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domingo, 5 de maio de 2013

Em dia com o Machado 48 (jlo)
 
                Boa-noite!
                Amigos, hoje começarei a falar-lhes sobre o retorno de alguns dos grandes pensadores à Terra, mormente daqueles que, por muito pensarem, pensaram que quem pensava não era eles e sim o cérebro. Coitados, confundiram o efeito com a causa, pois esta não é a matéria e, sim, o Espírito.
                Aliás, cadê a matéria? Está provado que tudo é energia, a qual, condensada, se torna palpável e visível, olfativa, auditiva e gustativa... E dá-lhe espaço! E dá-lhe dimensão!
                Vamos começar por Nietzsche. Segundo fui informado aqui, ele está por aí, reencarnado como Zaratustra, para explicar melhor a lei do “eterno retorno” e a “morte de deus”.
                Comecemos da segunda teoria. Na obra nietzscheana, Zaratustra foi informado pelo último papa de que aquele deus duro, vingativo, dos profetas antigos, fora substituído pelo deus compassivo, velho e fraco dos cristãos.
                Nenhum dos dois logrou sucesso com sua criação: o deus vingativo não conseguiu frear o mal e implantar o bem pelo temor; o deus compassivo não conseguiu tornar bom o mau, pelo amor, pois o amor foi confundido, pelo ser humano, com a paixão carnal, o apego ao poder, ao dinheiro, etc.
                Foi então que, numa crise de fúria, Zaratustra gritou: “Chega de um deus como este!” Ocorreu, porém, que o personagem, matando Deus, quem despencou no vazio da própria consciência e também morreu foi o autor da obra. Não o divino, mas o humano.
                Há dezenove anos, Nietzsche renasceu, no Brasil, numa família ateia que admirava tanto a obra do filósofo alemão, que resolveu pôr o nome de seu protagonista no filho. E eis ressurgido Zaratustra em pele e osso.
                Acontece, porém que o garoto, desde os sete anos, passou a ler com inusitado interesse as teorias nietzscheanas, e, quanto mais as lia, mais compreendia que as pessoas não a compreendiam. Depois, passou a ler outras teorias niilistas, a Bíblia, o Budismo e outras filosofias orientais.
                Até que, um belo dia, saindo da adolescência, deparou-se com a Doutrina Espírita e disse:
                — Eureka! Aqui está a chave de todas as dúvidas humanas. Agora entendi por que não entendia o deus cristão em minha existência anterior. Efetivamente, o deus antropomórfico não existe. É isto mesmo que é Deus: puro Espírito, como dizia Cristo à samaritana! Ele é a Inteligência Suprema, causa inicial de tudo o que existe. É o Motor Inteligente do Universo. E a Física Quântica está certa. Há outras dimensões de espaço que nos tornam relativas as contagens do tempo.
                E saiu por aí a estudar Kardec, meditar Kardec, refletir Kardec, divulgar Kardec, assim como André Luiz, Emmanuel e, mais recentemente, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis, Maria Dolores e Amélia Rodrigues entre outros seres imortais como ele mesmo.
                Ampliou, então, Zaratustra, sua lei do “eterno retorno” com as noções da reencarnação, que explicam, claramente, o porquê das desigualdades sociais e pessoais na Terra. Emociona-se sempre com os poemas mediúnicos ditados por Cruz e Sousa, o Cisne Negro do meu tempo (não se esqueça de que sou Machado), chora com a poesia de Antero de Quental, desfere voos alcandoreiros com o Espírito Castro Alves, abraça espiritualmente Vítor Hugo e seus romances mediúnicos, o qual até me deu um conselho:
                — Machado! desce lá e diga àquela gente boa do Brasil que mudaste de time. Fale mais, que os antigos filósofos alemães estão voltando para retificar o entendimento de suas doutrinas. Diga-lhes que agora estás ao lado da Verdade.
                — Do Espírito Verdade, guia espiritual de Allan Kardec? O Enviado de Jesus?
                — Nem tanto... nem tanto... Ainda não tens todo esse mérito, mas podes confabular comigo e outros equivocados como tu, que chegaste a abraçar suas ideias negativistas, e agora, todos arrependidos, estão retornando para explicar melhor suas teorias.
                — Não é o seu caso, ilustre Hugo. Gênio da literatura francesa, desde cedo investigaste o Espiritismo, realizaste sessões espíritas e cedeste à evidência de que os chamados mortos vivem. E vivem melhor do que os que se supõem vivos na carne, mas estão mortos em espírito.
                — Victor agradeceu-me os encômios, com sua modéstia, e saiu de fininho à procura de um médium seguro que lhe pudesse pôr no papel as ideias de um novo romance espírita extraordinário, cujo tema prometeu informar-me dentro de alguns dias.
                Passemos agora ao filósofo alemão que nos ensinou a escrever com arte e que, segundo Thomas Mann, é o “pai de toda a psicologia moderna”:  Schopenhauer.
                Segundo esse filósofo, “deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor [...], se quisermos que ele se dê ao trabalho de ler o que escrevemos”. Talvez por isso é que o twitter (chilreio ou breve canto de um pássaro) e os sites de relacionamentos têm feito tanto sucesso no mundo atual.
                Schopenhauer reencarnou na China, com o nome de Chervir de Vircher. Seu objetivo atual é mostrar ao mundo a excelência de uma escrita simples, direta e, por isso mesmo, clara e objetiva. Dizia ele, em sua vida na Alemanha, que, quando alguém se torna profundo conhecedor de uma área específica do conhecimento e despreza os demais campos do saber, não passa de uma pessoa comum, em relação às demais áreas intelectuais. Desse modo, um profundo conhecedor de uma Ciência qualquer, mas sem qualquer autoridade em outras áreas do conhecimento, ainda que com a pretensão de servir, no que foge à sua especialização, vem a ser uma verdadeira “besta”.
                É preciso conhecer de tudo um pouco, falava ele. Então, comparava certos especialistas com o Quasímodo de Victor Hugo, o corcunda de Notre-Dame, que conhecia tudo sobre a catedral, mas fora dela nada sabia.
                — Qual a finalidade de sua reencarnação chinesa? Perguntei-lhe.
                — Ensinar o ser humano a pensar por si só, pois somente uma mente criativa é capaz de nos proporcionar algo digno de ser lido. A forma é mais importante que a matéria. Talvez por isso, uma mesma piada contada por duas pessoas poderá ser indiferente à primeira e hilária à segunda, em virtude do  modo de contar de cada uma delas.
                Só com a valorização da forma, sem, contudo, desprezar a matéria, podemos servir para vir a ser. Concluiu, filosoficamente, Chervir de Vircher.
                Por fim, faz uma referência a Rousseau, que diz: “Todo homem honesto deve assinar o que publica”. Pois se o que é bom deve ser apreciado e, mesmo elogiado, o que é ruim deve ser desprezado e, mesmo rejeitado.
                Acredita o filósofo que a tão decantada biblioteca de Alexandria, destruída por Júlio César, talvez não contivesse mais do que trinta por cento de obras dignas de serem lidas. Portanto, não se deve chorar tanto por ela, quanto a Argentina por Evita, conforme diz a letra de Tim Rice.
                — Ainda assim, disse-lhe, foi uma lastimável perda cultural para a humanidade.
                — Maior perda cultural é alguém passar toda a vida especializando-se numa coisa só e permanecer estúpido em todas as demais. Disse-me ele, com o que concordei.
                Mas é preciso saber escolher o que ler, pois não ler também é uma arte. Obras ruins são nocivas para nosso intelecto e podem nos trazer grande fraqueza espiritual.
                Concluiu, então, meu amigo Schopenhauer, em sua última vida, que a vida é curta, nosso tempo e energia têm limites e, portanto, é preciso discernir o que se deve ler do que não se deve.
                Extremamente pessimista na interpretação do Cristianismo e do Budismo, em sua encarnação como Schopenhauer, para ele, o amor seria a meta da vida; porém não entendeu a diferença entre paixão e desejos, vinculados às glândulas e órgãos corporais, com os mesmos sentimentos canalizados para o bem, como aspectos positivos do amor espiritual.
                Aprendeu, então, no Astral, que, no corpo, possuímos duas naturezas: a animal por parte do corpo; a espiritual por parte da alma. O objetivo é subjugar a primeira e desenvolver a segunda.
                Reencarnou, portanto, para refazer suas conclusões à luz da certeza de que somos eternos; fomos criados para a felicidade, que se torna tanto maior quanto maior for a soma do bem que fizermos.
                Muito inteligente, agora está com dezoito anos, mas, aos sete, certo dia, disse à sua mãe:
                — Mamãe, sabia que somos imortais e que fomos feitos à imagem e semelhança do Espírito de Deus e, portanto, percorreremos todo o universo rumando para a eterna perfeição espiritual?
                Ao que sua mãe, espantada, lhe respondeu:
                — Chervir, meu filho, vai brincar com Zaratustra, seu amiguinho brasileiro, e deixa a Filosofia para quando cresceres.
                — Mas, mamãe, foi ele mesmo quem me ensinou isso...
                Pois é, leitor amigo, há muito mais gente boa retornando para ensinar aos humanos da Terra o que ouviu dos Espíritos do Além do que possa imaginar sua vã Filosofia.
                Cuide-se.

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