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domingo, 4 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 61 (jlo)

            Este meu secretário é mesmo metido a besta. Não passa de um “caniço pensante”, como de resto todo o ser humano, mas pensa que é algo mais. Hoje, falar-vos-ei sobre um tema que interessa a toda a humanidade: Espiritismo e saúde mental. Como subsídio tomo a excelente palestra do dr. Sérgio, psiquiatra espírita gaúcho, que veio do Sul especialmente para nos dar seu brilhante recado ali na Federação Espírita Brasileira, nossa antiga casa, desde que a frequentávamos, no Rio de Janeiro, no século XIX.
            Atualmente, escrever carta, como o fazíamos antes, é pura perda de tempo; época virá que não será preciso teclar e nem mesmo falar, para escrever; pensou, registrou; o virtual será tão real quando este será virtual; quem viver verá.
     Antes do meu recado, vou revelar o nome deste secretário, no início do conteúdo de sua correspondência eletrônica, que furtei e publico abaixo:

E-mail recebido de um amigo meu:
           Beltrano ligou-me agora, dando-me um presente: a possibilidade de entrar em contato com um amigo que nos traz boas lembranças da juventude, Roge Jeteli, o espírita de fé inabalável, crença nos espíritos, na sua orientação e proteção. Soube do seu crescimento intelectual (não foi surpresa) e pessoal. Fale-me de você. Esposa, filhos, trabalho e fé. Esteja à vontade. Sou um bom ouvinte, ou melhor, um bom leitor, embora às vezes seja prolixo na fala e na escrita.
            Abraços, amigo,
            Fulano.

E-mail enviado ao meu amigo:
           Meu caro fulano,
           É impressionante como jamais esquecemos os bons amigos, mesmo os ateus, graças a Deus, rs.
          Há ateus, a bem da verdade, que são mais honestos e sinceros do que milhões de crentes, e não me excluo destes últimos.
        Você foi um dos bons amigos inesquecíveis, como o Raulino, o Erasmo, o Maurício, o Gomes, o Luís... e outros bons companheiros de farda, como nosso irmão de fé, beltrano, esse sim, um homem de bem, como vocês.
         Realmente, nunca me esqueci dos seus conselhos, fulano, que, a bem da verdade, na opacidade mental em que eu vivia, achava engraçados. Afinal, dizia de mim para comigo, no Espiritismo encontro resposta para tudo, mesmo... Será uma perda de tempo estudar outra coisa...
            Depois percebi que não era bem assim, pois os próprios espíritos superiores, na questão 898, proposta por Allan Karde, em O Livro dos Espíritos, recomendam-nos estudar sempre, como se pode ler: 

— Sendo a vida corpórea apenas uma estada temporária neste mundo e devendo o futuro constituir objeto de nossa principal preocupação, será útil nos esforcemos por adquirir conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais?
— Sem dúvida. Primeiramente, isso vos põe em condições de auxiliar os vossos irmãos; depois, o vosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência [...].
            Não vou transcrever toda a resposta, mas vou enviar uma cópia ao amigo beltrano, para que, já que ele me pôs nessa agradável situação, completar a sábia resposta da obra citada. Até por que, o prolixo aqui sou eu.
            Embora minha insignificância, casei-me em Barreias, BA, para onde havia sido transferido do 19º BC, em seguida, viemos para Brasília, onde estamos até hoje. Sempre estudando e atuando na seara espírita. 
            Estou casado há 34 anos, tenho duas filhas casadas e um filho solteiro. Todos formados na área jurídica e trabalhando no Judiciário. A mais velha já nos deu dois netos: Mateus, 5 anos; e  João,  4 meses. É secretária do ministro cicrano de tal. A outra, já passou em vários concursos de advocacia, mas optou pelo cargo de Técnica Judiciária. Assessora um juiz, mas quer também ser juíza. O caçula, 27 anos, é servidor efetivo da Procuradoria Geral da União. Exerce o cargo de auxiliar administrativo e assessora o ministro tetrano de tal.
            Como lhe disse acima, estamos sempre engajados nas atividades espíritas. Minha mulher, é vice-pres. da Casa X, na área da assistência social e eu sou ou fui monitor, palestrante, coordenador de palestras, revisor, passista, etc., há aproximadamente 33 anos, na mesma instituição, que muito contribuiu com nosso crescimento moral e intelectual.
         Apenas, por incrível que pareça, embora os grandes amigos como vocês, conquistados na convivência da caserna, não me refiro ali aos 22 anos de vida militar, antes de dar baixa do Exército, por ter sido aprovado em concurso público em Brasília. Talvez um dia faça um currículo somente para relatar as incríveis peripécias vivenciadas nos quartéis e falar sobre os bons amigos, como vocês, ali conquistados.
            Quanto ao mais sobre mim, se não lhe for demais, após tanto falatório, acesse meu blog. Lá há um pequeno resumo de minha trajetória profissional.
         O endereço do meu blog é o seguinte: jojorgeleite.blogspot.com.br. Nele tenho postado minhas crônicas semanais, por ora em  número de 60, fruto do grande interesse por Machado de Assis e suas crônicas, adquirido quando concluí, na UnB, o Mestrado em Literatura.
            Será uma satisfação, caríssimo fulano, saber algo mais, também, da saga de sua trajetória vivencial. Um pouco dela já me foi informado pelo amigo beltrano. What is he doing now?
            Um grande abraço do amigo sempre a seu dispor,
            Roge Jeteli.

          — Quanta humildade, secretário, queria ser um pouco como você, mas faltou-me falar de minha vida, quando encarnado na Terra. Vou resumi-la em duas palavras:
        Estudei alguns meses em escola pública, vendi doces em frente à escola pública, frequentei diariamente a biblioteca pública do museu nacional, fui auxiliar de tipografia e nada escrevi sobre mim, não havia computador, na época... Apenas li, observei e anotei o que aprendi sobre literatura em 600 crônicas, 200 contos e 10 romances, se se considerar romance Casa velha, segundo John Gledson, além de algumas peças teatrais e críticas literárias. Ah, sim, fui funcionário do Ministério da Agricultura, li e traduzi algumas obras inglesas e francesas, fundei, com amigos cultos, a Academia Brasileira de Letras e fui seu primeiro presidente... Eis tudo!
            Não sei por que, até hoje, costumam me chamar de O bruxo do Cosme Velho. O fato é que, assim como você vem tentando, já escreveram dezenas de livros e de teses sobre meu trabalho e minha vida. Será porque afirmei que “O trabalho move o mundo”?  Não sei...
            Mas vamos à palestra do psiquiatra gaúcho Sérgio, sobre Espiritismo e saúde Mental.
          Casa cheia, o palestrante, sem citar meu nome, lembrou uma frase atribuída aos espíritas, inclusive por mim, de que “o Espiritismo é uma fábrica de loucos”. Mania, que eu tinha de “catar o mínimo e o escondido” (11 nov. 1897).
            Hoje, diríamos: Croyez-vous dans l’esprits? Nous aussi...
         E o que disse o psiquiatra espírita, que me fizesse sentir vergonha de minha crônica do passado? Observe, leitor amigo, que minhas crônicas foram evoluindo, em relação ao tema; primeiro, critiquei, depois, duvidei, mais adiante, ridicularizei, em seguida, suspendi o julgamento: “não sei se a doutrina é verdadeira ou falsa” e, por fim, afirmei crer na nova doutrina. O difícil é saber quando falava sério sobre quaisquer religiões, inclusive sobre a católica, meu berço...
            Continuemos com a palestra (Ufa! Até que enfim...).
        Contou-nos o dr. Sérgio que, na primeira metade do século XIX (meu século), em um hospital europeu, havia duas alas destinadas ao parto: a primeira com parteiras; a segunda com obstetras. A morte de bebês e mãe, por febre puerperal, na ala dos médicos era duas vezes maior do que a havida na das parteiras e ninguém sabia por quê.
            Então, um renomado médico foi encarregado de pesquisar as causas e propor soluções, pois não era possível que médicos com experiência de anos de estudo e prática da medicina fossem desmoralizados, na prática do parto, por simples leigas.
            Primeiramente, esse pesquisador imaginou que o problema poderia estar nos cuidados da retirada dos bebês, do ventre materno. Recomendou então que se fizesse o procedimento com mais delicadeza, mas o número de mortes continuava duas vezes maior do que o das crianças que nasciam vivas e mães sobreviventes pelas mãos das parteiras. Após outros procedimentos inúteis, trocou de sala: as parteiras passaram a realizar partos nas salas dos obstetras e estes foram para as salas das parteiras, levando consigo a mesma quantidade de mortes.
            Nessa época, era comum que os cirurgiões não esterilizassem seus instrumentos cirúrgicos, pois quanto mais sujos de sangue seus aventais e roupas brancas, mais se elevava, aos olhos de todos, a competência do médico.
            Nosso caro doutor desconfiou de que o problema estava ali, após observar um cirurgião usar na dissecação de um cadáver um instrumento com o qual realizaria o parto de uma mulher, que veio a óbito junto com seu bebê, vítimas da temível febre puerperal. Preparou, então, uma solução antisséptica para a lavagem do instrumental cirúrgico e pediu à direção do hospital que exigisse de seus cirurgiões a troca de roupas e a lavagem, na solução, de todos os instrumentos utilizados após cada procedimento.
          A revolta foi geral, mas com a firme decisão do diretor hospitalar, todos tiveram que acatar os procedimentos exigidos, a partir de então. 
             — Eureka! disse o pesquisador. Desse dia em diante, o número de óbitos de gestantes e bebês passou a ser menor do que o decorrente dos trabalhos das parteiras.
            Apesar de tudo isso, a revolta dos médicos dos hospitais de todo o país foi tão grande que o benfeitor das parturientes e seus bebês foi demitido daquele hospital. Ele, entretanto, ficou um tanto perturbado e passou a ser considerado louco, pois sua obsessão pela higiene se tornou tão grande que até mesmo se visse um casal se beijando, na rua, começava a gritar:
             — Lavem suas bocas, se não vocês vão morrer.
            Um belo dia, para provar sua tese, resolver cortar-se com o mesmo bisturi utilizado na dissecação de um cadáver e, dias após, em consequência disso, morreu.
            Poucos anos depois, Louis Pasteur inventaria o microscópio e descobriria os milhões de bactérias e outros microorganismos nocivos ao corpo humano. Confirmou, assim, a teoria do seu incompreendido colega de profissão. A partir de então, os procedimentos antissépticos salvaram milhões de vidas.
        Essa história foi narrada para nos mostrar como a incredulidade independe dos conhecimentos científicos de uma época. Quantos médicos não foram surpreendidos fumando, mesmo após a ciência ter comprovado os malefícios do fumo à saúde humana? Isso demonstra, simplesmente, que não basta conhecer para se crer.
       Se Pasteur não houvesse inventado o microscópio e nos mostrado a quantidade imensa de microorganismos que não víamos a olho nu, conclui Kardec, continuaríamos ignorando a existência dos micróbios. Assim também, diz ele, ocorre com a obsessão espiritual. Se não fora a revelação dos espíritos à humanidade, por meio dos médiuns, provavelmente ainda ignoraríamos a enorme influência dos entes perturbadores sobre toda a humanidade.
            Esclarece-nos, então, o dr. Sérgio, que há dois tipos de religião: a extrínseca e a intrínseca. Ambas exercem uma influência benéfica sobre o ser humano. A religião extrínseca tem por base procedimentos exteriores, de adoração a Deus: medalhas, velas, vestimentas, repetição mecânica de preces, etc. Se a pessoa crê que, com isso, vai melhorar sua vida, certamente essa melhora virá.
            A outra é a religião intrínseca, baseada na certeza absoluta da imortalidade da alma, na crença em Deus, na prática consciente da oração e na dedicação incansável ao bem.
            — Onde está escrita a lei de Deus? Pergunta Kardec.
            Respondem os diversos religiosos:
            — Na Bíblia.
            — No Alcorão.
           — No Bagavah Gîta...
            E respondem os Espíritos superiores:
            — Na consciência.
            Esse último tipo de crença é a espírita.
            Vários benefícios para a saúde humana são proporcionados pela crença no Espiritismo. Entre eles, citaremos dez:
1º Diminuição dos casos de depressão;
2º Prevenção ao suicídio;
3º Bem-estar mental e físico;
4º Motivação para o aprendizado incessante;
5º Entendimento da finalidade da vida;
6º Convicção sobre a existência de Deus;
7º Certeza sobre a imortalidade da alma;
8º Conhecimento da lei de causa e efeito;
9º Compreensão clara da mensagem de Jesus; e
10º Longevidade da vida física.
            Muito mais falou o psiquiatra espírita, mas se refletirmos apenas nisso, estaremos dando um grande passo para vivermos com muito mais esperança, fé, dedicação ao bem e aos ideais elevados; coisas que o materialismo não proporciona a ninguém.
            Basta que se faça uma pesquisa séria e se verá que a maioria dos materialistas têm vida breve. Salvo aqueles que se dizem ateus, graças a Deus...
         Há também os que se confessam ateus, mas por orgulho e mais por não terem algo melhor para preencherem o vazio de suas existências do que os prazeres efêmeros, muitas vezes amaros, do mundo. A todos, o convite está feito: conheça a Doutrina Espírita! Em vez de loucos, ela faz-nos santos.
           Observe, leitora amiga e amigo leitor, que os dez itens da lista acima são perfeitamente compatíveis não somente com o Espiritismo, mas também com todas as religiões.
            Não é mesmo, Roge Jeteli?
            Boa-noite!

            

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