Páginas

sábado, 17 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 63 (jlo)

            — Hoje, minha bela leitora, nosso papo é sobre umas gangues e seus comparsas. Não sobre a de Al Capone e Ali Babá; muito menos em relação às do Congresso.
            — Quem seriam esses companheiros? Há de perguntar o leitor a seu lado, admirador de sua estupenda beleza e inteligência primorosa, mui prezada amiga. Seria a gangue dos pichadores de paredes, que emporcalham os edifícios de sua cidade?
            —Não, amigo.
            — Seria o grupo mal intencionado dos vândalos que se aproveitam (Dica: observe o que se.) dos movimentos pacíficos de reivindicação popular para quebrarem e roubarem lojas e bancos?
            — Nunca, meu chapa.
         Seria, então, a troupe do mensalão, que tenta enrolar o STF com petições meramente protelatórias de suas condenações, antes de transitarem estas em julgado?
            — Jamais, véi.
            — Seria...
            — Não, irmãzinha, a nossa primeira gangue é a do QU e seus asseclas, os pronomes oblíquos. Fazem parte dessa gangue estes pronomes: QUE, QUEM, QUAL, QUANDO, QUANTO E PORQUE junto ou separado, com ou sem acento. Com eles, o pronome átono é sempre proclítico (antes do verbo) Mesmo que qualquer deles se faça distanciado, na frase, a atração pronominal é fatal. Quer exemplos? Vou englobá-los numa só frase:
·        A felicidade é conquistada por nós quando conseguimos nos harmonizar mental e fisicamente. É isso que nos proporciona o verdadeiro prazer; pois qual de nós não se preocupa em ser feliz? Quem não se importa com o bem alheio, quanto mais se envolve somente consigo mesmo, mais se angustia, porque o amor é lei da vida, a qual nos entrelaça como membros semelhantes na grande família de Deus. E por mais que se insista na busca dos prazeres efêmeros, aos quais se lhes associa mentalmente, quem quebra essa sintonia, em busca do mais, recebe menos; e se a felicidade é o que mais deseja, menos a obtém.
            Fica aí expresso o ensejo de você, professora de português, trabalhar esse conteúdo com seus alunos.
            Mas não se vá. Há outra gangue presente no texto acima, sem que se observasse. É a dos advérbios de sentido negativo: não, nunca, jamais, sem, etc. Alguns exemplos estão presentes na frase supracitada, mas podem ser enriquecidos com esta:
·        Nunca se deve subestimar ninguém, pois jamais se pode afirmar ter plena ciência sobre o potencial de alguém, seja um pai, uma mãe, um filho ou uma filha; Deus nos fez únicos.
            Por fim, falar-vos-ei do sujeito como um ser atrativo. (Mais adiante, trataremos da mesóclise.)
            Seria esse sujeito um Brad Pitt? Um Neymar? Ou seria aquele político, cujo nome não me atrevo a declinar?
            — E existe político atraente, Machado?
            — Quem o sabe, amigo? Se for eu ou você...
            — Seria uma sujeita, e não um sujeito, por ser aquela linda por natureza e mais interessante do que este?
            — É mesmo, querida, quem sabe não é mulher, o ser atrativo? Lembro-me da resposta de Einstein a uma belíssima miss, que lhe perguntou o que poderia acontecer na união da beleza dela com a inteligência dele:
 — O ancestral poderia nascer tão inteligente quanto ela e tão belo como ele, respondeu-lhe o gênio, que era feio pra burro.
            Mas, continuemos... Atualmente, tenta-se aproximar a escrita o mais possível da naturalidade da fala coloquial, e uma coisa que incomoda os escritores modernos é a artificialidade da mesóclise.
            Sabe aquele pronomezinho que se intromete no meio do verbo? É chamado de mesóclise. Exemplo: Se te casares comigo, dar-te-ei as estrelas do céu!
            Isso incomoda demais! Não a promessa do rapaz, mas a artificialidade do “dar-te-ei”, embora muitos ainda prefiram escrevê-lo em obediência à sua regra: toda vez que o verbo está no futuro, ocorre a mesóclise.
            Em nossos dias, porém (nada melhor do que se viver o agora), os linguistas contemporâneos (ou pós-modernos, como se queira) encontraram uma alternativa para o artificialismo mesoclítico. Basta que se enuncie o sujeito e ele atrairá o pronome. Exemplo: — Eu te darei as estrelas do céu, se te casares comigo.
            — Mas, Machado, ainda prefiro a mesóclise...
            — Então, está formada outra gangue...
            Vou-me... E não: Me vou, embora. Embora o “Não me vou” também seja correto, assim como o “Já me vou”  pra Pasárgada...
            Ops, aqui não é o Manuel Bandeira...
            Vou mesmo é saindo de fininho, antes que o leitor me mande ir para outro lugar, pois essa história (e não estória, mané) pronominal já está me enchendo o saco.

            Au revoir!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Poema ..temático (Irmão Jó)   Homenagem a Malba Tahan, pseudônimo de Júlio César Mello e Souza, autor da incomparável obra intitulada O Ho...