Em dia com o
Machado 61 (jlo)
Este meu secretário é mesmo metido a
besta. Não passa de um “caniço pensante”, como de resto todo o ser humano, mas
pensa que é algo mais. Hoje, falar-vos-ei sobre um tema que interessa a toda a humanidade: Espiritismo e saúde mental. Como subsídio tomo a excelente palestra do dr. Sérgio, psiquiatra espírita gaúcho, que veio do Sul especialmente para nos dar seu brilhante recado ali na Federação Espírita Brasileira, nossa antiga casa, desde que a frequentávamos, no Rio de Janeiro, no século XIX.
Atualmente,
escrever carta, como o fazíamos antes, é pura perda de tempo; época virá que
não será preciso teclar e nem mesmo falar, para escrever; pensou, registrou; o
virtual será tão real quando este será virtual; quem viver verá.
Antes do
meu recado, vou revelar o nome deste secretário, no início do conteúdo de sua
correspondência eletrônica, que furtei e publico abaixo:
E-mail recebido de
um amigo meu:
Beltrano
ligou-me agora, dando-me um presente: a possibilidade de entrar em contato com
um amigo que nos traz boas lembranças da juventude, Roge Jeteli, o espírita de
fé inabalável, crença nos espíritos, na sua orientação e proteção. Soube do seu
crescimento intelectual (não foi surpresa) e pessoal. Fale-me de você. Esposa,
filhos, trabalho e fé. Esteja à vontade. Sou um bom ouvinte, ou melhor, um bom
leitor, embora às vezes seja prolixo na fala e na escrita.
Abraços,
amigo,
Fulano.
E-mail enviado ao meu
amigo:
Meu caro
fulano,
É
impressionante como jamais esquecemos os bons amigos, mesmo os ateus, graças a
Deus, rs.
Há ateus, a
bem da verdade, que são mais honestos e sinceros do que milhões de crentes, e
não me excluo destes últimos.
Você foi um
dos bons amigos inesquecíveis, como o Raulino, o Erasmo, o Maurício, o Gomes, o
Luís... e outros bons companheiros de farda, como nosso irmão de fé, beltrano,
esse sim, um homem de bem, como vocês.
Realmente,
nunca me esqueci dos seus conselhos, fulano, que, a bem da verdade, na
opacidade mental em que eu vivia, achava engraçados. Afinal, dizia de mim para
comigo, no Espiritismo encontro resposta para tudo, mesmo... Será uma perda de
tempo estudar outra coisa...
Depois
percebi que não era bem assim, pois os próprios espíritos superiores, na
questão 898, proposta por Allan Karde, em O Livro dos Espíritos, recomendam-nos
estudar sempre, como se pode ler:
— Sendo a vida
corpórea apenas uma estada temporária neste mundo e devendo o futuro constituir
objeto de nossa principal preocupação, será útil nos esforcemos por adquirir
conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades
materiais?
— Sem dúvida.
Primeiramente, isso vos põe em condições de auxiliar os vossos irmãos; depois,
o vosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência
[...].
Não vou
transcrever toda a resposta, mas vou enviar uma cópia ao amigo beltrano, para
que, já que ele me pôs nessa agradável situação, completar a sábia resposta da
obra citada. Até por que, o prolixo aqui sou eu.
Embora
minha insignificância, casei-me em Barreias, BA, para onde havia sido
transferido do 19º BC, em seguida, viemos para Brasília, onde estamos até hoje.
Sempre estudando e atuando na seara espírita.
Estou
casado há 34 anos, tenho duas filhas casadas e um filho solteiro. Todos
formados na área jurídica e trabalhando no Judiciário. A mais velha já nos deu
dois netos: Mateus, 5 anos; e João, 4 meses. É secretária do
ministro cicrano de tal. A outra, já passou em vários concursos de advocacia,
mas optou pelo cargo de Técnica Judiciária. Assessora um juiz, mas quer também
ser juíza. O caçula, 27 anos, é servidor efetivo da Procuradoria Geral da
União. Exerce o cargo de auxiliar administrativo e assessora o ministro tetrano
de tal.
Como lhe
disse acima, estamos sempre engajados nas atividades espíritas. Minha mulher, é
vice-pres. da Casa X, na área da assistência social e eu sou ou fui
monitor, palestrante, coordenador de palestras, revisor, passista, etc., há aproximadamente 33 anos, na
mesma instituição, que muito contribuiu com nosso crescimento moral e
intelectual.
Apenas, por incrível que pareça, embora os
grandes amigos como vocês, conquistados na convivência da caserna, não me
refiro ali aos 22 anos de vida militar, antes de dar baixa do Exército,
por ter sido aprovado em concurso público em Brasília. Talvez um dia faça um
currículo somente para relatar as incríveis peripécias vivenciadas nos quartéis
e falar sobre os bons amigos, como vocês, ali conquistados.
Quanto ao
mais sobre mim, se não lhe for demais, após tanto falatório, acesse
meu blog. Lá há um pequeno resumo de minha trajetória profissional.
O
endereço do meu blog é o seguinte: jojorgeleite.blogspot.com.br. Nele tenho
postado minhas crônicas semanais, por ora em número de 60, fruto do
grande interesse por Machado de Assis e suas crônicas, adquirido quando
concluí, na UnB, o Mestrado em Literatura.
Será uma
satisfação, caríssimo fulano, saber algo mais, também, da saga de sua trajetória
vivencial. Um pouco dela já me foi informado pelo amigo beltrano. What is he
doing now?
Um grande
abraço do amigo sempre a seu dispor,
Roge Jeteli.
— Quanta
humildade, secretário, queria ser um pouco como você, mas faltou-me falar de
minha vida, quando encarnado na Terra. Vou resumi-la em duas palavras:
Estudei alguns meses em escola pública, vendi doces em frente à escola pública, frequentei diariamente a biblioteca pública do museu nacional, fui auxiliar de tipografia e nada escrevi sobre mim, não havia computador, na época... Apenas li, observei e anotei o que aprendi sobre literatura em 600 crônicas, 200 contos e 10 romances, se se considerar romance Casa velha, segundo John Gledson, além de algumas peças teatrais e críticas literárias. Ah, sim, fui funcionário do Ministério da Agricultura, li e traduzi algumas obras inglesas e francesas, fundei, com amigos cultos, a Academia Brasileira de Letras e fui seu primeiro presidente... Eis tudo!
Estudei alguns meses em escola pública, vendi doces em frente à escola pública, frequentei diariamente a biblioteca pública do museu nacional, fui auxiliar de tipografia e nada escrevi sobre mim, não havia computador, na época... Apenas li, observei e anotei o que aprendi sobre literatura em 600 crônicas, 200 contos e 10 romances, se se considerar romance Casa velha, segundo John Gledson, além de algumas peças teatrais e críticas literárias. Ah, sim, fui funcionário do Ministério da Agricultura, li e traduzi algumas obras inglesas e francesas, fundei, com amigos cultos, a Academia Brasileira de Letras e fui seu primeiro presidente... Eis tudo!
Não sei por
que, até hoje, costumam me chamar de O bruxo do Cosme Velho. O fato é que,
assim como você vem tentando, já escreveram dezenas de livros e de teses sobre
meu trabalho e minha vida. Será porque afirmei que “O trabalho move o mundo”? Não sei...
Mas vamos à
palestra do psiquiatra gaúcho Sérgio, sobre Espiritismo e saúde Mental.
Casa cheia,
o palestrante, sem citar meu nome, lembrou uma frase atribuída aos espíritas, inclusive
por mim, de que “o Espiritismo é uma fábrica de loucos”. Mania, que eu tinha de
“catar o mínimo e o escondido” (11 nov. 1897).
Hoje,
diríamos: Croyez-vous dans l’esprits? Nous aussi...
E o que
disse o psiquiatra espírita, que me fizesse sentir vergonha de minha crônica do
passado? Observe, leitor amigo, que minhas crônicas foram evoluindo, em relação
ao tema; primeiro, critiquei, depois, duvidei, mais adiante, ridicularizei, em
seguida, suspendi o julgamento: “não sei se a doutrina é verdadeira ou falsa”
e, por fim, afirmei crer na nova doutrina. O difícil é saber quando falava sério sobre quaisquer religiões, inclusive sobre a católica, meu berço...
Continuemos com a palestra (Ufa! Até que enfim...).
Continuemos com a palestra (Ufa! Até que enfim...).
Contou-nos
o dr. Sérgio que, na primeira metade do século XIX (meu século), em um hospital
europeu, havia duas alas destinadas ao parto: a primeira com parteiras; a
segunda com obstetras. A morte de bebês e mãe, por febre puerperal, na ala dos
médicos era duas vezes maior do que a havida na das parteiras e ninguém sabia
por quê.
Então, um
renomado médico foi encarregado de pesquisar as causas e propor soluções, pois
não era possível que médicos com experiência de anos de estudo e prática da
medicina fossem desmoralizados, na prática do parto, por simples leigas.
Primeiramente,
esse pesquisador imaginou que o problema poderia estar nos cuidados da retirada
dos bebês, do ventre materno. Recomendou então que se fizesse o procedimento
com mais delicadeza, mas o número de mortes continuava duas vezes maior do que
o das crianças que nasciam vivas e mães sobreviventes pelas mãos das parteiras.
Após outros procedimentos inúteis, trocou de sala: as parteiras passaram a
realizar partos nas salas dos obstetras e estes foram para as salas das
parteiras, levando consigo a mesma quantidade de mortes.
Nessa
época, era comum que os cirurgiões não esterilizassem seus instrumentos
cirúrgicos, pois quanto mais sujos de sangue seus aventais e roupas brancas,
mais se elevava, aos olhos de todos, a competência do médico.
Nosso caro
doutor desconfiou de que o problema estava ali, após observar um cirurgião usar
na dissecação de um cadáver um instrumento com o qual realizaria o parto de uma
mulher, que veio a óbito junto com seu bebê, vítimas da temível febre
puerperal. Preparou, então, uma solução antisséptica para a lavagem do
instrumental cirúrgico e pediu à direção do hospital que exigisse de seus
cirurgiões a troca de roupas e a lavagem, na solução, de todos os instrumentos
utilizados após cada procedimento.
A revolta
foi geral, mas com a firme decisão do diretor hospitalar, todos tiveram que
acatar os procedimentos exigidos, a partir de então.
— Eureka! disse o pesquisador. Desse dia em diante, o número de óbitos de gestantes e bebês passou a ser menor do que o decorrente dos trabalhos das parteiras.
— Eureka! disse o pesquisador. Desse dia em diante, o número de óbitos de gestantes e bebês passou a ser menor do que o decorrente dos trabalhos das parteiras.
Apesar de
tudo isso, a revolta dos médicos dos hospitais de todo o país foi tão grande
que o benfeitor das parturientes e seus bebês foi demitido daquele hospital.
Ele, entretanto, ficou um tanto perturbado e passou a ser considerado louco,
pois sua obsessão pela higiene se tornou tão grande que até mesmo se visse um
casal se beijando, na rua, começava a gritar:
— Lavem suas bocas, se não vocês vão morrer.
Um belo
dia, para provar sua tese, resolver cortar-se com o mesmo bisturi utilizado na
dissecação de um cadáver e, dias após, em consequência disso, morreu.
Poucos anos
depois, Louis Pasteur inventaria o microscópio e descobriria os milhões de
bactérias e outros microorganismos nocivos ao corpo humano. Confirmou, assim, a
teoria do seu incompreendido colega de profissão. A partir de então, os
procedimentos antissépticos salvaram milhões de vidas.
Essa
história foi narrada para nos mostrar como a incredulidade independe dos
conhecimentos científicos de uma época. Quantos médicos não foram surpreendidos
fumando, mesmo após a ciência ter comprovado os malefícios do fumo à saúde
humana? Isso demonstra, simplesmente, que não basta conhecer para se crer.
Se Pasteur
não houvesse inventado o microscópio e nos mostrado a quantidade imensa de
microorganismos que não víamos a olho nu, conclui Kardec, continuaríamos
ignorando a existência dos micróbios. Assim
também, diz ele, ocorre com a obsessão espiritual. Se não fora a revelação dos espíritos
à humanidade, por meio dos médiuns, provavelmente ainda ignoraríamos a enorme
influência dos entes perturbadores sobre toda a humanidade.
Esclarece-nos,
então, o dr. Sérgio, que há dois tipos de religião: a extrínseca e a
intrínseca. Ambas exercem uma influência benéfica sobre o ser humano. A
religião extrínseca tem por base procedimentos exteriores, de adoração a Deus:
medalhas, velas, vestimentas, repetição mecânica de preces, etc. Se a pessoa
crê que, com isso, vai melhorar sua vida, certamente essa melhora virá.
A outra é a
religião intrínseca, baseada na certeza absoluta da imortalidade da alma, na
crença em Deus, na prática consciente da oração e na dedicação incansável ao
bem.
— Onde está
escrita a lei de Deus? Pergunta Kardec.
Respondem os diversos religiosos:
— Na Bíblia.
— No Alcorão.
— No Bagavah Gîta...
Respondem os diversos religiosos:
— Na Bíblia.
— No Alcorão.
— No Bagavah Gîta...
E respondem
os Espíritos superiores:
— Na
consciência.
Esse último tipo
de crença é a espírita.
Vários
benefícios para a saúde humana são proporcionados pela crença no Espiritismo.
Entre eles, citaremos dez:
1º Diminuição dos casos de depressão;
2º Prevenção ao suicídio;
3º Bem-estar mental e físico;
4º Motivação para o aprendizado incessante;
5º Entendimento da finalidade da vida;
6º Convicção sobre a existência de Deus;
7º Certeza sobre a imortalidade da alma;
8º Conhecimento da lei de causa e efeito;
9º Compreensão clara da mensagem de Jesus; e
10º Longevidade da vida física.
Muito mais
falou o psiquiatra espírita, mas se refletirmos apenas nisso, estaremos dando
um grande passo para vivermos com muito mais esperança, fé, dedicação ao bem e aos ideais elevados; coisas que o materialismo não proporciona a
ninguém.
Basta que
se faça uma pesquisa séria e se verá que a maioria dos materialistas têm vida
breve. Salvo aqueles que se dizem ateus, graças a Deus...
Há também
os que se confessam ateus, mas por orgulho e mais por não terem algo melhor
para preencherem o vazio de suas existências do que os prazeres efêmeros,
muitas vezes amaros, do mundo. A todos, o convite está feito: conheça a
Doutrina Espírita! Em vez de loucos, ela faz-nos santos.
Observe,
leitora amiga e amigo leitor, que os dez itens da lista acima são perfeitamente
compatíveis não somente com o Espiritismo, mas também com todas as religiões.
Não é
mesmo, Roge Jeteli?
Boa-noite!
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