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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espiritos (Jorge e Lourdes)


Obs.: a partir da questão 152, as questões e suas respostas manterão a estrutura publicada em livro da Federação Espírita Brasileira. Hoje publicamos as questões 152 a 160.


152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?

“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da  existência de um ser que está fora de vós.”

 

Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota de água que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.

Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material. 

Comentário

 As comunicações mediúnicas recebidas são evidência da individualidade da alma após a morte. Isso se justifica pelo fato de que tais comunicações apresentam características pessoais, pensamentos e sentimentos próprios de cada Espírito comunicante, o que demonstra que não há a dissolução da personalidade no "todo universal". Ou seja, se não houvesse cegueira ou surdez espiritual, seria possível perceber claramente a existência de um ser distinto dialogando conosco, validando a permanência da individualidade após a desencarnação.

153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?

“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.”

a) Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?

“Essa é antes a felicidade eterna, mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.”

Comentário

A ideia de retorno ao "todo universal" pode ser mal interpretada. Se entendermos esse todo como o conjunto dos Espíritos, cada alma permanece como elemento distinto desse grupo, semelhante a uma pessoa numa assembleia, que faz parte do todo, mas preserva sua individualidade. Caso contrário, se pensarmos que a alma perde sua personalidade como uma gota d’água no oceano, estaríamos em erro.

154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?

“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.”

Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.

Comentário

Os Espíritos possuem o perispírito, que pode assumir diversos aspectos, que, geralmente, mantêm a aparência da última encarnação. Assim, a forma do Espírito não é física e limitada como a do corpo material, mas pode ser percebida, especialmente em manifestações mediúnicas ou aparições, justificando a ideia de uma forma determinada, porém fluídica.

155. Como se opera a separação da alma e do corpo?

“Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.”

a) A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?

“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”

Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente,não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é o da libertação, com apenas algumas horas de diferença. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.

 Comentário

A justificativa está na natureza do perispírito, corpo fluídico que pode se tornar visível ou invisível conforme a vontade do Espírito e as condições do ambiente. Aparições são possíveis porque o perispírito pode condensar-se, tornando-se perceptível aos sentidos humanos, justificando relatos de pessoas que veem os Espíritos.

156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?

“Na agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”

 Comentário

A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que a alma conserva sua individualidade após a morte, permanecendo como Espírito distinto, com pensamentos, sentimentos e memórias próprios. Essa individualidade é essencial para a evolução espiritual, pois permite que cada Espírito aprenda, progrida e se responsabilize por seus atos.

157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?

“Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”

Comentário

Além das comunicações mediúnicas, as aparições e fenômenos relacionados à mediunidade servem como provas da sobrevivência da alma. Testemunhos, relatos e experiências de contato com Espíritos reforçam a ideia de sobrevivência e individualidade após a desencarnação.

158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?

“Uma ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como frequentemente vos sucede.”

Comentário

Os Espíritos mantêm as recordações de suas vivências na Terra, podendo sentir alegria ou pesar conforme o uso que fizeram da existência. Essas lembranças são importantes para o aprendizado e a evolução do Espírito, que, assim, reflete sobre suas escolhas e ações.


159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no Mundo dos Espíritos?

“Depende. Se praticaste o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.”

Comentário

O Espírito leva consigo todo o saber, experiências e progresso moral acumulados durante a encarnação. Isso é fundamental para a evolução individual, justificando a necessidade de múltiplas existências para seu aprimoramento contínuo.

160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?

“Sim, conforme a afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai visitar.”

Comentário

Os Espíritos que tiveram vínculos afetivos ou convivência na Terra podem se reconhecer no mundo espiritual, especialmente pela afinidade, lembrança e vibração energética. Isso reforça a ideia de continuidade dos laços, permitindo reencontros e convivências além da vida física.

O Espírito conserva sua individualidade, memória e experiência após a morte, e pode comunicar-se, manifestar-se e reconhecer outros Espíritos, como demonstram-nos as observações, relatos e princípios doutrinários.


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