Estudo d'O Livro dos Espíritos
161.
Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não se
enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e
a cessação da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”
Comentário
Nas mortes violentas, o socorro espiritual é imediato. Desse modo, a separação entre a alma e o corpo é, em geral, muito rápida. O que não ocorre no caso dos suicidas, tendo em vista que sua morte violenta foi causada pelo próprio autocida.
162.
Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a
consciência de si mesmo?
“Não
raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha
extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe
faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.”
Comentários
Enquanto houver atividade cerebral no cabeça separada do corpo, o que pode levar alguns minutos, o Espírito que não perdeu os sentidos antes da decapitação pode conservar sua consciência, o que não dura muito tempo.
Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo.
163.
A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?
“Imediatamente
não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”
Comentário
À
exceção de Espíritos de alta elevação, todos os demais passam por um período de
confusão mental ou perturbação, que pode durar pouco tempo ou, no caso dos
suicidas, longo tempo, que eles imaginam durar para sempre, mas que a bondade
Divina, no tempo certo os socorrerá.
“Não;
depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece
quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida
do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura,
guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”
Comentário
É
o que antecipamos, em questão anterior. O Espírito puro recobra imediatamente a
consciência. O ser ainda preso às impressões da matéria fica mais tempo em
perturbação.
“Influência
muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua
situação; mas a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência
exercem.”
Comentários
O conhecimento do Espiritismo não é salvo conduto para ninguém. É preciso que nos esforcemos na prática da caridade e da sabedoria para que nos libertemos rapidamente dos liames corporais e alcemos voo às regiões elevadas do mundo espiritual.
Por
ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma
para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no
estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre
a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida
que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que
se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos.
Muito
variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de
algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que,
desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os
aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem
imediatamente a posição em que se encontram.
Aquela
perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos
indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte
violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos etc., o
Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto.
Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo,
reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele.
Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o
ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do
perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não
pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente.
Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca
mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de
destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de
não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo
semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve
tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe
chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpá-lo. Esse fenômeno
é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir.
É que têm o sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam
livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos revelam essa
particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente.
Todavia, sempre mais generalizada se apresenta essa particularidade entre os
que, mesmo doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular
espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se fora o
de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até o
momento em que compreende a verdade.
A
perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se
conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo
despertar. Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é
cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua
situação se compenetra.
Nos
casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem
ao
mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue
à morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe
interessam.
“Sofrendo
a prova de uma nova existência.”
a)
Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se,
a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária
lhe é a prova da vida corporal.”
b)
A alma passa então por muitas existências corporais?
“Sim,
todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem
manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo
deles.”
c)
Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo,
toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve
entender?
“Evidentemente.”
Comentário
É
a Doutrina da reencarnação que Allan Kardec, mesmo proveniente de família
católica, rapidamente assimilou, por nela ver a única que explica as
desigualdades sociais, físicas e intelectuais entre cada ser humano.
167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação,
melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
A
reencarnação tem por fim tornar o Espírito perfeito. Como somos imortais, cabe
a cada um de nós esforçar-se em evoluir mais rapidamente, a fim de alcançar
essa perfeição.
168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A
cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso.
Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das
provas da vida corporal.”
Como
foi dito anteriormente, a finalidade da reencarnação é a purificação do
Espírito, quando não mais terá necessidade de reencarnar.
169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?
“Não;
aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações
sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.”
Comentário
Para
atingir a pureza, que requer amor e sabedoria, são necessárias inumeráveis
encarnações.
170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?
“Espírito
bem-aventurado; puro Espírito.”
Comentário
A
pureza do Espírito é, portanto a meta de cada um de nós.
171. Em que se funda o dogma da reencarnação?
Comentários
Todos
os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de
alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua Justiça,
porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou
concluir numa primeira prova.
Não
obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para
sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio em que foram
colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento.
Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma
única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria
imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.
A
doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito
muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos
da Justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior;
a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos
oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão
no-la indica e os Espíritos a ensinam.
O
homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na
doutrina da reencarnação. Se crê na Justiça de Deus, não pode contar que venha
a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele.
Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade
não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado
lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver
tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito?
Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em
nova existência.
“Não;
vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem
as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”
Comentário
Assim
como existe a pluralidade das existências na Terra, também há inumerável
quantidade de mundos no Universo. Desse modo, podemos ter vivido em outro mundo,
que pode ter sido pior do que este ou melhor, dependendo do grau de evolução de
cada Espírito. Os que vieram de mundo melhor, em geral reencarnam na Terra em
missão, mas pode ocorrer que também isso ocorra como expiação.
173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter muitas no mesmo globo?
“Pode
viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um
mundo superior.”
a)
Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?
“Certamente.”
b)
Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos?
“Sem
dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra.”
Conforme
dissemos acima, podemos encarnar em diversos mundos, mas em geral o Espírito vive
muitas encarnações num mesmo mundo.
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