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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos



161. Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não se enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente?

“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”

Comentário

Nas mortes violentas, o socorro espiritual é imediato. Desse modo, a separação entre a alma e o corpo é, em geral, muito rápida. O que não ocorre no caso dos suicidas, tendo em vista que sua morte violenta foi causada pelo próprio autocida. 

162. Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo?

“Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.”

Comentários

Enquanto houver atividade cerebral no cabeça separada do corpo, o que pode levar alguns minutos, o Espírito que não perdeu os sentidos antes da decapitação pode conservar sua consciência, o que não dura muito tempo.

 

Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo. 

163. A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?

“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”

Comentário

À exceção de Espíritos de alta elevação, todos os demais passam por um período de confusão mental ou perturbação, que pode durar pouco tempo ou, no caso dos suicidas, longo tempo, que eles imaginam durar para sempre, mas que a bondade Divina, no tempo certo os socorrerá.

 164. A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos?

“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”

Comentário

É o que antecipamos, em questão anterior. O Espírito puro recobra imediatamente a consciência. O ser ainda preso às impressões da matéria fica mais tempo em perturbação.

 165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?

“Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação; mas a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.”

Comentários

O conhecimento do Espiritismo não é salvo conduto para ninguém. É preciso que nos esforcemos na prática da caridade e da sabedoria para que nos libertemos rapidamente dos liames corporais e alcemos voo às regiões elevadas do mundo espiritual.

 

Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos.

Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.

Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpá-lo. Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir. É que têm o sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos revelam essa particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente. Todavia, sempre mais generalizada se apresenta essa particularidade entre os que, mesmo doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até o momento em que compreende a verdade.

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo despertar. Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra.

Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem

ao mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.

 166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?

“Sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?

“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

b) A alma passa então por muitas existências corporais?

“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”

c) Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?

“Evidentemente.”

Comentário

É a Doutrina da reencarnação que Allan Kardec, mesmo proveniente de família católica, rapidamente assimilou, por nela ver a única que explica as desigualdades sociais, físicas e intelectuais entre cada ser humano.

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?

“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

 Comentário

A reencarnação tem por fim tornar o Espírito perfeito. Como somos imortais, cabe a cada um de nós esforçar-se em evoluir mais rapidamente, a fim de alcançar essa perfeição.

168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?

“A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.”

 Comentário

Como foi dito anteriormente, a finalidade da reencarnação é a purificação do Espírito, quando não mais terá necessidade de reencarnar.

169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?

“Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.”

Comentário

Para atingir a pureza, que requer amor e sabedoria, são necessárias inumeráveis encarnações.

170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?

“Espírito bem-aventurado; puro Espírito.”

Comentário

A pureza do Espírito é, portanto a meta de cada um de nós.

171. Em que se funda o dogma da reencarnação?

 “Na Justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”

Comentários

 Deus é justo. Não poderia, assim, tratar igualmente seres que se diferem em conhecimento e bondade. Entretanto, como bom Pai, faculta a cada um dos seus filhos a possibilidade de alcançar a felicidade dos justos.

 

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua Justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio em que foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.

A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da Justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.

O homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na Justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em nova existência.

  172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?

“Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”

Comentário

Assim como existe a pluralidade das existências na Terra, também há inumerável quantidade de mundos no Universo. Desse modo, podemos ter vivido em outro mundo, que pode ter sido pior do que este ou melhor, dependendo do grau de evolução de cada Espírito. Os que vieram de mundo melhor, em geral reencarnam na Terra em missão, mas pode ocorrer que também isso ocorra como expiação.

173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter muitas no mesmo globo?

“Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior.”

a) Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?

“Certamente.”

b) Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos?

“Sem dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra.”

 Comentário

Conforme dissemos acima, podemos encarnar em diversos mundos, mas em geral o Espírito vive muitas encarnações num mesmo mundo.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espiritos (Jorge e Lourdes)


Obs.: a partir da questão 152, as questões e suas respostas manterão a estrutura publicada em livro da Federação Espírita Brasileira. Hoje publicamos as questões 152 a 160.


152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?

“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da  existência de um ser que está fora de vós.”

 

Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota de água que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.

Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material. 

Comentário

 As comunicações mediúnicas recebidas são evidência da individualidade da alma após a morte. Isso se justifica pelo fato de que tais comunicações apresentam características pessoais, pensamentos e sentimentos próprios de cada Espírito comunicante, o que demonstra que não há a dissolução da personalidade no "todo universal". Ou seja, se não houvesse cegueira ou surdez espiritual, seria possível perceber claramente a existência de um ser distinto dialogando conosco, validando a permanência da individualidade após a desencarnação.

153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?

“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.”

a) Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?

“Essa é antes a felicidade eterna, mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.”

Comentário

A ideia de retorno ao "todo universal" pode ser mal interpretada. Se entendermos esse todo como o conjunto dos Espíritos, cada alma permanece como elemento distinto desse grupo, semelhante a uma pessoa numa assembleia, que faz parte do todo, mas preserva sua individualidade. Caso contrário, se pensarmos que a alma perde sua personalidade como uma gota d’água no oceano, estaríamos em erro.

154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?

“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.”

Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.

Comentário

Os Espíritos possuem o perispírito, que pode assumir diversos aspectos, que, geralmente, mantêm a aparência da última encarnação. Assim, a forma do Espírito não é física e limitada como a do corpo material, mas pode ser percebida, especialmente em manifestações mediúnicas ou aparições, justificando a ideia de uma forma determinada, porém fluídica.

155. Como se opera a separação da alma e do corpo?

“Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.”

a) A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?

“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”

Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente,não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é o da libertação, com apenas algumas horas de diferença. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.

 Comentário

A justificativa está na natureza do perispírito, corpo fluídico que pode se tornar visível ou invisível conforme a vontade do Espírito e as condições do ambiente. Aparições são possíveis porque o perispírito pode condensar-se, tornando-se perceptível aos sentidos humanos, justificando relatos de pessoas que veem os Espíritos.

156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?

“Na agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”

 Comentário

A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que a alma conserva sua individualidade após a morte, permanecendo como Espírito distinto, com pensamentos, sentimentos e memórias próprios. Essa individualidade é essencial para a evolução espiritual, pois permite que cada Espírito aprenda, progrida e se responsabilize por seus atos.

157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?

“Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”

Comentário

Além das comunicações mediúnicas, as aparições e fenômenos relacionados à mediunidade servem como provas da sobrevivência da alma. Testemunhos, relatos e experiências de contato com Espíritos reforçam a ideia de sobrevivência e individualidade após a desencarnação.

158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?

“Uma ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como frequentemente vos sucede.”

Comentário

Os Espíritos mantêm as recordações de suas vivências na Terra, podendo sentir alegria ou pesar conforme o uso que fizeram da existência. Essas lembranças são importantes para o aprendizado e a evolução do Espírito, que, assim, reflete sobre suas escolhas e ações.


159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no Mundo dos Espíritos?

“Depende. Se praticaste o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.”

Comentário

O Espírito leva consigo todo o saber, experiências e progresso moral acumulados durante a encarnação. Isso é fundamental para a evolução individual, justificando a necessidade de múltiplas existências para seu aprimoramento contínuo.

160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?

“Sim, conforme a afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai visitar.”

Comentário

Os Espíritos que tiveram vínculos afetivos ou convivência na Terra podem se reconhecer no mundo espiritual, especialmente pela afinidade, lembrança e vibração energética. Isso reforça a ideia de continuidade dos laços, permitindo reencontros e convivências além da vida física.

O Espírito conserva sua individualidade, memória e experiência após a morte, e pode comunicar-se, manifestar-se e reconhecer outros Espíritos, como demonstram-nos as observações, relatos e princípios doutrinários.


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos



145. Como se explica que tantos filósofos antigos e modernos, durante tão longo tempo, hajam discutido sobre a ciência psicológica e não tenham chegado ao conhecimento da verdade?

— Esses homens eram os precursores da eterna Doutrina Espírita, prepararam os caminhos. Eram homens e, como tais, se enganaram, tomando suas próprias ideias pela luz. No entanto, mesmo os seus erros servem para realçar a verdade, mostrando o pró e o contra. Demais, entre esses erros se encontram grandes verdades que um estudo comparativo torna apreensíveis.

Comentário

Os gênios humanos, quando encarnados, chegam por vezes muito perto das verdades espirituais, entretanto, pela própria limitação dos sentidos físicos, aliada a ideias que recebem de outras pessoas, tomam suas próprias teorias como sendo absolutas verdades. Porém, como lemos na resposta à pergunta de Kardec, entre equívocos estão também grandes verdades. Cabe-nos comparar essas ideias e verificar, após isso, quais as que estão corretas e quais as que não passam de enganos, que o tempo demonstram isso.

146. A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?

— Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade.

a) Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?

— Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais.

Comentário

Em nosso entendimento, essa resposta se aplica, em especial, à manifestação do perispírito nesses órgãos. O que, realmente, é a sede da alma é o cérebro, mas seu perispírito, cujos sentidos não possuem local determinado, atuam predominantemente no cérebro do encarnado, podendo situar-se também fortemente no coração.

147. Por que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a ciência da Natureza, são, com tanta frequência, levados ao materialismo?

— O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto. 

Comentário

Nossos sentidos físicos são limitados. Por isso, no século XIX, quando ainda não havia os recursos tecnológicos avançados, como ocorre hoje, era comum que grande número dos cientiestas acreditasse nada mais haver, após a morte do corpo físico.

148. Não é de lastimar que o materialismo seja uma consequência de estudos que deveriam, contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Deve-se daí concluir que são perigosos?

— Não é exato que o materialismo seja uma consequência desses estudos. O homem é que deles tira uma consequência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo das melhores coisas.Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que parecesse, e os Espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua maioria, só são materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante deles se abre. Mostrai-lhes uma âncora de salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.

Comentários

Há pessoas que não querem conhecer algo além do que aprenderam com a ciência positivista. Para elas, apenas os fenômenos físicos que observam em laboratório interessa. Alguns ainda têm o bom senso de separar as coisas e dizem que respeitam as religiões ou, quando menos, as ideias expostas nos livros espiritualistas. O Espíritismo surge justamente numa época em que a ciência se afastara da religião. Não veio substituir nenhuma crença, mas mostrar-nos, pela informação dos espíritos desencarnados, que há algo mais profundo na vida do que o que veem nos laboratórios. 

Por uma aberração da inteligência, pessoas há que só veem nos seres orgânicos a ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo humano apenas veem a máquina elétrica; somente pelo funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida, cuja repetida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio. Procuraram saber se alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se tornara inerte, como não viram a alma escapar-se, como não a puderam apanhar, concluíram que tudo se continha nas propriedades da matéria e que, portanto, à morte se seguia a aniquilação do pensamento. Triste consequência, se fora real, porque então o bem e o mal nada significariam, o homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima de tudo a satisfação de seus apetites materiais; quebrados estariam os laços sociais e as mais santas afeições se romperiam para sempre. Felizmente, longe estão de ser gerais semelhantes ideias, que se podem mesmo ter por muito circunscritas, constituindo apenas opiniões individuais, pois que em parte alguma ainda formaram doutrina. Uma sociedade que se fundasse sobre tais bases traria em si o germe de sua dissolução e seus membros se entredevorariam como animais ferozes.

O homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a vida. O nada lhe infunde horror. É em vão que se obstina contra a ideia da vida futura. Ao soar o momento supremo, poucos são os que não inquirem do que vai ser deles, porque a ideia de deixar a vida para sempre algo oferece de pungente. Quem, de fato, poderia encarar com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor? Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se sepultassem para sempre todas as suas faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si mesmo: Pois quê! depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio, dentro em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva, além da do meu corpo roído pelos vermes!

Não tem este quadro alguma coisa de horrível, de glacial? A religião ensina que não pode ser assim e a razão no-lo confirma. Uma existência futura, porém, vaga e indefinida não apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida.Possuímos alma, está bem; mas que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus; outros, uma centelha; outros, uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que de tudo isto ficamos sabendo? Que nos importa ter uma alma, se, extinguindo-se-nos a vida, ela desaparece na imensidade, como as gotas de água no oceano? A perda da nossa individualidade não equivale, para nós, ao nada? Diz-se também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial carece de proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. A religião ainda nos ensina que seremos felizes ou desgraçados, conforme o bem ou o mal que houvermos feito. Que vem a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última significação; mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde esse lugar de suplício? Numa palavra, que é o que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera? Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações. 

É erro dizê-lo e a missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de uma probabilidade sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo com os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de antirreligioso? Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro. 

149. Que sucede à alma no instante da morte?

— Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.

Comentário

Enquanto encarnado, temos uma alma que se manifesta no corpo com o auxílio do perispírito. Ao desencarnarmos, deixamos o corpo físico na Terra e passamos a ser Espíritos com seu perispírito, do qual o corpo é cópia grosseira.

150. A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?

— Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?

a) Como comprova a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo material?

— Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.

b) A alma nada leva consigo deste mundo?

— Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. Quanto mais pura for, melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.

Comentário

Como dissemos na questão anterior, a alma é um Espírito encarnado que possui corpo físico e perispírito (corpo espiritual). Ao morrer, apenas permanece conosco o corpo espiritual (perispírito), pelo qual podemos nos manifestar.

151. Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal?

— O conjunto dos Espíritos não forma um todo? não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas sempre a tua individualidade.

Comentário

O “todo universal” nada mais se pode entender como conjunto dos espíritos que se encontram no mundo espiritual. Cada um de nós ali, como num grande grupo de pessoas, conserva sua individualidade. Jamais a perde, mesmo na situação de Espírito puro.

  ESTUDO D'O LIVRO DOS ESPÍRITOS 206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de qualquer família, seguir-se-á...