Estudo d'O Livro dos Espiritos (Jorge e Lourdes)
152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?
“Não
tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis;
se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala,
reveladora da existência de um ser que está fora de vós.”
Os que pensam que, pela morte, a alma
reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota de
água que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se
por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada
alma ou Espírito é um elemento.
Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material.
Comentário
153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?
“A
vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando
o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.”
a) Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?
“Essa é antes a felicidade eterna, mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.”
Comentário
A ideia de retorno ao "todo universal" pode ser mal interpretada. Se entendermos esse todo como o conjunto dos Espíritos, cada alma permanece como elemento distinto desse grupo, semelhante a uma pessoa numa assembleia, que faz parte do todo, mas preserva sua individualidade. Caso contrário, se pensarmos que a alma perde sua personalidade como uma gota d’água no oceano, estaríamos em erro.
154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?
“Não;
o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a
alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam
no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu
exílio.”
Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.
Comentário
Os Espíritos possuem o perispírito, que pode assumir diversos aspectos, que, geralmente, mantêm a aparência da última encarnação. Assim, a forma do Espírito não é física e limitada como a do corpo material, mas pode ser percebida, especialmente em manifestações mediúnicas ou aparições, justificando a ideia de uma forma determinada, porém fluídica.
155. Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rotos
os laços que a retinham, ela se desprende.”
a)
A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de
demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”
Durante a vida, o Espírito se acha preso
ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a
destruição do corpo somente,não a desse outro invólucro, que do corpo se separa
quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da
morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário,
se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos.
Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é o da
libertação, com apenas algumas horas de diferença. Em outros, naqueles
sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos
rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica
existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida,
mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção
com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito,
racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a
matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade
intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de
desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, chegando a morte,
ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os
indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações
ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos
indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o
horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos
gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.
A justificativa está na natureza do perispírito, corpo fluídico que pode se tornar visível ou invisível conforme a vontade do Espírito e as condições do ambiente. Aparições são possíveis porque o perispírito pode condensar-se, tornando-se perceptível aos sentidos humanos, justificando relatos de pessoas que veem os Espíritos.
156.
A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa
da vida orgânica?
“Na
agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe
resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em
movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o
que não necessita da alma.”
A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que a alma conserva sua individualidade
após a morte, permanecendo como Espírito distinto, com pensamentos, sentimentos
e memórias próprios. Essa individualidade é essencial para a evolução
espiritual, pois permite que cada Espírito aprenda, progrida e se
responsabilize por seus atos.
157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?
“Muitas
vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega
então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida
da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do
estado de Espírito.”
Comentário
Além
das comunicações mediúnicas, as aparições e fenômenos relacionados à
mediunidade servem como provas da sobrevivência da alma. Testemunhos, relatos e
experiências de contato com Espíritos reforçam a ideia de sobrevivência e
individualidade após a desencarnação.
158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma
ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra,
como frequentemente vos sucede.”
Comentário
Os
Espíritos mantêm as recordações de suas vivências na Terra, podendo sentir
alegria ou pesar conforme o uso que fizeram da existência. Essas lembranças são
importantes para o aprendizado e a evolução do Espírito, que, assim, reflete
sobre suas escolhas e ações.
159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no Mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticaste o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.”
Comentário
O Espírito leva consigo todo o saber, experiências e progresso moral acumulados durante a encarnação. Isso é fundamental para a evolução individual, justificando a necessidade de múltiplas existências para seu aprimoramento contínuo.
160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim,
conforme a afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes
aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o
ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos
que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade,
como vê os encarnados e os vai visitar.”
Comentário
Os
Espíritos que tiveram vínculos afetivos ou convivência na Terra podem se
reconhecer no mundo espiritual, especialmente pela afinidade, lembrança e
vibração energética. Isso reforça a ideia de continuidade dos laços, permitindo
reencontros e convivências além da vida física.
O Espírito conserva sua individualidade, memória e experiência após a morte, e pode comunicar-se,
manifestar-se e reconhecer outros Espíritos, como demonstram-nos as observações,
relatos e princípios doutrinários.
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