Em
dia com o Machado 15 (jlo)
Ninguém se presuma insubstituível,
pois de insubstituíveis o cemitério está cheio. Entretanto, as lacunas que são
preenchidas não preenchem o vazio da saudade de alguém operoso no bem.
É muito comum, igualmente, haver pessoas
que avançam um passo à frente, na administração de uma instituição pública ou
privada. Logo, porém, são substituídas por outras que recuam dois passos atrás
(Gostou do pleonasmo?). Um passo à frente, dois passos atrás; um à frente, dois
atrás... Onde iríamos parar se isso continuasse desse jeito? Na era dos
dinossauros e, consequentemente, extintos.
Felizmente, nem sempre os que dão um
passo à frente são substituídos pelos que dão dois atrás. Há muito mais gente
do bem no mundo do que gente do mal. Quando alguém faz um órgão público ou uma empresa
privada recuar, essa pessoa recua também. E recuando, começa a refletir, e
refletindo, se é inteligente, passa a borracha no que fez de errado e avança
também. A não ser que seja masoquista e goste de sofrer, pois a lei do “aqui se
faz, aqui se paga” é inflexível.
Mas se os maus sofrem de forma
justa, por que os bons sofrem também? Porque também já foram maus e,
imperceptivelmente às leis humanas, passaram despercebidos em suas maldades pretéritas.
A não ser assim, Deus não seria justo ao fazer sofrer tanto os bons quanto os
maus.
Há uma diferença capital entre o
sofrimento dos bons e o dos maus. Estes sofrem de forma revoltada, blasfemam,
urram, xingam, etc. E quanto mais esperneiam, mais sofrem. Já aqueles dão-nos
exemplos sublimes de resignação, de brandura e de submissão à vontade do
Altíssimo. Seu sofrimento, ainda que aparentemente injusto, dá-nos verdadeira
lição de como agir ante a correção paterna, pois, como disse Jesus, todos somos
filhos de Deus, que é Amor. Por isso mesmo, a dor do bom é fonte de depuração;
a do mau, de desespero.
Vê lá como sofres, heim, minha cara
leitora! Depois não digas que não te avisei...
É impressionante, no entanto, como a
humanidade enaltece os feitos dos bons como os dos maus. E, mais impressionante
ainda, as ações destes sobrepujam em interesse as daqueles. Ligue, amiga leitora, sua televisão em três ou
quatro canais, em especial no horário dos noticiários dos telejornais. Duvido,
mas duvido muito que, de três, dois, de quatro, três, no mínimo, não estejam falando
sobre tragédias, crimes, desgraças. Parece até que estamos num mundo em que, se
Deus lançasse uma grande toalha sobre nós e depois torcesse, só haveria prantos
e ranger de dentes; numa linguagem mais coloquial, “dali só sairia sangue”.
Tal fato decorre de nossa natureza
ainda animalizada. Hoje em dia, até o futebol, um esporte solidário, que tem a
participação de onze jogadores ou jogadoras de cada lado, leva o torcedor a um
desvairamento irracional, quando percebe que seu time perdeu. Contudo, na Roma
antiga, os esportes violentos culminavam com a morte do oponente. Quando isso
não se dava, lá estava o Imperador Nero e seu dedo polegar, invariavelmente
para baixo, o que significava uma culminância de ato do vencedor com o
sacrifício do vencido.
Se cada gladiador derrotado e cada
cristão martirizado por Nero espirrasse, ao mesmo tempo, e apenas uma gota de
seu sangue pingasse no Imperador, este seria afogado num rio de sangue.
Milhões de pessoas boas, contudo,
prezada amiga, nascem, vivem pacatamente e, se forem pesados seus atos na
balança, prevalece de muito o bem. Passam no mundo desconhecidas, mas por aonde
vão a vida parece sorrir, a natureza floresce.
Nem todas são religiosas, mas a
maioria é incapaz de cometer um ato de crueldade, sem que se sinta tremendamente
pesarosa e tente corrigi-lo de algum modo.
Por que a imprensa não alardeia o
bem? Nossas crianças, em tenra idade, são submetidas a uma aluvião de notícias
sobre crimes, violência doméstica e na rua, corrupção de políticos,
desonestidades e hipocrisias, como se isso fosse predominante em nossa
sociedade.
Não admira que as crianças cresçam
julgando que vivemos num mundo de faz de conta. Faz de conta que sou honesto,
mas estou de olho em teus bens; faz de conta que vou combater os corruptos, todavia
sempre vou corromper alguém; faz de conta que sou fiel, entretanto, vivo
traindo as pessoas com quem convivo; faz de conta que acredito nas palavras do
homem que dividiu o tempo em antes e depois dele, mas, para mim, ele jamais
existiu.
É impossível ser bom num mundo do “faz
de conta”...
Será?
Pergunta a esses milhões de almas
boas se, mesmo passando fome, pensam em roubar alguém. Muitos, embora
convivendo no charco, fazem da lama um lindo castelo e nele vivem
harmoniosamente.
Pergunta a essas crianças sofridas,
abandonadas, em sua maioria, que precisam trocar as brincadeiras pelo trabalho,
se elas não são extremamente solidárias umas com as outras. Pergunta a inumeráveis “boias frias”, ou “peões”,
se se aproveitaram da boa fé de seus chefes e os ludibriaram alguma vez.
Indaga às multidões de servidoras
domésticas se elas furtaram um só botão de seus patrões.
Interroga a incontáveis tristes
enfermos, muitos deles ainda jovens, se estão revoltados com o Senhor.
De todos ouvirás, querida amiga, uma
palavra de esperança, um alerta de que nada há melhor do que viver bem com a
própria consciência, ali onde reside o dedo de Deus, a nos apontar cada falta,
por mais insignificante tenha sido, mas também a nos proporcionar um bem-estar
indefinível, proveniente da retidão do nosso proceder.
Imagina, amiga, quando os jornais,
as TVs, as revistas, os livros inverterem o procedimento corrente de divulgação
do mal e passarem a enfatizar o bem até as lágrimas.
O Reino dos Céus estará implantado
na Terra e o Cristo estará, para sempre, entre nós.
Boas noites!
Adorei!
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