Estudo d'O Livro dos Espíritos
145. Como se explica que tantos
filósofos antigos e modernos, durante tão longo tempo, hajam discutido sobre a
ciência psicológica e não tenham chegado ao conhecimento da verdade?
— Esses homens eram os precursores da eterna Doutrina Espírita, prepararam os caminhos. Eram homens e, como tais, se enganaram, tomando suas próprias ideias pela luz. No entanto, mesmo os seus erros servem para realçar a verdade, mostrando o pró e o contra. Demais, entre esses erros se encontram grandes verdades que um estudo comparativo torna apreensíveis.
Comentário
Os gênios humanos, quando encarnados, chegam por vezes muito perto das verdades espirituais, entretanto, pela própria limitação dos sentidos físicos, aliada a ideias que recebem de outras pessoas, tomam suas próprias teorias como sendo absolutas verdades. Porém, como lemos na resposta à pergunta de Kardec, entre equívocos estão também grandes verdades. Cabe-nos comparar essas ideias e verificar, após isso, quais as que estão corretas e quais as que não passam de enganos, que o tempo demonstram isso.
146.
A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
—
Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais
particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles
que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade.
a)
Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
— Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais.
Comentário
Em nosso entendimento, essa resposta se aplica, em especial, à manifestação do perispírito nesses órgãos. O que, realmente, é a sede da alma é o cérebro, mas seu perispírito, cujos sentidos não possuem local determinado, atuam predominantemente no cérebro do encarnado, podendo situar-se também fortemente no coração.
147.
Por que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a
ciência da Natureza, são, com tanta frequência, levados ao materialismo?
— O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto.
Comentário
Nossos sentidos físicos são limitados. Por isso, no século XIX, quando ainda não havia os recursos tecnológicos avançados, como ocorre hoje, era comum que grande número dos cientiestas acreditasse nada mais haver, após a morte do corpo físico.
148.
Não é de lastimar que o materialismo seja uma consequência de estudos que
deveriam, contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que
governa o mundo? Deve-se daí concluir que são perigosos?
— Não é exato que o materialismo seja uma consequência desses estudos. O homem é que deles tira uma consequência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo das melhores coisas.Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que parecesse, e os Espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua maioria, só são materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante deles se abre. Mostrai-lhes uma âncora de salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.
Comentários
Há
pessoas que não querem conhecer algo além do que aprenderam com a ciência
positivista. Para elas, apenas os fenômenos físicos que observam em laboratório
interessa. Alguns ainda têm o bom senso de separar as coisas e dizem que
respeitam as religiões ou, quando menos, as ideias expostas nos livros
espiritualistas. O Espíritismo surge justamente numa época em que a ciência se
afastara da religião. Não veio substituir nenhuma crença, mas mostrar-nos, pela
informação dos espíritos desencarnados, que há algo mais profundo na vida do
que o que veem nos laboratórios.
Por uma aberração da inteligência, pessoas há que só veem nos seres orgânicos a ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo humano apenas veem a máquina elétrica; somente pelo funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida, cuja repetida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio. Procuraram saber se alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se tornara inerte, como não viram a alma escapar-se, como não a puderam apanhar, concluíram que tudo se continha nas propriedades da matéria e que, portanto, à morte se seguia a aniquilação do pensamento. Triste consequência, se fora real, porque então o bem e o mal nada significariam, o homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima de tudo a satisfação de seus apetites materiais; quebrados estariam os laços sociais e as mais santas afeições se romperiam para sempre. Felizmente, longe estão de ser gerais semelhantes ideias, que se podem mesmo ter por muito circunscritas, constituindo apenas opiniões individuais, pois que em parte alguma ainda formaram doutrina. Uma sociedade que se fundasse sobre tais bases traria em si o germe de sua dissolução e seus membros se entredevorariam como animais ferozes.
O homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a vida. O nada lhe infunde horror. É em vão que se obstina contra a ideia da vida futura. Ao soar o momento supremo, poucos são os que não inquirem do que vai ser deles, porque a ideia de deixar a vida para sempre algo oferece de pungente. Quem, de fato, poderia encarar com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor? Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se sepultassem para sempre todas as suas faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si mesmo: Pois quê! depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio, dentro em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva, além da do meu corpo roído pelos vermes!
Não tem este quadro alguma coisa de horrível, de glacial? A religião ensina que não pode ser assim e a razão no-lo confirma. Uma existência futura, porém, vaga e indefinida não apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida.Possuímos alma, está bem; mas que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus; outros, uma centelha; outros, uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que de tudo isto ficamos sabendo? Que nos importa ter uma alma, se, extinguindo-se-nos a vida, ela desaparece na imensidade, como as gotas de água no oceano? A perda da nossa individualidade não equivale, para nós, ao nada? Diz-se também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial carece de proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. A religião ainda nos ensina que seremos felizes ou desgraçados, conforme o bem ou o mal que houvermos feito. Que vem a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última significação; mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde esse lugar de suplício? Numa palavra, que é o que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera? Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações.
É erro dizê-lo e a missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de uma probabilidade sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo com os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de antirreligioso? Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.
149.
Que sucede à alma no instante da morte?
— Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.
Comentário
Enquanto encarnado, temos uma alma que se manifesta no corpo com o auxílio do perispírito. Ao desencarnarmos, deixamos o corpo físico na Terra e passamos a ser Espíritos com seu perispírito, do qual o corpo é cópia grosseira.
150.
A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?
—
Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?
a)
Como comprova a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo
material?
—
Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu
planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.
b)
A alma nada leva consigo deste mundo?
— Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. Quanto mais pura for, melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.
Comentário
Como dissemos na questão anterior, a alma é um Espírito encarnado que possui corpo físico e perispírito (corpo espiritual). Ao morrer, apenas permanece conosco o corpo espiritual (perispírito), pelo qual podemos nos manifestar.
151.
Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo
universal?
— O conjunto dos Espíritos não forma um todo? não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas sempre a tua individualidade.
Comentário
O
“todo universal” nada mais se pode entender como conjunto dos espíritos que se
encontram no mundo espiritual. Cada um de nós ali, como num grande grupo de
pessoas, conserva sua individualidade. Jamais a perde, mesmo na situação de Espírito
puro.
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