Em dia com
o Machado 63 (jlo)
— Hoje, minha bela
leitora, nosso papo é sobre umas gangues e seus comparsas. Não sobre a de Al
Capone e Ali Babá; muito menos em relação às do Congresso.
—
Quem seriam esses companheiros? Há de perguntar o leitor a seu lado, admirador
de sua estupenda beleza e inteligência primorosa, mui prezada amiga. Seria a
gangue dos pichadores de paredes, que emporcalham os edifícios de sua cidade?
—Não,
amigo.
—
Seria o grupo mal intencionado dos vândalos que se aproveitam (Dica: observe o que
se.) dos movimentos pacíficos de reivindicação popular para quebrarem e
roubarem lojas e bancos?
—
Nunca, meu chapa.
—Seria, então, a troupe do mensalão, que tenta enrolar o STF com petições
meramente protelatórias de suas condenações, antes de transitarem estas em julgado?
—
Jamais, véi.
—
Seria...
—
Não, irmãzinha, a nossa primeira gangue é a do QU e seus asseclas, os pronomes
oblíquos. Fazem parte dessa gangue estes pronomes: QUE, QUEM, QUAL, QUANDO,
QUANTO E PORQUE junto ou separado, com ou sem acento. Com eles, o pronome átono
é sempre proclítico (antes do verbo) Mesmo que qualquer deles se faça distanciado,
na frase, a atração pronominal é fatal. Quer exemplos? Vou englobá-los numa só
frase:
·
A felicidade é conquistada por nós quando conseguimos nos harmonizar
mental e fisicamente. É isso que nos
proporciona o verdadeiro prazer; pois qual
de nós não se preocupa em ser feliz? Quem
não se importa com o bem alheio, quanto
mais se envolve somente consigo mesmo, mais se angustia, porque o amor é lei da
vida, a qual nos entrelaça como membros semelhantes na grande família de Deus.
E por mais que se insista na busca
dos prazeres efêmeros, aos quais se lhes
associa mentalmente, quem quebra
essa sintonia, em busca do mais, recebe menos; e se a felicidade é o que mais deseja,
menos a obtém.
Fica
aí expresso o ensejo de você, professora de português, trabalhar esse conteúdo
com seus alunos.
Mas
não se vá. Há outra gangue presente no texto acima, sem que se observasse. É a
dos advérbios de sentido negativo: não, nunca, jamais, sem, etc. Alguns
exemplos estão presentes na frase supracitada, mas podem ser enriquecidos com
esta:
·
Nunca se deve subestimar ninguém, pois jamais se pode afirmar ter plena ciência sobre o potencial de alguém,
seja um pai, uma mãe, um filho ou uma filha; Deus nos fez únicos.
Por
fim, falar-vos-ei do sujeito como um ser atrativo. (Mais adiante, trataremos da
mesóclise.)
Seria
esse sujeito um Brad Pitt? Um Neymar? Ou seria aquele político, cujo nome não
me atrevo a declinar?
—
E existe político atraente, Machado?
—
Quem o sabe, amigo? Se for eu ou você...
—
Seria uma sujeita, e não um sujeito, por ser aquela linda por natureza e mais
interessante do que este?
—
É mesmo, querida, quem sabe não é mulher, o ser atrativo? Lembro-me da resposta
de Einstein a uma belíssima miss, que lhe perguntou o que poderia acontecer na
união da beleza dela com a inteligência dele:
— O ancestral poderia nascer tão inteligente
quanto ela e tão belo como ele, respondeu-lhe o gênio, que era feio pra burro.
Mas,
continuemos... Atualmente, tenta-se aproximar a escrita o mais possível da
naturalidade da fala coloquial, e uma coisa que incomoda os escritores modernos
é a artificialidade da mesóclise.
Sabe
aquele pronomezinho que se intromete no meio do verbo? É chamado de mesóclise. Exemplo:
Se te casares comigo, dar-te-ei as estrelas do céu!
Isso
incomoda demais! Não a promessa do rapaz, mas a artificialidade do “dar-te-ei”,
embora muitos ainda prefiram escrevê-lo em obediência à sua regra: toda vez que
o verbo está no futuro, ocorre a mesóclise.
Em
nossos dias, porém (nada melhor do que se viver o agora), os linguistas
contemporâneos (ou pós-modernos, como se queira) encontraram uma alternativa
para o artificialismo mesoclítico. Basta que se enuncie o sujeito e ele atrairá
o pronome. Exemplo: — Eu te darei as estrelas do céu, se te casares comigo.
—
Mas, Machado, ainda prefiro a mesóclise...
—
Então, está formada outra gangue...
Vou-me...
E não: Me vou, embora. Embora o “Não me vou” também seja correto, assim como o “Já
me vou” pra Pasárgada...
Ops,
aqui não é o Manuel Bandeira...
Vou
mesmo é saindo de fininho, antes que o leitor me mande ir para outro lugar,
pois essa história (e não estória, mané) pronominal já está me enchendo o saco.
Au
revoir!
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