Em dia com o Machado 79
(jlo)
Quando
Joteli fora militar — me informa ele —, certa ocasião, o capitão comandante de
sua unidade foi substituído por um major gaúcho, com o qual Joteli, seu
soldado, se comunicara pelo serviço de rádio-operação entre os dois Rios: o de
Janeiro e o Grande do Sul. Na época, o soldado Joteli era o único com tal
graduação na escala de rádio-operadores do seu quartel do Rio de Janeiro. Os
demais eram cabos e sargentos. Mas isso são detalhes que só exaltam o ego de
quem não conhece a frase crística: “Aquele que se exaltar será rebaixado,
aquele que se rebaixar será exaltado”.
— Como ser
rebaixado, se, sendo soldado, embora tendo sido aprovado em primeiro lugar no
curso para cabos, na chamada QM 11-074, rádio-operador, não me promoveram?
Protesta meu inútil secretário.
— Deixemos isso para lá, meu caro, e
continuemos o relato desta crônica. O fato é que o novo comandante, que, a
distância, conversara amigavelmente com seu soldado, passados alguns dias,
viajou do Rio gaúcho para o carioca e assumiu o comando do quartel.
No primeiro
dia de seu posto, na unidade militar, o major reuniu a tropa a seu comando e
deu-lhe uma chamada “ordem unida”. Pôs os comandados na posição de sentido e ordenou:
—
Companhia, sentido! Ordinário, marche! (Juro que senti vontade de usar a
segunda frase no plural, mas em respeito a Joteli me contive.)
— E lá
fomos nós — diz Joteli, que também estava em forma. Logo em seguida, veio nova
ordem:
— Direção à
direita, marche. E todo o pelotão se dirigiu à direita. Entretanto, seja pelo
nervosismo em comandar sua companhia no primeiro dia, seja por ter simplesmente
esquecido da mandar seguir em frente, todos ficamos marchando na direção
ordenada, mas em círculo...
Ninguém se
atreveu a rir da ordem do comandante, quando ele ordenou, após, perplexo,
observar a companhia dar sete voltas no mesmo lugar:
— Pelotão,
alto.
Sem
qualquer crítica a seus comandados, o simpático major mandou que ficássemos à
vontade e, com breves palavras, falou da sua satisfação em assumir o comando da
1ª Companhia de Comunicação Blindada.
Se isso
tivesse ocorrido com um subordinado, dir-se-ia que este “enfiou o pé na jaca”,
não é mesmo, amiga leitora? Ou não? Ah, não? Também os chefes “enfiam o pé na
jaca”? Vai falar isso para o major, leitor, pra ver se ele não te enfia é o pé
na...?
— Mas,
Joteli, por que ninguém, antes, avisou ao homem de que ele precisava dar nova
ordem, para que a tropa não bancasse o caracol?
— E o medo?
Afinal, o homem era nosso comandante e o regulamento era rigoroso: “somente não
se executam ordem absurdas”.
— E o que
ele ordenou não era absurdo?
— Absurdo,
não. Ridículo. E quem garante que ele não estaria testando a tropa para ver até
que ponto seus subordinados lhe eram obedientes?
Na vida
profissional, concordo com meu secretário, o bom empregado jamais deve deixar
seu chefe de “calças curtas”. Afinal, como se diz há algum tempo, neste país,
“manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Porém será mesmo assim?
Há certos
comportamentos profissionais que depõem contra o subordinado e mostram
claramente o tipo de pessoa que se é. Outros, já escancaram o mau caráter e
predileção injustificável do chefe. Uma dessas atitudes é a do chamado
puxa-saco, que tanto pode agradar como desagradar a chefia. Exemplifiquemos.
Nas
comemorações de “amigo oculto”, nos finais de ano, por exemplo, o melhor
presente é sempre o que é dado à chefia. E nem é preciso ser bajulador para
isso. É atitude normal, e mesmo de preservação ou melhoria do conceito para com
a diretoria. O problema é quando isso se torna corriqueiro, por parte de um/a
empregado/a...
O ideal,
nas confraternizações de fim de ano, é que se estipule um valor mínimo e outro
máximo do presente a ser dado, além de se propor uma relação com as opções
possíveis; assim, ninguém poderá desconfiar de nosso presente à chefia. A não
ser que o “felizardo” amigo da diretora, num “estudo de caso”, se resolva a
sair com esta:
— Chefa,
foi combinado que o presente de amiga oculta seria de cinquenta reais, mas como
nossa empresa duplicou seu faturamento este ano, graças à sua excelente atuação,
inteligência extraordinária e competência inigualável, resolvi, infringir a
norma e lhe ofertar este belo colar de pérolas, que pertenceu à minha bisavó,
cujo valor é inestimável. Calculo que custe por volta de três mil reais, mas
você (Olha a intimidade!) merece muito mais...
A isso, a
chefa e suas colegas não terão outras reações senão estas:
— Oh!
— Uh!
— Ai!
— Carácolis!
E não
faltará quem, mordendo o lábio, diga, baixinho: — Puxa-saco sem-vergonha...
Outras
vezes, é a chefia que importuna o/a empregado/a. Certa vez, li uma piada em que
o gerente dizia para a lindíssima secretária, recém-contratada, enquanto esta
digitava um documento:
— Muito
bem, só dois errinhos. Agora vamos à segunda palavra...
Para evitar
tais constrangimentos, resolvi publicar um decálogo de ética, na relação com os
colegas de trabalho, clientes, fornecedores e chefia de sua instituição ou empresa:
1º Mandamento: não atacarás, falsa ou maliciosamente, a
reputação profissional de teu colega ou chefe.
2º Mandamento: não assediarás sexualmente teu colega de
trabalho, subordinado ou chefe.
3º Mandamento: não agirás de modo desleal ou descortês com teu
chefe, colegas, clientes e fornecedores de tua empresa ou instituição.
4º Mandamento: não desrespeitarás os direitos autorais do
teu próximo (Lei nº 9.610/1998).
5º Mandamento: não depreciarás a honra, a dignidade e a
integridade moral ou física de teu colega ou categoria profissional.
6º Mandamento: não deixarás de cumprir os prazos estipulados
por tua chefia, assim como a recíproca é verdadeira, principalmente nos acordos
coletivos ou não de trabalho.
7º Mandamento: não serás individualista; lembra-te de que o
trabalho em equipe é essencial ao sucesso de tua empresa ou instituição.
8º Mandamento: não serás o do contra com expressões como: —
Isto não vai dar certo. — Não concordo com mudanças. Etc. etc. etc.
9º Mandamento: não serás egocêntrico; todos têm o direito de
ter seu trabalho reconhecido.
10º Mandamento: aprenderás a conviver, amar e servir a
todos, sem distinção de classe social, etnia, ideologia, sexo ou credo.
— Então,
meu caro, nem sempre o bom amigo é o que sempre elogia. Ou não conheces o
ditado que diz: Quem avisa amigo é?
Leia o livro: PAROLIN, Sonia Regina Hierro; MORAES, Helder
Boska de; PONTES, Reinaldo Nobre. Organizadores. Conviver para amar e sevir (baseado
em Mário da Costa Barbosa). Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013.
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