Regresso agora de
estirado giro,
Para buscar-te aqui, em teu doce retiro.
A calma da oração,
Entretanto, alma irmã se me permites.
Comentarei as dores sem limites,
Da multidão agoniada
Que encontrei na jornada.
Para buscar-te aqui, em teu doce retiro.
A calma da oração,
Entretanto, alma irmã se me permites.
Comentarei as dores sem limites,
Da multidão agoniada
Que encontrei na jornada.
Com certeza, já viste
As trevas e aflições de tanto quadro triste,
Mas peço ainda o teu consentimento
A fim de relembrar-te
O vasto espinheiral do sofrimento
Que nos roga socorro em toda parte.
As trevas e aflições de tanto quadro triste,
Mas peço ainda o teu consentimento
A fim de relembrar-te
O vasto espinheiral do sofrimento
Que nos roga socorro em toda parte.
Deixa,
enfim, que eu te diga,
Alma fraterna e amiga,
Quanta amargura vi por onde andei…
Vi mães em catres de doença e luta,
Lançando petições que a Terra não escuta,
Pedindo em vão, a xícara de leite
Para o filhinho semimorto
Alma fraterna e amiga,
Quanta amargura vi por onde andei…
Vi mães em catres de doença e luta,
Lançando petições que a Terra não escuta,
Pedindo em vão, a xícara de leite
Para o filhinho semimorto
Agonizando
à míngua de conforto…
Vi outras nas calçadas,
Carregando no colo os anjos de ninguém
Pobres irmãs abandonadas
Aspirando a escalar as alturas do bem.
Acompanhei velhinhos,
Outrora moços de bonito porte,
Tão fatigados, tão sozinhos
Que pediam a Deus a compaixão da morte.
Carregando no colo os anjos de ninguém
Pobres irmãs abandonadas
Aspirando a escalar as alturas do bem.
Acompanhei velhinhos,
Outrora moços de bonito porte,
Tão fatigados, tão sozinhos
Que pediam a Deus a compaixão da morte.
Achei
muitos irmãos enfermos e cansados
Em desespero imanifesto,
Sem pensar nas terríveis consequências
Que nascem desse gesto.
Vi crianças, ao léu, com febre e sono,
Relegadas à noite em penoso abandono…
Visitei tanto lar vazio de esperança,
Tantas mansões em lágrimas ocultas
E tanta dor nas choças das favelas,
Que, de fato, não sei explicar, a contento,
Em desespero imanifesto,
Sem pensar nas terríveis consequências
Que nascem desse gesto.
Vi crianças, ao léu, com febre e sono,
Relegadas à noite em penoso abandono…
Visitei tanto lar vazio de esperança,
Tantas mansões em lágrimas ocultas
E tanta dor nas choças das favelas,
Que, de fato, não sei explicar, a contento,
Onde
há mais solidão e onde há mais sofrimento
Se nas casas mais ricas e mais altas,
Ou nas outras mais tristes, mais singelas…
Se nas casas mais ricas e mais altas,
Ou nas outras mais tristes, mais singelas…
Por isso venho aqui, alma querida e boa,
Para pedir qualquer migalha,
Em favor de quem chora…
Ama, ensina, trabalha,
Sofre, ajuda, perdoa…
Lá fora, um mundo novo nos espera
Por nossa fé sincera
Traduzida em serviço…
Sofre, ajuda, perdoa…
Lá fora, um mundo novo nos espera
Por nossa fé sincera
Traduzida em serviço…
Olvida
a própria dor… Lembra – te disso:
Temos nós com Jesus a obrigação
De esquecer-nos e agir
Para que a paz do bem seja a paz do porvir.
Não te percas em lágrimas vazias
Pensa na força que irradias
Pela fé que Jesus já te consente
Deixa as tribulações e os pesadelos
Que te fazem chorar,
Reflitamos no amor sinceramente,
Anota as provações de tanta gente,
Sai de ti mesmo e vamos trabalhar!…
Temos nós com Jesus a obrigação
De esquecer-nos e agir
Para que a paz do bem seja a paz do porvir.
Não te percas em lágrimas vazias
Pensa na força que irradias
Pela fé que Jesus já te consente
Deixa as tribulações e os pesadelos
Que te fazem chorar,
Reflitamos no amor sinceramente,
Anota as provações de tanta gente,
Sai de ti mesmo e vamos trabalhar!…
Após breve silêncio, Bilac respondeu-lhe:
— Isso mesmo, Machado! Como eu disse, na última estrofe do meu
poema intitulado O tempo:
Trabalhai,
porque a vida é pequena
E
não há para o tempo demoras,
Não
gasteis os minutos sem pena,
Não
façais pouco caso das horas. (Olavo Bilac)
— Trabalhar com
Jesus, concluiu o Bruxo, é sentir a alegria de amar o próximo, aprendendo
sempre para melhor servi-lo.
Em seguida, acordei com lágrimas nos olhos. Já era manhã e o
trabalho me convidava ao serviço do bem em novo e alegre dia.
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