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segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Em dia com o Machado 19 (jlo)

             Minha prezada leitora e caríssimo leitor, comemoramos, neste 15 de outubro, o dia do(a) professor(a).
            Lembro-me das artes que fazia com meus professores do chamado curso científico na juventude. Era costume meu não estudar para as provas. Tinha o hábito de, nos dias de avaliação, chegar quinze minutos antes do teste e dar uma lida no que o(a) professor(a) dera em aula e eu copiara. Em seguida, pegava um lápis, anotava na carteira de madeira tudo o que fora destacado pelo(a) mestre(a) nas aulas, até então, e... pronto, estava pronto para a prova. O resto era confiar na memória...
            Nessa época, nunca fui um bom aluno, estava mais para medíocre, pois minhas notas giravam em torno de 5 e 6 de um máximo de 10. Também não era muito assíduo. Se houvesse uma pelada no dia da prova, bem vinda, pelada, adeus prova! Achava uma desculpa e pedia ao(à) professor(a) para marcar uma segunda chamada noutro dia e tudo acabava bem; se é que é bem ficar com cinco ou seis numa prova; por vezes, menos de cinco; esta, minha média mais frequente.
            Também costumava levar umas anotações em pequenos papéis e, quando o(a)  professor(a) se distraía um pouco, lá estava eu com a mão no bolso...
            Num dia de prova, foram tantas as dúvidas que, por fim, passei a abrir os papéis com as colas na frente do professor, sem a menor cerimônia. Observei-o sentado em sua mesa a olhar-me, complacentemente, como a pedir-me, pelo amor de Deus, discrição na colação, mas resolvi ignorá-lo e continuei a cola escancarada.
            Não deu outra, o professor levantou-se, veio em minha direção e, ó vergonha, simplesmente pegou minha prova e, educadamente, a pôs sobre sua mesa, dispensando-me, em seguida, da aferição de conhecimentos naquele dia.
            Pois não é que com tudo isso, no final do ano, ainda fui aprovado com a meritória nota 5? Pouco me lixava para isso, o que me importava era saber que, diariamente, passaria horas jogando uma pelada com bolas murchas como o meu futebol e o dos meus colegas de esporte.
            O tempo passou, amadureci, deixei as colas no bolso do passado, graduei-me, fiz pós-graduação e também passei a lecionar. Inspirado na sabedoria daquele professor, descobri que alguns alunos ainda não estão maduros, mas são inteligentes... E, sem necessidade de criarmos um escândalo público e vexatório com eles, devemos dar-lhes todas as chances do mundo para aprenderem, nem que seja com base em anotações discretas e inteligentes, sem, logicamente, fazermos disso uma apologia.
            Caso exorbitem da condição de pescadores de última hora e resolvam pescar escancaradamente, na prova, uma primeira providência, que também costuma ser a última, é trocar o lugar do(a) aluno(a) com um(a) dos(as) seus(suas) colegas distanciados(as) na sala. A única imposição é a de que só levem consigo a folha da prova, a folha para respostas e uma caneta (assim ninguém fica sabendo quem colava de quem).
            Chegamos ao absurdo, porém, de um professor doutor, que leciona na universidade particular de nossas atividades acadêmicas, informar-nos de que os alunos universitários de nossos dias são muito mais criativos do que o fomos no passado. Eles simplesmente pedem ao professor para, na aula anterior à da prova, passar-lhes o conteúdo da avaliação e não cobrar deles nada além do que ali está escrito.
            Em geral, diz-nos o ilustre pedagogo, ele passa todo o conteúdo no quadro branco (agora até a cor do quadro mudou, ficou branco de vergonha...), pede a algum aluno um pouco mais letrado para ler o que ali está contido e dá um ultimato:
­            — Há alguma dúvida? Nada havendo contra, anotem tudo direitinho. Se no dia da prova, alguém copiar qualquer coisa diferente do que aqui está, essa pessoa vai ter pontos descontados em sua nota de prova.
            Ah, que saudades do meu tempo de aluno secundário! Quanto trabalho tinha para elaborar as colas... quanta imaginação para burlar a atenção do(a) professor(a)... Agora, em universidades, basta saber copiar o que já foi escrito pelo(a) professor(a)...
            Talvez por isso, a tese dos oito por cento seja tão verdadeira. É o seguinte: de todos os funcionários de uma empresa, somente oito por cento se destacam por espírito de iniciativa, interesse no aumento de produção e, consequentemente, no futuro da empresa;  de todos os alunos de uma sala de aula, somente oito por cento assimilará o conteúdo, participará com interesse da aula e, de repente, aprenderá...
            Mas, ó idealismo sublime! de todos os professores, somente oito por cento não entenderam o verdadeiro sentido da palavra Mestre. A maioria, 92%, mesmo recebendo vil remuneração, humilhações, ameaças, busca dar o melhor de si para que aqueles oito por cento de seus verdadeiros aprendizes possam tornar-se cidadãos preparados para o mercado de trabalho. Sobretudo, para a vida em sociedade, com respeito aos direitos alheios e total empenho em espelharem-se no exemplo dos bons profissionais, tais como seu (sua) professor(a).
            Sabem estes que terão de travar uma luta, por ora, perdida com os demais 92% dos discípulos que ainda não amadureceram e aguardam, pacientemente, que o tempo e o fracasso façam por eles (elas) o que, em seu trabalho parece ser um esforço inútil.
            Sabem, também, que, se a alma é grande, tudo virá no momento certo, pois, como diz o grande vate Fernando Pessoa, “(...) tudo vale a pena, se a alma não é pequena!”
            Aos (Às) verdadeiros(as) mestres(as), os nossos parabéns pelo Dia do(a) Professor(a)!
            Boas noites!

            Observação: para evitar a salada de letras acima (o (a), do (da), etc.), ocorrida em grande parte desta, a partir da próxima crônica, volto a revezar o tratamento para o padrão ora feminino, ora  masculino. Fica o(a) leitor(a) à vontade para fazer as substituições de gênero, quando for o caso.
           

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