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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Em dia com o Machado 78 (jlo)

            Hoje, acordei cantando a Canção do exílio, de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, antes do terrível acidente náutico, em sua volta ao Brasil, que o retirou de entre os mortos.
             Acredito que muitos políticos atuais, na Terra de Santa Cruz, almejam ter um destino apoteótico como o do nosso grande poeta. Não o do naufrágio, naturalmente... Enquanto isso não é possível, barganham algumas benesses políticas em troca de favores escusos, quando a mão pesada da justiça se abate sobre eles.
            Tomei meu breakfast, saí à rua e encontrei meu fiel secretário. Então, para não perder o hábito, perguntei-lhe:
            — Que há de novo, Joteli?
        — A prisão dos Zés, os “primeiros presos políticos em pleno estado democrático de direito”, segundo eles se intitulam.
            — E de que os acusam?
            — Intrigas políticas, meu caro Machado, intrigas com cara de revanchismo militar. Naquele tempo, o primeiro Zé foi preso, levou choques, fez diversas plásticas faciais, saiu do Brasil e, saídos de cena os milicos, voltou com tudo na política.
            — Esse cara é Dirceu.
            — Exatamente...
            — E o segundo, Zé, meu caro secretário para assuntos alheios e notórios?
            — Esse tentou umas incursões guerrilheiras, antes da tomada do governo pelos cidadãos fardados, e também vazou, quando viu as coisas pretas, após ser preso e ter ficado chocado. Depois retornou, como o anterior, e foi ser líder político.
            — Esse cara é Genoíno.
            — Sim, senhor, é tão genuíno que pleiteou o privilégio de ficar preso em tratamento na casa da filha. O que vem sendo contestado pelos outros 7.682 presos da Papuda. Alega problemas cardíacos...
            — Informaram-me que o Delúbio está na mesma cela que eles.
          — Pois é, Machado, os três estão juntos: o primeiro foi ministro-chefe da Casa Civil indicado pelo PT; o outro foi presidente do PT; e o terceiro foi tesoureiro desse mesmo partido. Nada mais justo que juntá-los, né?
            — Ah, sei... Prisão de político é outra coisa... Mas o que há de novo, Joteli?
       — O Genoíno conseguiu a autorização para ficar preso na casa da filha, enquanto estiver em tratamento, mas a junta médica designada para avaliar sua saúde atestou que seu caso não é grave.
            — E o que mais há de novo?
            — O outro Zé, o Dirceu, quer cumprir a pena trabalhando num hotel de prédio situado próximo da Esplanada dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional... Só ainda não sei o que fará com o salário de vinte mil reais...
            — Ah, sei... E o que mais há de novo?
            — O Papa Francisco está propondo uma reforma profunda na Igreja.
            — E ele aceita sugestões, Joteli?
            — É o que dizem...
        — Então sugiro-lhe que a Igreja continue intervindo, perante Deus, em benefício dos pobres e marginalizados, como, por exemplo, desses 7.682 presos da Papuda. Quem sabe se, com as preces do santo Papa, eles não conseguem um emprego nos hotéis da Esplanada?
            — E se eles resolverem fugir e assaltar os cidadãos incautos, Machado?
            — Eles estarão seguros, se trabalharem perto dos políticos. O Dirceu não estará ali também?
            — Sabe que nem tinha pensado nisso?
            — Comamos, então, uma pizza à bolonhesa.

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