Em dia com o Machado 82 (jlo)
Este é um dia especial, é Natal e,
como tal, todos os peitos palpitam de emoções, os abraços efusivos são
constantes, juntamente com os votos de felicidade, saúde, paz e prosperidade, principalmente
monetária, pois, se o dinheiro não lhe traz felicidade, amigo leitor,
deposite-o em minha conta e seja feliz.
Rebusquei
meus textos sobre a data e trago-lhe as duas únicas flores, dentre meus poemas
e crônicas, que fiz desabrochar nesta data tão metafísica quanto os restos
arrancados da terra que nos viu passar unidos, eu e Carolina.
Uma dessas
pétalas raras em minha produção literária intitulei:
Soneto
de Natal
Um HOMEM, — era
aquela noite amiga,
Noite cristã, berço
do Nazareno, —
Ao relembrar os
dias de pequeno,
E a viva dança, e a
lépida cantiga,
Quis transportar ao
verso doce e ameno
As sensações da sua
idade antiga,
Naquela mesma velha
noite amiga,
Noite cristã, berço
do Nazareno.
Escolheu o soneto...
A folha branca
Pede-lhe a
inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao
gesto seu.
E, em vão lutando
contra o metro adverso,
Só lhe saiu este
pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou
mudei eu?”
(ASSIS, Machado.
Ocidentais (1879). In: ______. Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro:
José Aguilar, 1973, p. 167.)
Esse único
soneto, que dediquei, segundo Manuel Bandeira (op. cit., p. 14) à “melancolia
de não encontrar mais, numa noite de Natal, as sensações da idade antiga”, tornou-se profético. Atualmente, o espírito natalino é substituído pelo
excessivo consumo de bebidas alcoólicas e comilanças. Poucas famílias
lembram-se de buscar a presença do aniversariante em sincera oração de
agradecimento por sua incomparável exemplificação do amor entre nós.
À atual Sociedade
protetora dos animais, faço um apelo para que oremos também em prol da alma de
um leitão que foi sacrificado, no Natal citado em minha crônica publicada no
periódico A Semana de 1893; ou seja, há exatos 120 anos. Mas o que são 120
anos, senão, por vezes, o tempo entre uma e outra reencarnação?
É bem
verdade que alguns espíritos, como o meu, costumam ficar séculos ou milênios
nesta outra dimensão da vida, observando e interferindo no orbe terrestre,
buscando aperfeiçoá-lo; mas somos minoria. Talvez uns 0,00001% de toda a
população terráquea atual.
Que mais
dizer do leitão? Triste leitão, pobre leitor. Se desejar ler mais sobre o
assunto, clique em www.dominiopublico.gov.br
e leia, na íntegra, a crônica citada. Afianço-lhe, de antemão, amiga leitora,
que, de tudo o que ali está, sobrou apenas esse parágrafo, que não vou
reproduzir para não lhe tirar da língua o gosto do pernil.
O fato é
que de tanto comerem leitão e peru no Natal, essa pobre ave nem ao menos
comemora o dia do advento do Senhor. Morre na véspera.
Não sejamos
perus, amigos; ante os desafios da vida, ainda que venhamos a perecer, que o
seja durante o combate.
Mas que também
tenho um grande dó do peru, lá isso tenho. Pobre peru, triste ser penado.
É um dó que
dá cada pena ou cada pena de dar um dó? Você decide...
Enfim... que
o Natal nos traga a doce reflexão sobre a vida do Cristo, que trouxe consigo a “mensagem
da verdadeira fraternidade e, revelando-a, transitou vitorioso, do berço de
palha ao madeiro sanguinolento”.
Concluamos,
pois, com a continuação desta mensagem de meu amigo Emmanuel:
Irmão, que ouves no
Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos, recorda que o Mestre veio
até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal! Boa-Nova!
Boa-Vontade!...
Estendamos a simpatia
para com todos e comecemos a viver realmente com Jesus, sob os esplendores de
um novo dia. (XAVIER, F. C. Fonte viva. Ed. FEB.)
Feliz
Natal, amigo, e não se esqueça de que cerveja cria pança; cuidado para não
engordar, amiga... E que o espírito da tolerância, a fraternidade e o amor do
Cristo possam nos tornar melhores e saudáveis, desde já.
Nenhum comentário:
Postar um comentário