Em
dia com o Machado 19 (jlo)
Lembro-me das artes que fazia com
meus professores do chamado curso científico na juventude. Era costume meu não
estudar para as provas. Tinha o hábito de, nos dias de avaliação, chegar quinze minutos antes do teste e dar uma lida no que o(a) professor(a)
dera em aula e eu copiara. Em seguida, pegava um lápis, anotava na carteira de
madeira tudo o que fora destacado pelo(a) mestre(a) nas aulas, até então, e... pronto,
estava pronto para a prova. O resto era confiar na memória...
Nessa
época, nunca fui um bom aluno, estava mais para medíocre, pois minhas notas
giravam em torno de 5 e 6 de um máximo de 10. Também não era muito assíduo. Se
houvesse uma pelada no dia da prova, bem vinda, pelada, adeus prova! Achava uma
desculpa e pedia ao(à) professor(a) para marcar uma segunda chamada noutro dia e
tudo acabava bem; se é que é bem ficar com cinco ou seis numa prova; por vezes, menos
de cinco; esta, minha média mais frequente.
Também costumava levar umas
anotações em pequenos papéis e, quando o(a) professor(a) se distraía um pouco, lá
estava eu com a mão no bolso...
Num dia de prova, foram tantas as
dúvidas que, por fim, passei a abrir os papéis com as colas na frente do
professor, sem a menor cerimônia. Observei-o sentado em sua mesa a olhar-me,
complacentemente, como a pedir-me, pelo amor de Deus, discrição na colação, mas
resolvi ignorá-lo e continuei a cola escancarada.
Não deu outra, o professor
levantou-se, veio em minha direção e, ó vergonha, simplesmente pegou minha
prova e, educadamente, a pôs sobre sua mesa, dispensando-me, em seguida, da
aferição de conhecimentos naquele dia.
Pois não é que com tudo isso, no
final do ano, ainda fui aprovado com a meritória nota 5? Pouco me lixava para
isso, o que me importava era saber que, diariamente, passaria horas jogando uma
pelada com bolas murchas como o meu futebol e o dos meus colegas de esporte.
O tempo passou, amadureci, deixei as
colas no bolso do passado, graduei-me, fiz pós-graduação e também passei a
lecionar. Inspirado na sabedoria daquele professor, descobri que alguns alunos
ainda não estão maduros, mas são inteligentes... E, sem necessidade de criarmos
um escândalo público e vexatório com eles, devemos dar-lhes todas as chances do
mundo para aprenderem, nem que seja com base em anotações discretas e
inteligentes, sem, logicamente, fazermos disso uma apologia.
Caso exorbitem da condição de
pescadores de última hora e resolvam pescar escancaradamente, na prova, uma
primeira providência, que também costuma ser a última, é trocar o lugar do(a)
aluno(a) com um(a) dos(as) seus(suas) colegas distanciados(as) na sala. A única
imposição é a de que só levem consigo a folha da prova, a folha para respostas e uma
caneta (assim ninguém fica sabendo quem colava de quem).
Chegamos ao absurdo, porém, de um
professor doutor, que leciona na universidade particular de nossas atividades
acadêmicas, informar-nos de que os alunos universitários de nossos dias são
muito mais criativos do que o fomos no passado. Eles simplesmente pedem ao
professor para, na aula anterior à da prova, passar-lhes o conteúdo da
avaliação e não cobrar deles nada além do que ali está escrito.
Em geral, diz-nos o ilustre
pedagogo, ele passa todo o conteúdo no quadro branco (agora até a cor do quadro
mudou, ficou branco de vergonha...), pede a algum aluno um pouco mais letrado para ler o que ali está
contido e dá um ultimato:
— Há alguma dúvida? Nada havendo contra, anotem tudo direitinho. Se no
dia da prova, alguém copiar qualquer coisa diferente do que aqui está, essa
pessoa vai ter pontos descontados em sua nota de prova.
Ah, que saudades do meu tempo de
aluno secundário! Quanto trabalho tinha para elaborar as colas... quanta
imaginação para burlar a atenção do(a) professor(a)... Agora, em universidades,
basta saber copiar o que já foi escrito pelo(a) professor(a)...
Talvez por isso, a tese dos oito por
cento seja tão verdadeira. É o seguinte: de todos os funcionários
de uma empresa, somente oito por cento se destacam por espírito de iniciativa,
interesse no aumento de produção e, consequentemente, no futuro da empresa; de todos os alunos de uma sala de aula,
somente oito por cento assimilará o conteúdo, participará com interesse da aula
e, de repente, aprenderá...
Mas, ó idealismo sublime! de todos
os professores, somente oito por cento não entenderam o verdadeiro sentido da
palavra Mestre. A maioria, 92%, mesmo recebendo vil remuneração, humilhações,
ameaças, busca dar o melhor de si para que aqueles oito por cento de seus verdadeiros
aprendizes possam tornar-se cidadãos preparados para o mercado de trabalho. Sobretudo, para a vida em sociedade, com respeito aos direitos alheios e total
empenho em espelharem-se no exemplo dos bons profissionais, tais como seu (sua)
professor(a).
Sabem estes que terão de
travar uma luta, por ora, perdida com os demais 92% dos discípulos que ainda não
amadureceram e aguardam, pacientemente, que o tempo e o fracasso façam por eles
(elas) o que, em seu trabalho parece ser um esforço inútil.
Sabem, também, que, se a alma é
grande, tudo virá no momento certo, pois, como diz o grande vate Fernando
Pessoa, “(...) tudo vale a pena, se a alma não é pequena!”
Aos (Às) verdadeiros(as) mestres(as),
os nossos parabéns pelo Dia do(a) Professor(a)!
Boas noites!
Boas noites!
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